MUSIQUALIDADE

R E S E N H A

Cantores: VÁRIOS
CD: “SAMBABOOK JOÃO NOGUEIRA”
Empresa: MISICKERIA

O Brasil é o país do samba. E samba é gênero musical complexo. Não é qualquer um que pode compor samba e nem é todo mundo que sabe cantar samba. Mas como dom é coisa divina e, por isso, inexplicável, há alguns abençoados que nasceram talhados para fazer samba de forma única. Um desses, um dos maiores representantes do nosso samba em todos os tempos, é João Nogueira, carioca que, tendo aprendido a tocar violão com o pai, começou a compor, ainda na adolescência, para os blocos carnavalescos do bairro do Méier. Mas foi em 1970, quando Elizeth Cardoso gravou uma canção sua, que ele viu seu nome de fato ser inserido no meio musical. Dono de uma bela voz grave e criador de grandes sucessos, ele foi um dos compositores preferidos das exigentes Elis Regina e Clara Nunes e, ao lado de outros sambistas, criou o Clube do Samba com o intuito de preservar e divulgar o mais genuíno dos ritmos brasileiros.
É esse artista singular o primeiro homenageado do projeto “Sambabook”, o qual, produzido pela empresa Musickeria, acaba de chegar às lojas em dois volumes (os quais podem ser adquiridos separadamente ou juntos em um CD duplo) produzidos por Afonso Carvalho e Diogo Nogueira sob a direção musical de Alceu Maia. Cada CD traz uma dúzia de canções compostas por João Nogueira, algumas ao lado de parceiros como Paulo César Pinheiro, Zé Catimba, Cláudio Jorge, Nei Lopes e Mauro Duarte.
O volume 1 é aberto com o filho Diogo Nogueira cantando a pérola “Espelho”, por sua vez composta por João em homenagem ao seu pai. Em seguida, ele passa a bola para Alcione, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila, os quais, à vontade, cumprem com destreza a lição de casa (em “Corrente de Aço”, “Do Jeito que o Rei Mandou” e “João e José”, respectivamente). E enquanto Lenine, sempre talentoso, faz de “Pimenta no Vatapá” um dos destaques do repertório selecionado, Seu Jorge reverencia a magia do cantar na obra-prima “Minha Missão”. Já o samba dolente “E Lá Vou Eu (Mensageiro)” caiu nas boas mãos de Jorge Aragão e Teresa Cristina, ratificando ser uma das artistas atuais que mais entende o que está cantando, confere novas tintas à profética “As Forças da Natureza”. Ainda que não esteja em sua melhor forma vocal, Ivan Lins se sai razoavelmente bem em “Eu Heim, Rosa!” (tema que ganhou em 1979 o seu registro definitivo na voz da Pimentinha) e o grupo Revelação imprime suas digitais em “Mineira”. E se Gisa Nogueira, irmã do homenageado, mostra elegância em “Wilson, Geraldo e Noel”, o compositor Sombrinha resgata a contagiante “Das 200 Pra Lá”, maior sucesso de Eliana Pittman.
O volume 2, por seu turno, conta com alguns dos maiores sambistas da atualidade. Já na faixa de abertura, Beth Carvalho resgata, com sua costumeira majestade, a atemporal “Poder da Criação” e, mais adiante, Mart'nália, mesmo em tom pouco confortável, se entrega aos versos da conhecida “Súplica”. Em “Alô Madureira”, Arlindo Cruz comprova ser um pagodeiro inato e Dudu Nobre esbanja simpatia em “Amor de Fato”. E tem mais: o grupo Fundo de Quintal deita e rola em “Chinelo Novo”, a baiana Mariene de Castro põe sua voz potente a serviço de “Um Ser de Luz” (hino feito para louvar Clara Nunes) e Monarco se une à Velha Guarda da Portela para entoar “Sonho de Bamba”.
Bons momentos ficam por conta de Djavan, perfeito em “Nó na Madeira” (canção de interessante contorno melódico), Marcelo D2 que surpreende positivamente no samba de breque “Baile no Elite” e Leny Andrade, em intocável forma vocal em “Batendo a Porta” (que cantora magnífica!).
Ainda tem Diogo Nogueira que se faz novamente presente no pouco conhecido choro “Chorando pelos Dedos”, acompanhado pelo bandolim mágico de Hamilton de Holanda. Ao final, todo o elenco se junta no “Clube do Samba”, denotando um muito salutar (e sempre necessário) espírito de união.
Trata-se, enfim, de um tributo muito bem-vindo que resgata grandes canções compostas por João Nogueira, artista cujo legado de incalculável qualidade deve ser (re)conhecido pelas novas gerações. Muito legal mesmo!

