Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: ISABELLA TAVIANI

CD: “MEU CORAÇÃO NÃO QUER VIVER BATENDO DEVAGAR”

Selo: UNIVERSAL

 

A vida é cercada de muitos fatos sem explicação. Isso se estende, logicamente, ao campo das artes onde nem sempre o sucesso alcançado por um artista tem muita razão de ser. Há vários sem grandes atrativos que terminam ganhando uma projeção inimaginável. Outros, por seu lado, são (por razões diversas e nem sempre explicáveis) estigmatizados e por mais que façam, sempre são vistos com uma certa reserva. Este parece ser o caso de Isabella Taviani, cantora carioca de recursos vocais inquestionáveis. Também compositora, ela vem mostrando ter real tino para a coisa, tanto que chega ao seu quarto CD baseando suas criações em temas geralmente voltados para as aventuras e desventuras amorosas, mas tem conseguido, ao menos até agora, não se repetir.

É claro que, quando qualquer pessoa escreve suas impressões sobre um trabalho artístico, mesmo de maneira inconsciente suas predileções e gostos pessoais terminam por aflorar e influenciam no resultado apresentado. Um bom analista é aquele que consegue saber duelar com isso de forma racional e tentar ser o mais imparcial possível. Tarefa hercúlea que não deve ser esquecida. Escrevo estas linhas para chegar a “Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar”, novo trabalho de Isabella que, lançado há poucos dias, vem sendo recebido pela chamada mídia especializada com muito menos entusiasmo do que, de fato, merece.

Isabella surgiu no mercado fonográfico brasileiro depois do estouro de Ana Carolina e, por conta de um timbre parecido (talvez em alguns momentos iniciais até de maneira proposital), sempre teve sua obra comparada à da mineira. De fato, ambas possuem vozeirões do tipo grave e se arriscam em interpretações arrebatadoras que, algumas vezes, beiram o exagero. Só que, às vezes, pode acontecer de a criatura suplantar o criador e – embora saiba que estou a comprar brigas – me parece mesmo que, de uns tempos para cá, os trabalhos de Isabella estão a superar os de Ana – coisa ainda impensável para a maioria dos entendidos.

No novo álbum, um lançamento da gravadora Universal e produzido por Rodrigo Campello e Jr Tostoi, a artista apresenta quatorze faixas, treze delas assinadas por ela própria, a maior parte ao lado de parceiros (a única exceção é a inclusão, como faixa bônus, da boa releitura de “Sob Medida”, de Chico Buarque, gravada para a trilha sonora da recém-finda “Caminho das Índias”). Frise-se que quase todas as canções se revelam de qualidade bem superior ao que vem sendo apresentado por aí em nichos análogos. Na faixa-título que abre o disco o ouvinte se depreende com uma interessante melodia que pesca elementos do tango e se torna facilmente assimilável. Em seguida, “Presente-Passado” (a primeira música de trabalho que já toca nas rádios) mostra um amadurecimento da intérprete que se esquece das tintas carregadas, mostrando-se integrada à melancolia expressa nos versos.

Isabella aproveita para abrir o leque de colaboradores, apresentando parcerias com Zélia Duncan (também presente nos vocais da interessante balada “Arranjo” – Toni Platão é o outro convidado, adequado em “Um Vendaval”), Dudu Falcão (a mediana “Eu Não Moro na Sua Vida”) e Jorge Vercillo (a bela “Argumentos de Vidro”, um dos destaques). Zélia e Vercillo também se uniram a Isabella na composição de “Depois da Chuva”. Entre os melhores momentos estão a delicada “Borboletas e Risos”, a contundente “Todos os Tempos do Mundo” e a flamenca “Escorpião”.

