Cantora: MARIENE DE CASTRO

CD: “SANTO DE CASA – AO VIVO”

Gravadora: UNIVERSAL

O primeiro sonho da cantora baiana Mariene de Castro era ser bailarina, tanto que começou a estudar balé aos cinco anos de idade. No entanto, o fato de a música ser uma constante em seu ambiente familiar terminou empurrando-a, ainda na mais tenra adolescência, para a aprendizagem de violão e canto. Descobriu, então, que sua voz se enquadrava na categoria contralto, o que de certa forma a diferenciava da maioria das cantantes de sua terra.

Profissionalmente, ela começou sua carreira como vocal de apoio para conterrâneos famosos, a exemplo de Carlinhos Brown e Márcia Freire, além da banda Timbalada. Mas foi próximo ao Natal de 1996 que ela realizou o sonho de estrear seu primeiro show solo, o que se deu durante o projeto “Pelourinho Dia e Noite”. Naquela apresentação, Mariene conheceu dois produtores franceses que a terminaram levando para a Europa, onde, durante certo tempo, mostrou sua arte, tendo sido muito bem recebida pela crítica especializada. De volta ao Brasil, ela lançou, em 2004, o seu álbum de estreia, o elogiadíssimo “Abre Caminho”.

Mas foi necessário que se passassem mais seis anos para que ela viesse a pôr no mercado o seu segundo trabalho, o álbum intitulado “Santo de Casa”, o qual, no primeiro semestre deste ano, foi lançado de maneira independente, mas que, por conta da ótima receptividade obtida, acaba de ganhar nova edição, desta feita encampado pela gravadora Universal que contratou recentemente a artista para integrar o seu cast. Gravado ao vivo durante apresentação realizada pela cantora no início do ano passado no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), e com a produção dividida entre ela e Gerson Silva, o CD é uma explosão de alegria. A cantora mostra um perfeito entrosamento com o público e sua voz calorosa realmente faz a diferença. Alguns poderiam até tentar compará-la, pelo timbre grave de sua voz, com a também baiana Margareth Menezes, mas se esta optou, no início, pelo axé e pelo samba reggae e atualmente vem tentando redirecionar sua carreira para o lado de uma MPB mais pop, Mariene escolheu reverenciar a música de raiz de sua terra.

O repertório selecionado passeia com maestria por sambas-de-roda, sambas de terreiro e cirandas e não é à toa, portanto, que dentre as quinze faixas que compõem esse novo disco, oito sejam assinadas por Roque Ferreira, compositor que é mestre na arte de criar sambas que remetem o ouvinte às mais genuínas tradições do recôncavo baiano e que vem sendo, de uns anos para cá, cultuado por grandes nomes do nosso cenário musical, a exemplo de Maria Bethânia e Roberta Sá, duas das cantoras que recentemente gravaram várias canções de sua autoria.

“Santo de Casa” se abre e se fecha com duas vinhetas assinadas por Roque (a primeira, “Temporal”, unida a “Saudação a Yemanjá”, surge na voz de Mariene; a segunda, que dá título ao trabalho, vem cantada pelo próprio) e são dele as canções que mais se destacam no temático set list apresentado: “Chico e Chica”, “Abre Caminho” (parceria com Mariene e J. Velloso) e “De Maré” (composta ao lado de Toninho Geraes).

Mariene – é fato – mergulha de cabeça no terreno afro-baiano e põe na roda a religiosidade festiva do candomblé e o culto aos orixás, trazendo à tona temas folclóricos da cultura popular que têm o mar como assunto recorrente. Entre espertos pot-pourris de cirandas e de sambas-de-roda, ela ainda resgata (em boa hora e conferindo-lhe insuspeitas novas nuanças) as bonitas “Raiz” (outra de J. Velloso, agora em parceria com Roberto Mendes) e “Ilha de Maré” (de Walmir Lima e Lupa), canções originalmente gravadas por Gal Costa e Alcione, respectivamente.

Trata-se, portanto, de um projeto inteligente e que vem tentar fazer com que Mariene de Castro se projete nacionalmente. E realmente existem grandes possibilidades de isso acontecer, não somente porque ela está a ocupar um nicho interessante que se encontra praticamente vazio de representantes, como também porque é inegável sua força cênica e sua voz potente e bem colocada. Muito sucesso para ela!

N O V I D A D E S

· O selo Discobertas do incansável pesquisador musical Marcelo Fróes pôs recentemente nas lojas

· A gravadora Biscoito Fino põe à venda em circuito comercial o CD “Quando Fevereiro Chegar”, um tributo a Fausto Nilo que foi lançado originalmente no último Carnaval pela Prefeitura de Fortaleza (CE). Nilo é famoso poeta e compositor cearense, nascido em Quixeramobim e compôs vários grandes sucessos da nossa MPB ao lado de parceiros como Moraes Moreira, Armandinho, Pepeu Gomes, Geraldo Azevedo, Fágner e Dominguinhos, entre outros. A produção do álbum de doze faixas, o qual confere novas roupagens a canções conhecidíssimas como “Pão e Poesia”, “Pedras que Cantam” e “Chorando e Cantando’, coube ao experiente Robertinho de Recife que soube recrutar um time de responsa: estão presentes nas gravações inéditas os já citados Moraes, Geraldo e Fágner, além de Caetano Veloso, Ivan Lins, Fernanda Takai, Zeca Baleiro, Zé Ramalho, Elza Soares, Jorge Vercillo e Carlinhos Brown, estes três últimos os responsáveis pelos melhores momentos do disco (“Santa Fé”, “Zanzibar” e “Chão da Praça”, respectivamente). Ao final todos juntos cantam, ao lado do homenageado, o frevo “Bloco do Prazer”.

