Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: AMELINHA
CD: “JANELAS DO BRASIL – AO VIVO”
Gravadora: LUA MUSIC

Cearense, a cantora Amelinha saiu de sua terra para São Paulo, em 1970, com o objetivo de estudar comunicação. Quatro anos depois, quando havia participado de alguns shows de Fagner, passou a aparecer em alguns programas televisivos, já impregnada pelo vírus da música. O primeiro disco foi lançado em 1977, mas dois anos antes ela havia acompanhado Toquinho e Vinicius de Moraes durante vitoriosa temporada em Punta del Leste. O sucesso nacional ocorreu logo em seguida, em 1979, com o estouro do segundo trabalho, “Frevo Mulher” (cuja música-título é de autoria de seu então marido à época, o cantor e compositor paraibano Zé Ramalho), com o qual recebeu disco de ouro por conta das ótimas vendagens, e se fez reeditado, no ano seguinte, devido ao segundo lugar obtido no Festival MPB-80 com a canção “Foi Deus Que Fez Você” (de Luiz Ramalho) e, em 1982, com o tema de abertura da minissérie global “Lampião e Maria Bonita”, a épica “Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem Sentir Dor” (outra de Zé Ramalho, agora em parceria com Otacílio de Souza).
Após um período em que se viu injustamente relegada a um segundo plano pelo mercado fonográfico, Amelinha lançou, em 2011, o CD “Janelas do Brasil”, no qual, sob um formato simples e emoldurando-se por timbres acústicos, reuniu algumas boas canções que há muito sentia vontade de gravar, fazendo com que sua bela e personalíssima voz voltasse a ser projetada através de rádios mais antenadas.
É o registro ao vivo desse mais recente projeto, ocorrido durante show realizado em maio do ano passado no Teatro Fecap, em São Paulo, sob a direção musical do músico Dino Barioni, que acaba de ser disponibilizado nos formatos CD (composto por dezesseis faixas) e DVD (este, o primeiro da carreira de Amelinha e que contém dois números adicionais: as canções “Ave Maria”, de Vicente Paiva e Jayme Redondo, e “Légua Tirana”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) através de uma parceria entre a gravadora Lua Music e o Canal Brasil.
Acompanhada tão somente pelo já citado Barioni e pelo violonista Emiliano Castro, Amelinha, como não podia deixar de ser até pelo momento de ressurgimento pelo qual atualmente passa, aproveitou o ensejo para revisitar as três canções destacadas no primeiro parágrafo acima, indubitavelmente os maiores sucessos de sua trajetória. E ainda incluiu “Água e Luz” (de Tavito e Ricardo Magno), carro-chefe de seu disco lançado em 1984 (música que, naquela oportunidade, também obteve considerável receptividade), e “Sol de Primavera” (de Beto Guedes e Ronaldo Bastos) cuja letra parece cair como uma luva ao estágio de novas descobertas da vigorosa intérprete.
Com Toquinho ao violão em participação afetiva, Amelinha homenageou Vinicius através de “Valsinha” (parceria do Poetinha com Chico Buarque), e, saudosa, reviveu “Ai Quem Me Dera”, canção feita pelos dois (Toquinho e Vinicius) na casa dela lá no início da década de setenta do século passado. Os outros convidados especiais são Fagner e Zeca Baleiro. O primeiro emprestou sua bela voz agreste a “Depende” (um dos mais bonitos temas de sua própria autoria composto com Abel Silva) e o segundo (autor de “O Silêncio”, tema também presente no set list) surgiu em “Asa Partida” (outra de Fagner e Abel Silva). Ao final, os três juntos entoam a delicada “Flor da Paisagem” (de Robertinho do Recife e Fausto Nilo).
Entre obras de conterrâneos como Belchior e Ednardo (“Galos, Noites e Quintais” e “Terral”, respectivamente), Amelinha ainda abriu espaço para a criação feminina (em “Ponta do Seixas”, de Cátia de França), para o pernambucano Alceu Valença (em “Quando Fugias de Mim”, feita com Emmanoel Cavalcanti) e para o paraibano Chico César (em “Felicidade”, composta ao lado de Marcelo Jeneci). 
Enfim, constata-se que, com seu canto profundo e exalando uma sabedoria que só a maturidade pode conferir aos seres humanos, Amelinha retoma em boa hora o seu caminho musical. Que o incontestável talento dessa artista ímpar seja, então, conhecido e reverenciado pelas novas gerações que estão a merecer música de real qualidade em tempos de produtos tão descartáveis!

