MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Artista: KIKO DINUCCI

CD: “NA BOCA DOS OUTROS”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

A música popular brasileira reserva, de vez em quando, ótimas surpresas para aquelas pessoas que se permitem fugir do óbvio que ora permeia as programações das rádios e televisões e pesquisam lançamentos em sites ou nas poucas lojas especializadas. Uma delas diz respeito a um artista nascido em São Paulo chamado Kiko Dinucci que, através de suas composições, mostra-se portador de um talento especial, o qual vem sendo burilado ao longo dos anos. Assumidamente influenciado por compositores que vão de Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini, dois ícones do samba paulista, até os mais contemporâneos Itamar Assumpção e Luiz Tatit, Kiko compõe de forma plural e é comum lhe saírem da cabeça jongos, lundus, boleros, modas de viola e cirandas, entre vários outros gêneros musicais.

Criado em Guarulhos, Kiko foi guitarrista de uma das mais importantes bandas de hardcore paulista dos anos noventa,  o Personal Choice, tendo também passado por grupos menos conhecidos como o Electric Sickness e o Nitrate Kid. Hoje em dia, decerto que pouco lhe restou dessas pegadas roqueiras, a não ser uma visceralidade característica que confere às suas criações um sabor de novidade. Atualmente, esse artista camaleônico forma ainda com Douglas Germano o Duo Moviola e integra o Bando AfroMacarrônico. E foi ao lado da cantora Juçara Marçal que ele lançou, em 2008, o elogiado disco “Padê”, uma verdadeira macumba sonora, feita com elementos da herança africana com batuques do candomblé e da umbanda. Além de compositor, Kiko é músico (um exímio violonista), documentarista e trabalha como artista plástico, desenvolvendo trabalhos em gravuras, desenhos e pinturas.

Essa introdução toda é para chegar ao fato de que acaba de chegar às lojas, de maneira independente, o CD “Na Boca dos Outros” através do qual o público mais antenado poderá conhecer quatorze canções criadas por Kiko, algumas delas ao lado de parceiros, tais como Jonathan Silva, Thiago França, Rodrigo Brandão, Lurdez da Luz, Vanderlei Mazzucatto, Carlos Zimbher e o já citado Douglas Germano.

As faixas são interpretadas por vários artistas, a maioria ainda pouco conhecida pela grande mídia institucionalizada. Mas há exceções: uma delas é a grande sambista Fabiana Cozza que põe sua voz poderosa e afinada a serviço de “Ciranda para Janaína”, canção brejeira que abre com chave-de-ouro o trabalho, credenciando-se como um dos seus pontos altos. Outra é a conterrânea Suzana Salles que comparece de forma segura na quase experimental “Balão de Noivado”. Já Marcelo Pretto, intérprete correto que sempre faz a diferença, é o único que aparece em dose dupla: tanto na inspirada “Anjo Protetor” (outro momento delicioso) como na complexa tessitura melódica criada para “Forró do Homem-Bomba”.

Embora Kiko venha sendo rotulado como sambista (e aí não é demérito algum – muito pelo contrário), o fato é que, mesmo mergulhando com talento nessa seara (para se comprovar isso, basta que se ouçam, por exemplo, as faixas “Depressão Periférica”, com Maurício Pereira, e “Vila Esperança”, com Fernando Szegeri), ele sabe se fazer diversificado, tanto que, nesse disco recém-lançado, se arriscou até em searas díspares como o rap (em “Pobre Star”, com o Mamelo Sound System) e o trabalho de ambiência vocal (em “Agenda”, com o Vésper Vocal).

Como outros destaques do repertório, não dá para deixar de citar a novelesca “Partida em Arujá” (com a supramencionada Juçara Marçal), a pseudo-religiosa “Bom Jesus das Cabeças” (com a bem-vinda presença nordestina de Alessandra Leão) e a contundente “Bala de Prata” (esta numa excepcional interpretação do cantor Sapopemba).

Dino Dinucci é nome que merece ser observado e seu novo CD deve se fazer conhecido, posto que prenuncia uma carreira vitoriosa. Corra e ouça!  

 

 

N O V I D A D E S

 

· Cantora em ascensão no mercado fonográfico nacional, tanto que foi convidada para participar do especial “Emoções Sertanejas” (que recentemente homenageou os cinquenta anos de carreira de Roberto Carlos), no qual interpretou a canção “Caminhoneiro”, ao lado de Dominguinhos, Paula Fernandes é a voz que se ouve na abertura de “Escrito nas Estrelas”, a nova telenovela global das dezoito horas. O tema é a releitura da música “Quando a Chuva Passar”, balada de autoria de Ramón Cruz, a qual foi gravada originalmente por Ivete Sangalo em 2005 no álbum “As Super Novas”.

 

· Falando no Rei, embora abalado com o recente falecimento de sua genitora, a querida Lady Laura, já se sabe que o CD duplo contendo o registro ao vivo do show acima citado, o qual contou com a participação de diversas duplas sertanejas, além de Roberta Miranda, Leonardo, Daniel, Elba Ramalho e Martinha, chegará às lojas no comecinho do mês de maio. É claro que isso por conta da estratégia de marketing da gravadora a fim de pegar carona nas vendas relativas ao Dia das Mães. O DVD correlato deverá sair quase que concomitantemente.

 

· O sambista Arlindo Cruz promete ainda para este ano o lançamento de um novo CD contendo repertório eminentemente inédito. Já está confirmada a inclusão da música “Oferendas”, nova parceria dele com a cantora Teresa Cristina.

 

· O CD tributo em que Leila Pinheiro homenageará Renato Russo já tem título definitivo (“Meu Segredo Mais Sincero”) e chegará ao mercado ainda neste primeiro semestre. O repertório é composto, em sua maior parte, por grandes sucessos da banda Legião Urbana, tais como “Ainda é Cedo”, “Pais e Filhos”, “Daniel na Cova dos Leões”, “Há Tempos” e “Quando Você Voltar”.

 

· “Tum Tum Tum”, o primeiro CD de Déa Trancoso, foi efetivamente lançado em 2006, quando, inclusive, concorreu ao Prêmio Tim de Música. Bastante elogiado pela crítica especializada, o trabalho volta ao catálogo, agora chancelado pela gravadora Biscoito Fino. Resultado de anos de pesquisa da artista sobre a cultura musical do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, o álbum é um belo mosaico sonoro que reúne congo, coco e lundu, entre outros ritmos eminentemente regionais.

 

· É também através da gravadora Biscoito Fino que chegará brevemente às lojas o CD em que a harpista Cristina Braga inova ao fazer conexões com nomes do universo pop nacional. Além de regravações de obras de Waldir Azevedo (“Brasileirinho”) e Tom Jobim com Vinicius de Moraes (“Insensatez”), o álbum trará novos temas assinados por Luiz Capucho, Moacyr Luz e Jorge Mautner.

 

· Depois de quase gravar o seu novo DVD aqui em Aracaju, no Teatro Tobias Barreto (onde recentemente se apresentou), a cantora Simone o concretizou mesmo no Teatro Guararapes, situado no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. O repertório de “Em Boa Companhia” (o título do projeto) é inteiramente calcado em seu último álbum, o bom “Na Veia”, mas a altaneira intérprete adicionou algumas releituras de temas já bastante conhecidos, a exemplo de “Nada por Mim” (de Herbert Vianna e Paula Toller), “Ive Brussel” (de Jorge Ben Jor) e “Fullgás” (de Marina Lima e Antônio Cícero). Chegará às lojas até o final do ano.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br   

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