MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantor: LULA QUEIROGA
CD: “TODO DIA É O FIM DO MUNDO”
Selo: LUNI PRODUÇÕES

Lula Queiroga: parceiro de Lenine (Foto: Divulgação)

A música de Lula Queiroga é particularíssima. Ao mesmo tempo em que a formação roqueira salta aos ouvidos através de arranjos pesados, os quais algumas vezes até terminam por esconder a beleza das melodias, ele parece nunca se esquecer das bases da cultura pernambucana e assim ciranda, frevo e maracatu surgem sempre como uma constante em seus trabalhos.

Parceiro de Lenine, Lula abre seu quarto CD solo, o ótimo “Todo Dia É o Fim do Mundo”, um lançamento do selo Luni Produções que chegou recentemente ao mercado, com uma parceria entre os dois, o bonito tema “Se Não For Amor Eu Cegue”. Conterrâneos, ambos estrearam juntos no mercado fonográfico em 1983 com o disco “Baque Solto”. Eram dois iniciantes que buscavam um lugar ao Sol. É incontestável que Lenine chegou primeiro e hoje ocupa espaço de destaque no panteão da nossa MPB, enquanto Lula, mesmo tendo criações gravadas por nomes como Roberta Sá, Maria Rita e Elba Ramalho, ainda não alcançou o merecido reconhecimento por parte de uma parcela maior de público. As razões poderiam ser várias, mas a mais acertada parece ser o fato de Lenine ter se mudado de Recife para o Sudeste maravilha e se concentrado na música, enquanto Lula até hoje reside em sua terra natal e dedica parcela significativa de seu tempo à publicidade.

No entanto, o recém- lançado CD vem comprovar o talento incontestável de Lula. E se como cantor ele cumpre direitinho a lição de casa, é como compositor que reside a sua melhor faceta. Eclético e corajoso, ele não tem pudor em explicitar as mais diversas influências musicais e aborda, nas letras, temas díspares sem receio de atirar em várias direções. Assim, pode-se deparar tanto com a crítica aos desmandos de uma sociedade corrompida e violenta em “Os Culpados”, como acompanhar a história do encontro e desencontro de um casal comum no bem-humorado samba “Unha & Carne”. E se a delicadeza permeia “Lua do Mal”, a pegada pesada é o principal molho de “Padrões de Contato”.

Composto por uma dúzia de canções inéditas e autorais (algumas assinadas ao lado de parceiros como Vinicius Sarmento, Alex Madureira, Lucky Luciano e Yuri Queiroga, o sobrinho multi-instrumentista que, ao seu lado, assina a produção), o novo álbum de Lula se consolida como o ponto mais alto de sua discografia.

Escutam-se ali desde ecos do inconformismo e do humor ácido de Raul Seixas na faixa-título até vestígios do pop inteligente dos Paralamas do Sucesso na interessante “Dos Anjos”, uma das melhores faixas do repertório apresentado. Outros destaques ficam por conta da corrosiva “Voo Cego”, do lírico acalanto de “Poeira de Estrelas” (composta para sua mãe, a cantora Mêves Gama) adornada pela sanfona de Marcelo Jeneci, e da etérea onda cirandeira de “Atlantis” que traz como convidada a cantora Isaar. Outras participações ficam por conta da irmã Nena Queiroga em “Dias Assim” e de Luisa Possi em “Um do Outro”.

Um CD realmente especial para quem gosta de se abrir a múltiplas possibilidades musicais. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

Tânia Maria: primeiro CD (Foto: Divulgação)

* A cantora sergipana Tânia Maria lançou recentemente o seu primeiro e aguardado CD. Intitulado sugestivamente de “Tamanho Não É Documento” (criativa alusão explícita ao tipo mignon da artista), o trabalho conta com a direção musical do tecladista Melqui Sedeck e é composto por uma dúzia de faixas compostas pela própria Tânia ao lado de alguns parceiros como Raimundo Venâncio e Lina Sousa. São canções que mostram os questionamentos da mulher moderna que enfrenta a vida sem medo e dá real valor às suas conquistas. A sonoridade é contagiante e pop, mas um pop não descartável, e mostra uma intérprete afinada e segura, dona de um timbre agudo muito bonito e que entende de fato o que canta. Entre os melhores momentos do repertório estão as faixas “Massa de Cimento”, “O Mundo aos seus Pés” e “Quem Sabe um Dia”. O CD já se encontra à venda na Casa do Artista e na lojinha do Museu da Gente Sergipana. Muito bacana!

