Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: GAL COSTA
CD: “RECANTO – GAL AO VIVO”
Gravadora: UNIVERSAL

Se existe alguém a quem a cantora baiana Gal Costa deve ser eternamente grata, esse alguém é o seu conterrâneo Caetano Veloso. Desde a estreia fonográfica que as carreiras de ambos se entrelaçam: o disco “Domingo”, o primeiro deles, os reuniu já no distante 1967. De lá para cá, foram muitos os momentos em que se cruzaram, seja nos palcos, seja nos estúdios. Gal foi uma das integrantes do Tropicalismo, espécie de movimento musical capitaneado por Caetano e Gilberto Gil, e integrou com os dois e mais Maria Bethânia o efêmero grupo Doces Bárbaros que rodou o Brasil em 1976. Quase duas décadas depois, ela lançou, em 1995, “Minha d'Água do Meu Canto”, trabalho que reunia, no repertório, somente canções de autoria de Caetano e de Chico Buarque. Em quase todos os álbuns de Gal há uma canção de Caetano que se aproximou, mais uma vez, da amiga em 2011 para arregimentar todo o processo de gestação de “Recanto”, um CD que teve como maior objetivo o de trazer Gal de volta ao mercado, uma vez que ela vinha lançando discos de forma  espaçada, não conseguindo alcançar com eles a visibilidade a que sempre fez jus.
De fato, Gal já imprimiu seu nome no panteão dos artistas atemporais do nosso cancioneiro, mas também é verdade que já há um tempo ela vinha mostrando sinais de cansaço. Um mercado saturado por ritmos oportunistas e opções voltadas para o lado pessoal podem tê-la retirado da rota. Isso somado a uma constatável acomodação fez com que Caetano sentisse chegar o momento de lhe chamar de volta às luzes. E com o álbum composto apenas por canções suas se deu o início do processo de concepção do show homônimo, o qual vem rodando o país com boa aceitação de crítica e público. O registro de duas apresentações feitas em outubro do ano passado no Teatro Net Rio (o mesmo extinto Teatro Thereza Rachel no qual, em 1971, também se registrou o clássico LP “Gal a Todo Vapor – Fatal”) resultou no projeto “Recanto – Gal ao Vivo”, o qual acaba de aportar no mercado, através da gravadora Universal, nos formatos CD duplo e DVD.
Dirigida por Moreno Veloso (mas – claro! – sob a supervisão de Caetano), Gal se mostra em boa forma vocal, embora para ouvidos mais atentos os agudos límpidos de outrora já comecem a rarear. O set list contempla um total de vinte e três canções. Destas, oito são do disco que originou o show (ficaram de fora “O Menino”, “Sexo e Dinheiro” e “Madre Deus”) e as restantes foram resgatadas de alguns de álbuns anteriores. Caetano domina o repertório, assinando dezessete dos temas selecionados. Os seis outros tentam marcar fases importantes da trajetória de Gal, só por aí se justificando a inserção da popularesca “Um Dia de Domingo” (de Michael Sullivan e Paulo Massadas). Mas há também “Folhetim” (de Chico Buarque), “Barato Total” (de Gilberto Gil) e “Vapor Barato” (de Jards Macalé e Wally Salomão), canções que, mesmo após múltiplas regravações, continuam associadas ao canto de Gal. Sobrou espaço também para a pouco conhecida “Deus É o Amor” (de Jorge Ben Jor) e para a global “Modinha para Gabriela” (de Dorival Caymmi).
Das pérolas caetaneanas de outrora “Minha Voz, Minha Vida”, “Mãe”, “O Amor”, e “Meu Bem, Meu Mal”, por exemplo, comprovam a força inventiva de um gênio-compositor que dispensa comentários. No que se refere às músicas mais recentes, embora pareça difícil acreditar que irão se consolidar entre as que se perpetuarão como obras-primas, há que se reconhecer que algumas como “Segunda”, “Neguinho” e “Recanto Escuro” possuem lá seu charme e crescem no palco.
Gal surge acompanhada por uma banda enxuta (apenas guitarra, baixo e bateria com adições eventuais de violão e MPC) que alia batidas e pegadas secas com timbres, efeitos e programações eletrônicas. Se o objetivo é conferir uma aura de modernidade aos arranjos, isso nem sempre resulta interessante. Em alguns momentos, barulhinhos terminam prejudicando o entendimento de harmonias e em outros quer se revelar uma simplicidade premeditada que termina não soando muito natural.
Ao tentar reinventar Gal Costa, Caetano Veloso termina por inverter o ditado popular, reescrevendo-o: “Por trás de toda grande mulher, há sempre um grande homem”. São eles uma bela dupla de amigos-irmãos que se gostam, se respeitam e se confiam. É, e o show nunca pode parar!…