N O V I D A D E S

* Registro ao vivo do show relativo ao seu mais recente CD de estúdio (o ótimo “O Micróbio do Samba”, lançado no ano passado), a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto está fazendo chegar às lojas, através da gravadora Sony Music e nos formatos CD e DVD, o seu mais novo projeto musical, “Micróbio Vivo”. Gravado durante apresentação realizada em outubro de 2011 no Espaço Tom Jobim, localizado dentro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro, o disco apresenta basicamente o mesmo repertório do álbum que lhe deu origem, com a adição de quatro faixas: “Argumento” (conhecidíssimo tema de Paulinho da Viola), “Te Convidei Pro Samba” (uma espécie de vinheta grande de autoria de Domenico Lancellotti, Pedro Sá e Maurício Pacheco), “Dos Prazeres, Das Canções” (pérola de Péricles Cavalcanti e de longe o melhor momento do set list apresentado) e “Maldito Rádio” (canção composta pela artista especialmente para integrar a trilha sonora da telenovela global “Cheias de Charme” e que surge como faixa bônus). Acompanhada por uma enxuta e competente banda composta por Davi Moraes (violão, cavaquinho e guitarra), Alberto Continentino (baixo acústico) e o já citado Domenico (bateria e mpc), Adriana (dona de pequena mas agradabilíssima voz) desfia sambas simples de sua própria lavra, alguns deles bem interessantes, como é o caso de “Já Reparô” (com seu viés homossexual), “Tá na minha Hora” (relatando a volta por cima de uma mulher que se revela pronta), “Pode Se Remoer” (repleta de fina ironia), “Vai Saber?” e “Beijo Sem”, estas duas últimas gravadas originalmente por Marisa Monte e Teresa Cristina. Ótima pedida!

* Nem bem lançou “Reza”, seu novo CD de inéditas, Rita Lee já está se reunindo com o marido Roberto de Carvalho em estúdio para dar início aos trabalhos de pré-produção de um novo trabalho. Em fase criativa, a roqueira só quer saber agora é de produzir…

* O show “Sinfônico – Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo”, que foi recentemente apresentado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro por Gilberto Gil fez-se devidamente captado pelas lentes do cineasta Andrucha Waddington com vistas a uma posterior edição em CD e DVD, os quais chegarão às lojas no segundo semestre através da gravadora Biscoito Fino. No espetáculo, Gil foi acompanhado por sua banda (formada por Bem Gil no violão, Jaques Morelenbaum no violoncelo, Gustavo Di Dalva na percussão e Nicolas Krassik no violino) e pela Orquestra Petrobrás Sinfônica. O baiano que comemora setenta anos em 2012 aproveitou para mostrar uma música inédita (a balada “Eu Descobri”) e mergulhou em temas de Dorival Caymmi, Tom Jobim e Jimi Hendrix.

* A cantora Daniela Procópio já tem pronto o seu segundo CD, o qual deverá ser lançado no segundo semestre deste ano. Intitulado “Gueixa Tropical”, o novo trabalho foi produzido por Eugenio Dale e traz, no repertório, canções de autoria de, entre outros, Heitor Villa-Lobos, Antonio Villeroy, Moraes Moreira, Armandinho e Henri Salvador.

* “Minha Serenata” é o título do show que Cauby Peixoto realizou recentemente no Teatro Fecap, em São Paulo, e que foi devidamente registrado para se transformar em CD que será lançado ainda em 2012. A ideia de reproduzir a sonoridade típica dos conjuntos regionais em voga na música brasileira da fase pré-Bossa Nova encontrou pleno respaldo nas canções que foram escolhidas a dedo para compor o repertório. Estão lá, por exemplo, “Lábios que Eu Beijei” (de J. Cascata e Leonel Azevedo), “Rosa” (de Pixinguinha) e “Velho Realejo” (de Custódio Mesquita e Sadi Cabral).

* Já se encontra disponível no mercado o primeiro trabalho do quinteto 5 a Seco, formado pelos cantores, violonistas e músicos Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni. Gravado ao vivo durante apresentação realizada no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, o projeto conta com as participações especiais de Chico César, Lenine e Maria Gadú. Muito legal!

* Recentemente falecido, o compositor e violonista Nelson Jacobina (parceiro constante de Jorge Mautner) deixou algumas gravações inéditas, as quais farão parte do próximo CD da Orquestra Imperial a ser lançado no segundo semestre deste ano através de um novo selo da gravadora Biscoito Fino.

* Para comemorar os dez anos de sua vitoriosa trajetória, a cantora e compositora matogrossense Vanessa da Mata gravará em breve e ao vivo um projeto em parceria com o canal de TV Multishow. Quem viver, ouvirá!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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