* Outro dos artistas mais inspirados da atual cena musical pernambucana, o cantor e compositor Ortinho lançou recentemente o seu mais novo CD: trata-se de “Herói Trancado”, uma produção assinada por ele próprio ao lado do polivalente Yuri Queiroga. É um interessante trabalho autoral, composto por onze faixas e que conta com as participações especiais de Arnaldo Antunes (em “Retrovisores”) e de Jorge Du Peixe (em “Saudades do Mundo”). Entre as melhores faixas estão “O Cara do Outro Lado”, “Moldura” e “Pense Duas Vezes Antes de Esquecer”.

* Jussara Silveira, a convite de Angola, gravou o álbum “Flor Bailarina”, cujo repertório é formado somente por músicas daquele país, trazendo ritmos locais como o semba. O projeto ainda não tem data confirmada para ser veiculado comercialmente no Brasil.

* O cantor e compositor Danilo Moraes lança seu terceiro CD. Intitulado “Danilo Moraes e os Criados Mudos” e produzido pelo artista ao lado de Zé Nigro e Guilherme Kastrup, o álbum é composto por uma dúzia de faixas, a maioria delas criada por Danilo com parceiros como Chico César, Zeca Baleiro, Chico Salém, Giba Nascimento, Rodrigo Campos, Céu, Anelis Assumpção e Thalma de Freitas. Ele canta legal e é um compositor inventivo, o que pode ser constatado através da audição de temas como “Suprema Flor” (o melhor do repertório), “Ponto de Vista” e “Mais um Lamento”.

* Um box contendo os três álbuns lançados por Marcos Valle durante a década de oitenta é o recente lançamento do selo Discobertas. Trata-se dos discos “Vontade de Rever Você”, “Marcos Valle” e “Tempo da Gente”. Os dois primeiros retornam ao catálogo acrescidos de faixas-bônus e trazem sucessos como “A Paraíba Não É Chicago”, “Bicho no Cio”, “Pecados de Amor”, “Estrelar”, “Tapa no Real” e “Bicicleta”, canções ensolaradas que, à época, tocaram bastante e serviram de pano de fundo para esportistas e descolados. Já o terceiro título passou batido e infelizmente não conseguiu emplacar qualquer de suas dez faixas.

* Depois de certo tempo de carreira, tendo dividido alguns álbuns com o marido Renato Motha (cantor e compositor de inegável talento), a mineira Patrícia Lobato pôs recentemente no mercado o CD “Suspirações”, seu primeiro trabalho solo. Dona de timbre límpido e interpretação precisa, ela construiu um álbum bem legal (embora soe um tanto monocórdio em alguns momentos), sob a produção do já citado Renato que assina todas as quatorze músicas que integram o repertório (doze delas compostas com a poetisa Malluh Praxedes). Os destaques ficam por conta das canções “Meu Revirado Coração”, “O Homem que Quero” e “Coração Desmontado”.

* A cantora e compositora Roberta Campos está lançando o EP “Ao Vivo no Auditório Ibirapuera” contendo seis músicas, dentre as quais a inédita “Porta Retrato” e a regravação de “Segue o Seco”, canção de Carlinhos Brown, lançada originalmente por Marisa Monte.

* "Qualquer Palavra” é título do CD de estreia do mineiro Rodrigo Borges, sobrinho de Lô Borges, o qual surge como convidado especial na faixa “Deixa Tudo Ser” (parceria de Rodrigo com Márcio Borges). Já Lenine participa dos vocais da faixa-título (de autoria de Rodrigo e Tata Spalla).

* E os que apreciam música de qualidade não podem deixar de conhecer o mais recente CD de Túlio Mourão. O versátil pianista e compositor apresenta “Em Oferta – Canções”, um trabalho composto por nove faixas e que traz parcerias com Chico Amaral, Fernando Brant, Murilo Antunes, Márcio Borges e Ricardo Nazar. Mourão canta em apenas três canções. As demais contam com as vozes de convidados especais, a saber: Vander Lee, Titane, Pedro Moraes, Luiza Lara, Anthonio e Eugênia Melo e Castro. Dentre os destaques do seleto repertório estão, além da faixa-título, as canções “Mar Interior”, “Noturno” e “Paraíso dos Mortais”.

* A Red Hot Organization é uma instituição internacional que desde 1990 vem produzindo coletâneas temáticas com gravações inéditas para obter recursos para a luta contra a Aids. Agora, ela está lançando, no Brasil, o CD duplo “Red Hot + Rio 2” que chega às lojas através da gravadora Som Livre. São ao todo trinta e quatro faixas que priorizam a Tropicália e as heranças musicais deixadas por esse movimento. Produzido por Béco Dranoff, John Carlin e Paul Deck, o projeto reúne estelar elenco que traz na seara nacional, entre outros, Marisa Monte, Vanessa da Mata, Seu Jorge, Caetano Veloso, Fernanda Takai, Rita Lee, Tom Zé e Carlinhos Brown. Muito bacana a iniciativa e super louvável a adesão de tantos artistas à causa!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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