Enfim, Isabella Taviani fez um disco bonito, sim! Problema dos que não quiserem reconhecer. E artisticamente vem crescendo de forma considerável. Que assim continue e que o publico – que é, na verdade, quem importa – saiba reconhecer isso. Ouça sem preconceito!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: KLEBER ALBUQUERQUE

CD: “SÓ O AMOR CONSTROI”

Selo: SETE SÓIS

 

Natural de Santo André (SP), o cantor e compositor Kleber Albuquerque estreou no mercado fonográfico nacional em 1997 com o ótimo CD “17.777.700”. De lá para cá, já lançou outros quatro álbuns (“Para a Inveja dos Tristes”, em 2000, “Faça Virar Música”, em 2003, “O Centro Está em Todas as Partes”, em 2005, e “Desvio”, em 2006), além de ter participado do disco coletivo “UmdoUmdoUm” (em 2001), ao lado de Luiz Gayotto, Madan e Élio Camalle. Possui canções de sua autoria gravadas por Eliana Printes, Márcia Castro, Ceumar, Rubi e Di Mostacatto, entre outros, além de ser parceiro de gente do quilate de Chico César, Zeca Baleiro e Fred Martins.

Pelo resumo acima exposto, dá para o leitor que porventura ainda não conheça a obra de Kleber constatar que se trata de um artista que vem batalhando com vontade e talento para garantir o seu lugar ao sol. De fato, enquanto compositor, Kleber se mostra bastante inspirado. Suas criações, várias delas feitas somente por ele, se mostram antenadas com as expectativas do mundo atual. Plural, passeia por temas contemporâneos, geralmente expostos com inteligência e criatividade ímpares e, quando resvala para a seara romântica, sempre faz surgir uma nova carta na manga, fugindo com maestria dos cômodos lugares comuns. Suas melodias passeiam pelos mais diversos gêneros e é essa multiplicidade que faz dele um compositor que merece ser observado. É decerto um dos grandes nomes de hoje e, não estivesse o mercado atual tão inflado de lançamentos que dificultam a seleção entre o joio e o trigo, ele já teria conseguido a projeção a que faz jus. Como cantor, possui uma forma toda própria de expressar seus sentimentos. Seu timbre peculiaríssimo é bem exótico (não há como negar), mas soa muito agradável aos ouvidos. Sabe dosar as emoções corretas e as canções lhe saem da garganta como amigas íntimas, o que lhe confere projeções de um intérprete bastante interessante.

É esse admirável artista que acaba de lançar mais um CD, o quinto de sua carreira solo, o qual chega às lojas através do selo Sete Sóis. Intitulado “Só o Amor Constrói”, o álbum tem os créditos de capa divididos com a Miniorquestra de Polkapunk, formada pelos músicos André Bedurê (baixo), Estevan Sinkovitz (guitarra e bandolim), Gustavo Souza (bateria) e Paulo Souza (serrote) e é composto por quinze faixas. Delas somente “Esquadros”, se faz de autoria alheia: é da lavra de Adriana Calcanhotto. As demais são fruto de observações cotidianas e vivências próprias. Além dos já citados Chico, Baleiro, Fred e Camalle, há ainda parcerias com os menos conhecidos Adolar Marin, Isac Ruiz, Rafael Altério e Danilo Moraes e do repertório consta até um poema de Hilda Hilst, musicado com delicadeza por Kléber, sempre afeto a essas façanhas.

Temas como a solidão e a libertação são abordados na faixa-título e em “Já Não Tenho Medo”, ambas contando com declamações feitas por André Sant’anna. E se há samba com guitarra e acordeão para ressaltar a vida sofrida do trabalhador (“Seis Horas”), a batida do reggae serve para questionar o consumismo e a passividade dos tempos hodiernos (“Tevê”). Porém, o melhor momento desse bem-vindo disco é, de longe, a canção “Por um Triz” onde a conjunção entre a melodia e a letra ocorre de forma irrepreensível. Mas há também outros destaques como a bonita “Logradouro”, o delicioso rock “Sete Faces” e a inspirada “Dia de Estrelas”, música envolvente emoldurada por poesia de fina estipe. Fred Martins é o convidado especial da faixa “O Outro Eu”, a qual retrata a dualidade do ser humano, e Renato Braz surge como a voz solo de “Cala Frio” onde a personagem deixa passar a vida sem saber segurar as chances oferecidas.

Kleber Albuquerque lança um ótimo CD que deve ser conhecido por todos os amantes da melhor música brasileira da atualidade. Corra e ouça!

