A carioca da gema Dorina está na batalha tentando mostrar o seu talento já há algum tempo. Antes mesmo do boom que infestou o nosso mercado fonográfico nacional de milhares de intérpretes de samba, a cantora já tinha direcionado sua carreira para o mais genuíno dos gêneros brasileiros, tanto que fez questão de explicitar essa opção em seu disco de estreia, “Eu Canto Samba”, lançado em 1996, o qual, na oportunidade, recebeu o prêmio Sharp na categoria Revelação Samba.

Dorina criou-se junto aos blocos carnavalescos do subúrbio, como os Boêmios de Irajá, e certamente foi essa formação que a fez se ligar ao samba mais tradicional, gravando sempre compositores de ponta, tais como Paulinho da Viola, Wilson Moreira e Jorge Aragão, entre tantos outros.

Continuando a valorizar essa vertente, chegou recentemente às lojas, através da gravadora Rob Digital, o seu mais novo CD, o sétimo de uma coerente discografia. Intitulado “Brasileirice”, é ele, de fato, o seu trabalho mais interessante. Composto por quatorze faixas e produzido por Marcus Fernando, trata-se de um álbum que dá gosto de ouvir e reouvir. Experiente no terreno em que pisa, Dorina passa distante de oportunismos e soa verdadeira da primeira à última faixa. Intérprete de voz talhada para o samba, com um timbre clássico e uma dicção perfeita, ela transpira alegria e romantismo em doses certas.

O repertório foi escolhido a dedo e, em algumas passagens, o Rio de Janeiro toma lugar de destaque como em “Cantar do Rio”, de Ricardo Vilas. Artistas que influenciaram sua trajetória se fazem presentes tanto em fotos de capas de discos constantes do encarte (Alcione, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Roberto Ribeiro) como através de merecidas homenagens explicitadas em “Pagode de Dona Ivone”, parceria de Roque Ferreira e Mauro Diniz, que traz citações de sucessos de Dona Ivone Lara (“Sonho Meu”, “Alguém Me Avisou” e “Tiê”), e em “Soberana” (de Cláudio Guimarães e Evandro Lima), a qual conta com a participação especial de Mart’nália, sempre à vontade e irradiando luminosidade.

Há a inclusão de verdadeiras pérolas musicais, canções que pegam o ouvinte de primeira. Duas delas são “O Verdadeiro Amor” (de Serginho Meriti, Adauto Magalha e Claudemir) e “Dor de Amor” (de Dedé da Portela e Délcio Carvalho). Mas existem outros bons momentos e estes ficam por conta de “Cândidas Neves” (rara parceria de Zé Renato e Nei Lopes) e “Velha Dor da Madrugada” (de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Franco). Já “Mercado da Ilusão”, que surge como um delicioso samba-choro, é da lavra de Monarco e Mauro Diniz, dois nomes que realmente dispensam comentários.

Meio choradinho também é o bom tema que dá título ao álbum, parceria de Luiz Carlos da Vila e Luiz Carlos Máximo e que, em sua letra, traça um paralelo entre o samba e o futebol.

Sábia, Dorina abre espaço para seu lado compositora apenas em uma faixa, “Festa da Vida”, composta com os parceiros Perninha e Roberto Chama, este o responsável pela direção musical do disco e autor também de “Porta-Voz da Alegria”, partido alto que fecha com chave de ouro esse bem-vindo lançamento. E esperta, resgata em boa hora a deliciosa “Noves Fora”, parceria pouco conhecida de Fagner com Belchior, sobra de um disco de carreira de Elis Regina e que somente chegou ao mercado na voz da Pimentinha após o seu falecimento.

Enfim, constata-se que a efusiva apresentação escrita por Aldir Blanc na contracapa não se faz em nada exagerada. Dorina já é um nome de respeito no nosso cancioneiro e merece um reconhecimento maior. Seu novo CD é um belo cartão de visita para quem ainda não conhece o seu trabalho. E quem tiver bons ouvidos para ouvir, que o faça!

N O V I D A D E S