N O V I D A D E S

* Pode até ser que essa enxurrada atual de artistas do Pará dê em alguma coisa e a verdade é que há, entre eles, gente bastante talentosa, mas o fato é que, no geral, quase todos terminam meio que se parecendo muito. A bola da vez é a cantora Luê que acaba de pôr no mercado, de maneira independente, o seu primeiro CD e vem realizando shows de lançamento no sudeste maravilha. Intitulado “A Fim de Onda”, o álbum é composto por dez faixas e leva a assinatura de Betão Aguiar na produção, o qual, experiente e com ótimo trânsito no meio, arregimentou músicos que fazem parte do primeiro time da cena indie nacional, a exemplo dos bateristas Pupillo e Curumin, do guitarrista Régis Damasceno, do baixista Zé Nigro, do trompetista Guizado e do percussionista Orlando Costa. E se é fato que Luê canta bonito e de forma segura, também o é que seu timbre remete a uma mistura de Marisa Monte, Roberta Sá e Vanessa da Mata, ou seja, soa agradável, porém carece de identidade. Também instrumentista (ela toca rabeca em seis temas), a artista é co-autora de duas canções: a interessante faixa-título, ao lado de Arnaldo Antunes e de Betão Aguiar, e “Se Colar”, com Betão Aguiar e Felipe Cordeiro, este outro nome em ascensão no mercado fonográfico paraense, responsável ainda por outra música presente no repertório (a boa “Sei Lá”). Mais um compositor que começa a conquistar espaço é André Carvalho, comparecendo com “Prática” e “Bom” (parceria com Qinho). Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta de “Nós Dois” (de Júnior Soares e Ronaldo Silva), “Cavalo Marinho” (outra de Ronaldo, agora com Renato Torres, tema que contou com a participação da banda Strobo) e “Onde Andará Você (de Alípio Martins e Jesus Couto). Com uma sonoridade em que se tenta misturar o pop com ritmos do Norte do Brasil, adicionando-se pitadas de brega e algumas incursões em gêneros musicais característicos das Américas Latina e Central, Lyê é mais uma que tenta buscar um lugar especial no panteão da nossa música popular.

* “As Forças da Natureza” é o título que batizará o primeiro CD do grupo vocal Ecco, nas lojas ainda este semestre. O repertório contará com temas assinados por Caetano Veloso, João Nogueira, Roberto Mendes, Dolores Duran e Pierre Aderne, entre outros. Haverá as participações especiais de Fabiana Cozza, Alceu Valença e Izzy Gordon.

* É conhecida como “Samba do Trabalhador” uma roda de samba que acontece há dez anos no Rio de Janeiro todas as segundas-feiras pela tarde. O cantor e compositor Moacyr Luz resolveu registrar um desses eventos, o qual se transformou na base do projeto “Moacyr Luz e o Samba de Trabalhador”, disponível nos formatos CD e DVD, que acaba de chegar ao mercado através da gravadora Lua Music. Com a participação do público e sob a batuta do experiente gaitista Rildo Hora, Moacyr apresenta uma seleção de sambas de primeira linha ao lado dos convidados Efson, Marcelinho Moreira, Makley Mattos, Moyseis Marques e Toninho Geraes. No repertório predominam canções de autoria dele próprio, criadas ao lado de parceiros como Aldir Blanc, Luiz Carlos da Vila, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Roque Ferreira e Wilson das Neves. Muito legal!

* “Pra Dizer” é o título do EP contendo seis faixas que o cantor e baixista Pedro Moraez está disponibilizando no iTunes. Filho de Ronaldo Correa, integrante dos Golden Boys, o trabalho apresenta uma sonoridade calcada na black music.

* O carioca selo Discobertas acaba de colocar nas lojas, após um trabalho de criteriosa remasterização, as quatro faixas que lançaram o cantor e compositor Jards Macalé no mercado fonográfico, em 1970, através do compacto duplo “Só Morto (Burning Night)”. Além dessa faixa-título, compunham aquele trabalho inicial as canções “Soluços”, “O Crime” e “Sem Essa”. Para complementar o CD, foram adicionadas mais dez faixas, todas registros ao vivo de apresentações realizadas pelo artista no Rio de Janeiro e no Espírito Santo nos anos setenta do século passado. Entre os destaques figuram as músicas “Gotham City”, “Poema da Rosa”, “Revendo Amigos” e “Anjo Exterminado”.

* A cantora mineira Aline Calixto é mais uma que está na estrada com um show em homenagem a Clara Nunes. E para marcar essa empreitada, ela convidou o rapper paulista Emicida para participar da releitura de “Conto de Areia” (que já se encontra disponível na internet), revestindo-a com uma roupagem mais contemporânea.

* Aos poucos vai se delineando a trilha sonora de “Sangue Bom”, a nova telenovela global das 19 horas, no ar de hoje a oito dias. O tema de abertura será a canção “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos, em regravação feita pelo grupo Sambô, e a conhecida versão de “Poema”, parceria póstuma de Cazuza com Frejat, gravada há alguns anos por Ney Matogrosso, deverá servir de pano de fundo para duas das principais personagens da trama. Foram selecionados ainda, entre outros, o duo Agridoce (“130 Anos”), Monique Kessous (“Calma Aí”), Luan Santana (“Te Esperando”), Michel Teló (“Amiga da Minha Irmã”), Charlie Brown Jr. (“Senhor do Tempo”) e Daniel (“Tantinho”).

* Embora já esteja com um CD de inéditas prontinho, Lulu Santos resolveu lançar primeiro o álbum (gravado em estúdio) no qual revisitou músicas que se perpetuaram na voz de Roberto Carlos, ideia originária de show realizado em 2011 dentro da programação do Circuito Cultural Banco do Brasil. O repertório é composto por dezessete faixas e inclui, dentre outros sucessos, “Minha Fama de Mau”, “As Curvas da Estrada de Santos”, “Se Você Pensa”, “Você Não Serve Pra Mim”, “Não Vou Ficar” e “Ilegal, Imoral ou Engorda”. O álbum chega ao mercado no próximo mês.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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