 

 

N O V I D A D E S

 

 

·                     A cantora Ana Lee lança, através da gravadora Lua Music, o seu segundo CD. Intitulado “Minha Ciranda”, o álbum traz dezenove faixas, a maioria delas assinada pela própria artista, que estreia como compositora, ao lado de parceiros. Ana tem voz bonita e aveludada (cujo timbre remete ao de Marisa Monte) e se mostra à vontade nas releituras de “O Amor e a Rosa” (de Antônio Maria e Pernambuco) e “Nós Nos Amaremos” (de Guarabyra). Na seara autoral, os destaques ficam por conta de “Tupi Tu És” e “Esses Tempos”. Outros bons momentos são “Estudo Sobre Caymmi” (de Walter Garcia) e a faixa-título (de Ozias Stafuzza).

 

·                     Além das trilhas sonoras nacional e internacional, ambas já nas lojas, a gravadora Som Livre acaba de disponibilizar também o volume instrumental da telenovela global “Caras & Bocas”. São quatorze temas, todos de autoria de Mu Carvalho, ex-integrante da lendária banda A Cor do Som. Algumas das canções, tais como “Na Galeria”, “Caretas 1” e “Caretas 2”, são reconhecíveis de imediato pelos ouvintes, pois tocam diariamente durante o desenrolar da trama.

 

·                     Gravado ao vivo durante apresentação do show “América Brasil” em junho passado no Citibank Hall, em São Paulo, chega às lojas o novo projeto de Seu Jorge nos formatos CD e DVD. Vem puxado pela faixa “Pessoal Particular” (a única canção inédita do repertório e que já toca maciçamente nas rádios) e conta com as participações das filhas do artista, Luz e Flor.

 

·                     Acaba de chegar ao mercado, através da gravadora Dabliú e em elegante embalagem única, o CD e DVD “De Bem com a Vida”, no qual o pianista e compositor Alberto Rosenblit apresenta vários temas autorais. O projeto conta com as presenças iluminadas de Ivan Lins, Zélia Duncan, Ney Matogrosso, Leila Pinheiro, Joyce, Zé Renato e Lenine.

 

·                     O CD “Dionne Warwick & Amigos” contará com as participações de grandes nomes do cenário musical brasileiro, a exemplo de Gal Costa, Gilberto Gil, Simone, Ivan Lins, Emílio Santiago e Jorge Ben Jor. Sairá também em formato DVD, mas só chegará ao mercado em 2010.

 

·                     Celso Fonseca realizou, no mês passado, show na casa Estrela da Lapa, no Rio de Janeiro, o qual, devidamente registrado, servirá de base para o seu segundo DVD que deverá chegar às lojas ainda este ano. O repertório trará canções de compositores que o artista admira, tais como Tom Jobim, Chico Buarque, Erasmo Carlos e Baden Powell.

 

·                     Francis Hime recentemente completou setenta anos e para marcar as comemorações estará lançando em breve, através da gravadora Biscoito Fino, um álbum duplo intitulado “O Tempo das Palavras… Imagem”. Um dos CD’s traz um repertório prioritariamente inédito, com novas parcerias de Francis com Joyce, Moska e Paulo César Pinheiro. O outro é instrumental de piano solo e condensa músicas criadas para trilhas de cinema.

 

·                     O pernambucano Maciel Melo, autor de sucessos nas vozes de Fagner e Elba Ramalho (“Caboclo Sonhador” e “Pra Ninar Meu Coração”, respectivamente) acaba de lançar, de maneira independente, seu novo CD intitulado “Sem Ouro e Sem Mágoa”. Produzido pelo próprio artista, o trabalho traz dezessete faixas, a maioria delas assinada por ele ao lado de parceiros como Ananias Júnior, Teca Calazans, Geraldo Maia, Genaro e outros. Entre xotes, xaxados e baiões, Maciel mostra seu talento nordestino ao lado de convidados especiais (Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos, Jorge de Altinho e Silvério Pessoa estão entre eles). Os destaques ficam por conta das faixas “Pelos Cantos da Casa”, “Não é Brincadeira”, “Bolero de Izabel” e “Cores e Tons”.

 

·                     Incansável, Ana Carolina já trabalha em seu próximo DVD que deverá aportar nas lojas até dezembro. O trabalho deverá vender bastante até porque vai contar com a adesão de vários convidados especiais, a exemplo de Maria Bethânia, Gilberto Gil, Maria Gadú, Roberta Sá, Seu Jorge, John Legend, Chiara Civello, Zizi Possi, Antonio Villeroy e Esperanza Spalding. Um verdadeiro timaço!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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