Musiqualidade

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A   1

 

 

Cantora: TIÊ

CD: “A CORUJA E O CORAÇÃO”

Gravadora: WARNER MUSIC

 

O algo de indefinição que pairava em “Sweet Jardim”, o CD de estreia da cantora paulistana Tiê, lançado em 2009, dissipou-se com a chegada ao mercado, através da gravadora Warner Music, de seu sucessor, o equilibrado “A Coruja e o Coração”. Trata-se de um disco com linguagem pop, mas ancorado na MPB, o que demonstra que o rito de passagem da artista vem se desenhando espertamente a passos rápidos.

Tiê, que já trabalhou como backing vocal da banda que acompanha Toquinho, possui voz pequena e suave que, por vezes, chega a lembrar a de Fernanda Takai. Bem trabalhada, no entanto, alcança momentos de incontestável graça, como se pode constatar, por exemplo, através da releitura de “Só Sei Dançar Com Você”, canção de autoria de Tulipa Ruiz (nome emergente no nosso moderno cenário musical) que conta com a intervenção de Marcelo Jeneci (outro nome em ascensão atualmente) na sanfona. É um dos poucos momentos não autorais de um repertório composto por onze faixas, já que, além dessa canção, somente outras duas não recebem a assinatura de Tiê (diga-se de passagem, uma compositora interessante, mais versada, contudo, para as letras do que para as melodias). São elas: “Mapa-Múndi”, de autoria de Thiago Pethit (mais um artista que começa a receber a atenção dos mais antenados), lançada por ele, em 2010, no seu álbum “Berlim, Texas”, e, por incrível que possa parecer, “Você Não Vale Nada”, de Dorgival Dantas (mega sucesso da banda sergipana Calcinha Preta que se transformou em febre nacional quando incluída na trilha sonora da telenovela global “Caminho das Índias”). Na boa versão apresentada por Tiê, a batidíssima canção ganhou insuspeitas tintas flamencas.

Nos demais instantes, surgem criações da própria artista, a maioria composta ao lado de parceiros. Com João Cavalcanti e Plínio Profeta (este também o responsável pela competente produção do álbum que traz arranjos bastante legais, quebrando a monotonia do trabalho anterior, inteiramente calcado em violões), Tiê criou “Na Varanda da Liz”, tema com grandes chances radiofônicas e um dos destaques do set list, ao lado da country “Pra Alegrar o Meu Dia” (de Tiê, Ka e Rafael Baroni), da gostosinha “Já É Tarde” (de Tiê e Ka) e da bem resolvida “Piscar o Olho” (de Tiê, Ka, Plínio Profeta e Rita Wainer). A primeira metade do disco – ressalte-se – é bem superior à segunda que termina por condensar as duas canções assinadas unicamente pela artista (“Te Mereço” e “For You And For Me”). O uruguaio Jorge Drexler faz-se presente em participação especial nos vocais da faixa “Perto e Distante” (de Tiê, Pedro Granato e Plínio Profeta).

De fato, dentre as várias intérpretes que, ultimamente, vêm surgindo aos borbotões, Tiê é um nome que merece ser ouvido com atenção. Se você ainda não a conhece, esse recém-lançado CD se transforma em uma ótima oportunidade para fazê-lo!

 

 

R E S E N H A   2

 

 

Cantora: MAÍRA FREITAS

CD: “MAÍRA FREITAS”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

E mais um rebento de Martinho da Vila abraça oficialmente a música como profissão: desta feita, trata-se de Maíra Freitas, pianista de formação erudita que estreia como cantora no mercado fonográfico nacional com o lançamento do CD homônimo, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino.

Produzido por sua meia-irmã mais velha (e a mais famosa do clã), a também cantora Mart’nália, o álbum é composto por treze faixas, duas delas instrumentais. Uma abre e a outra fecha o disco, quais sejam: “O Vôo da Mosca”, tema menos conhecido do genial Jacob do Bandolim, e “Se Joga”, canção autoral da própria Maíra. Em ambos os momentos, a artista se faz por acompanhar unicamente por seu piano, mostrando, assim, ser uma instrumentista de real talento.

Como intérprete, embora não possua uma voz de timbre exatamente agradável, Maíra se destaca pela forma bastante pessoal de cantar. Se também não possui uma extensão invejável, sabe projetar as notas de maneira inteligente e conquista o ouvinte até por se fazer soar sem influências maiores de outras cantoras.

Além de tocar e cantar, Maíra também compõe e, afora a faixa instrumental já anteriormente citada, ela assina duas outras: a divertida “Corselet” (cujo mote serve como tema para o trabalho gráfico que emoldura o CD, juntamente com as teclas soltas de um piano) e a interessante “Alô?”. Não por coincidência são ambas essas músicas algumas das poucas realmente inéditas (além delas, há também a romântica “As Voltas”, de Qinho e Vítor Paiva, que conta com a participação vocal do primeiro), terminando por se transformarem em dois dos melhores momentos do repertório apresentado.