· “Do Outro Lado da Lua” é o título do novo CD da cantora e compositora Patrícia Mellodi. Trata-se de um trabalho eminentemente autoral, composto por onze faixas e que chegará às lojas em breve.

· Chegou semana passada às lojas, nos formatos CD e DVD, o novo projeto de Arnaldo Antunes. Intitulado “Ao Vivo Lá em Casa”, foi registrado de fato durante apresentação realizada na casa do artista em agosto deste ano. Arnaldo mostra que vem domando sua voz gutural e, se no começo da carreira, praticamente declamava as letras das canções, agora já as entoa com certa facilidade. Embora supostamente baseado em seu último álbum de estúdio (“Iê Iê Iê”), na verdade o set list do novo disco traz apenas três das canções constantes do repertório anterior (as faixas “A Casa É Sua”, “Envelhecer” e “Meu Coração”, por coincidência todas elas ótimas parcerias dele com Ortinho). Entre regravações aparentemente fora de foco (“Vou Festejar”, de Jorge Aragão, Noeci Dias e Dida, e “Quando Você Decidir”, de Odair José) e outras com resultado bem interessante (“Pra Aquietar”, de Luiz Melodia, e “Cachimbo”, de Edvaldo Santana e Osnofa), Arnaldo recebe, como convidados especiais, Jorge Ben Jor (em “As Árvores”, composta pelos dois) e Erasmo Carlos (em “Sou uma Criança Não Entendo Nada”, de autoria do Tremendão em parceria com Ghiaroni). No que tange à seara autoral, outros destaques ficam por conta de “Consumado” (de Arnaldo, Carlinhos Brown e Marisa Monte) e “As Melhores Coisas” (criação de Arnaldo ao lado de Bid, Betão Aguiar e Fernando Nunes). O DVD, por seu turno, apresenta, no extenso roteiro, vinte e oito canções.

· O talentoso Rubinho Jacobina está preparando o lançamento do seu aguardado segundo CD. Do repertório prioritariamente inédito e autoral fazem parte também dois temas criados pelo compositor Haroldo Barbosa. Quem viver, ouvirá!

· Lançado no comecinho deste segundo semestre pela gravadora Biscoito Fino, o CD “Eternos Guardiões” é um produto que merece ser conhecido pois joga merecidas luzes sobre cinco compositores praticamente anônimos de grandes escolas de samba cariocas. Idealizado pelo compositor Moacyr Luz, o álbum reúne dez bons sambas assinados por Jonas da Vila Isabel, Dauro do Salgueiro, Zé Catimba (da Imperatriz Leopoldinense), David do Pandeiro (da Portela) e Walter Peçanha (da Mangueira). Muito legal!

· Chegou recentemente às lojas, através da Lua Music, o CD “Cauby Sings Sinatra”, gravado ao vivo em maio deste ano no Teatro Fecap em São Paulo. Nele, Cauby Peixoto interpreta, no original em inglês, vários temas que se tornaram famosos na voz de Frank Sinatra.

· E como agora voltou a ser moda o lançamento de discos no formato de vinil, a gravadora Som Livre adere ao fato e põe nas lojas o primeiro trabalho de Maria Gadú. Com repertório idêntico ao CD (apenas a disposição das faixas sofreu algumas alterações), a única novidade é a inclusão de uma gravação inédita de “Quase sem Querer”, canção do repertório da banda Legião Urbana já regravada anteriormente (e de maneira definitiva) por Cássia Eller, a qual entra no lugar de “Baba”, o pegajoso hit de Kelly Key.

· Wanderléa está lançando, através da Lua Music, o DVD “Nova Estação ao Vivo”, contendo basicamente o repertório do premiado CD de estúdio que lhe deu origem. Gravado quando de apresentação realizada, em junho do ano passado, no Teatro Fecap, em São Paulo, o registro em vídeo mostra a cantora em boa forma vocal interpretando, entre outras, canções como “Mil Perdões”, “Choro Chorão” e “Se Tudo Pode Acontecer”.

· O cantor paulista Carlos Navas promete para 2011 o lançamento do CD intitulado “Junte Tudo que É Seu…”, uma merecida homenagem ao centenário de nascimento do compositor Custódio Mesquita. No repertório estarão pérolas do nosso cancioneiro, tais como “Nada Além”, “Saia do Caminho” e “Enquanto Houver Saudade”. As participações especiais ficam por conta de Rosa Marya Colin e Alzira E. Quem viver, ouvirá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

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