N O V I D A D E S

* Guga Machado, talentoso percussionista que acompanha nomes da nossa música atual como Carlos Navas, Filipe Catto e Thiago Pethit, está lançando de maneira independente um CD muito bacana. Trata-se de “Mafagafo Jazz”, composto por onze faixas, cinco delas autorais. O artista alia o toque brasileiro de sua percussão a bem boladas programações eletrônicas, resultando em uma sonoridade única que cativa de pronto o ouvinte mais antenado. Há as participações especiais de Jair Oliveira e Tabatha Fher (vozes em “Luz”) e de Vanessa Jackson (vocalise em “Lounge 01”). Os destaques do repertório ficam, além da belíssima faixa-título, por conta de “Depirapromundo”, “Moon#33” e “Manani”. Vale super a pena conhecer!

* Ney Matogrosso já percorre o Brasil com o novo show intitulado “Atento aos Sinais”, o qual servirá de base para a futura gravação em estúdio de seu próximo CD. O eclético repertório reúne canções de Dani Black (“Oração”), Paulinho da Viola (“Roendo as Unhas”), Itamar Assumpção (“Fico Louco”), Criolo (“Freguês da Meia-Noite”), Pedro Luís (“Incêndio”), Caetano Veloso (“Two Naira Fifty Kobo”) e Vítor Ramil (“Astronauta”), entre outras.

* “Luar de Sol” é o título do novo projeto de Jorge Vercillo que chegará em maio às lojas nos formatos CD e DVD. Trata-se do registro ao vivo do show captado em setembro do ano passado no Teatro José de Alencar, em Fortaleza (CE). “Face de Narciso” (feita pelo artista ao lado de Jota Maranhão), canção que já toca na telenovela global “Flor do Caribe”, será logicamente a primeira faixa de trabalho. Há também parcerias com Altay Veloso, Marcos Valle e Paulo César Feital e a participação especial de vários artistas que povoam o atual cenário musical cearense.

* O próximo CD da cantora Alcione já começa a ser formatado e deverá contar com uma parceria de peso: trata-se de “Eh, Eh”, primeira canção composta em dupla por Djavan e Zeca Pagodinho. Deve vir coisa muito boa por aí!

* A DJ Vivi Seixas, filha de Raul Seixas, está lançando o CD de remixes intitulado “Geração da Luz – Clássicos de Raul Seixas Metamorfoseados”. São dez faixas famosas na voz do Maluco Beleza que ganham ares eletrônicos, a exemplo de “Como Vovó Já Dizia”, “Mosca na Sopa” e “Conversa Pra Boi Dormir”.

* Enquanto busca inspiração para criar as novas canções que farão parte de um álbum a ser lançado no próximo ano, o cantor e compositor Lenine anuncia a intenção de pôr no mercado, este ano, um box que acondicionará todos os títulos de sua aclamada discografia. A ideia surgiu para comemorar os trinta anos de carreira fonográfica.

* Já se encontra no forno o novo e aguardado CD de Guilherme Arantes. Intitulado “Condição Humana”, o álbum conta com uma galera de peso fazendo os vocais da faixa “Onde Estava Você?”: estão lá, entre outros, Duani, Edgard Scandurra, Kassin, Mariana Aydar, Thiago Pethit, Tiê e Tulipa Ruiz. Massa!

* E se foi para o andar de cima o grande intérprete Emílio Santiago. Dono de voz privilegiada e suingue único, o artista vai fazer uma falta enorme neste país de muitas boas cantoras e poucos cantores de verdade. Inúmeros saudosos fãs ficam agora à espera da reedição dos seus discos, principalmente aqueles que ainda não foram disponibilizados em formato CD como “Emílio” (de 1978), “O Canto Crescente de Emílio Santiago” (de 1979) e “Ensaios de Amor” (de 1982), ótimos trabalhos lançados no começo de sua carreira.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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