Outros convidados são o papai sambista, presente em mais uma regravação de um de seus maiores hits, “Disritmia” (agora em formato piano e voz, o que também ocorre com a releitura de “Se Queres Saber”, de Peter Pan), e a cantora Joyce (igualmente compositora e instrumentista como a anfitriã e que agora vem assinando artisticamente Joyce Moreno) na naturalista “Monsieur Binot” (de sua autoria).

Os destaques ficam por conta de “O Show Tem Que Continuar” (uma das parcerias mais inspiradas entre Arlindo Cruz e Sombrinha que conta ainda com a colaboração de Luiz Carlos da Vila), a qual ganha um belo e insuspeito arranjo sob instrumentação de tom jazzy, e de “Maracatu Nação do Amor” (de Moacir Santos e Nei Lopes). Completam o time de autores selecionados três dos maiores expoentes do nosso cancioneiro: Chico Buarque (“Mambembe”), Gonzaguinha (“Recado”) e Paulinho da Viola (“Só o Tempo”). 

Safa e sem querer se rotular sob quaisquer amarras, Maíra Freitas lança um CD redondinho que certamente lhe abrirá oportunas portas. É bom conferir!

 

 

N O V I D A D E S

 

· Embora, nos últimos anos, tenha reduzido sua participação na cena noturna sergipana, vindo a se apresentar ao vivo em poucas e seletas ocasiões, o guitarrista e compositor Marcus Vinicius (facebook.com/vinnas) se mantém ativo no universo virtual, abastecendo frequentemente suas páginas no Youtube e no PalcoMP3 com novos materiais, como videoaulas e músicas autorais, além de releituras pessoais para temas de artistas como Joe Satriani, Steve Morse e King's X. O músico aparece ainda na edição de nº 07 da revista virtual gratuita Guitarload, especializada em guitarra. Enquanto a mesma é “folheada”, duas de suas canções instrumentais podem ser apreciadas. Para 2011, ele tenciona gravar novas composições instrumentais, incorporando diversos elementos musicais, por influência do estudo da música de mestres como Scott Henderson, Jeff Beck e Pat Metheny. Contatos com ele poderão ser feitos através do e-mail: marcusvinas@gmail.com

 

· A gravadora Joia Moderna anuncia para este ano o lançamento do novo CD de Claudya. Cantora de voz extraordinária, infelizmente ela nunca obteve o merecido reconhecimento. Quem sabe com esse trabalho as gerações atuais poderão ter contato e valorizar essa artista fora-de-série que, no começo da carreira, chegou a rivalizar na preferência popular com ninguém menos que Elis Regina? O repertório do aguardado álbum será totalmente voltado para a obra de Caetano Veloso e priorizará canções menos conhecidas compostas pelo baiano, o qual também se fará presente como convidado especial. Para quem deseja uma referência de Claudya, vale ressaltar que um de seus maiores sucessos, “Deixa Eu Dizer”, foi recentemente sampleado por Marcelo D2 no rap “Desabafo”.

 

· O pianista Paulo Malaguti, conhecido como Pauleira e um dos fundadores do excelente grupo vocal Arranco de Varsóvia, está lançando, após vários anos de carreira, o seu primeiro trabalho solo. Intitulado “Larga do Meu Pé, Bossa Nova”, o CD chega ao mercado através do selo Multifoco Música. Trata-se de um disco inteiramente autoral, gravado entre 2006 e 2010, e que traz várias participações de músicos de ponta, tais como o guitarrista Fernando Caneca, o baixista Dôdo Ferreira e o saxofonista Zé Carlos Bigorna.

 

· A gravadora Lua Music está lançando o segundo volume do projeto “Chanson Française” do cantor paulistano Fábio Jorge que conta com as participações especiais de Cauby Peixoto, Cida Moreira e Silvia Maria. O CD traz, no repertório, algumas canções francesas, mas inclui também versões de músicas brasileiras.

 

· O cantor e pernambucano Junio Barreto (autor de “Santana”, bela canção gravada por Gal Gosta em seu álbum “Hoje”, de 2005) já anuncia o lançamento para breve de seu segundo CD, o qual trará a assinatura de Pupilo, baterista da banda Nação Zumbi, na produção. Com repertório prioritariamente inédito, o novo trabalho contará com a participação especial da cantora Céu.

 

· Inspirado no disco homônimo lançado no ano passado, brevemente chegará ao mercado o DVD intitulado “Só Danço Samba”, gravado por Emílio Santiago em show recentemente realizado na casa Citibank Hall de São Paulo. Além do repertório do disco em que homenageou Ed Wilson, o set list incluiu ainda “My Foolish Heart” (de Victor Young e Ned Washington), “Eu e a Brisa” (de Johnny Alf) e “Solamente una Vez” (de Agustín Lara).

 

· “Bruta Flor” é o título do CD de estreia do ator, cantor e compositor André Morais. O álbum traz os versos do artista musicados por nomes como Chico César, Carlos Lyra, Ná Ozzetti, Edu Krieger, Sueli Costa e Ceumar. Entre as participações especiais, destacam-se Tetê Espíndola na regravação de ”Ave Maria” (de Bach e Gounod) e Mônica Salmaso em “O Canto do Cisne Negro” (de Heitor Villa-Lobos). Um lançamento bastante interessante!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br  

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