Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: ÂNGELA RO RO
CD: “FELIZ DA VIDA!”
Gravadora: BISCOITO FINO

Quando surgiu no mercado fonográfico nacional em 1979 com um disco arrebatador que trazia, no repertório, temas que viriam a se enraizar no inconsciente coletivo nacional como“Gota de Sangue”, “Tola Foi Você”, “Não Há Cabeça” e “Mares da Espanha”, a cantora e compositora Ângela Ro Ro mostrou de cara a que veio: possuidora de um talento acima da média, ela também tinha carisma e força que a distinguiam de suas colegas cantantes. Dona de bela voz grave e potente, característica que conserva até hoje do alto de seus sessenta e dois anos, ela seguiu lançando ótimos álbuns durante a década de oitenta, mas,nos anos seguintes, talvez por conta dos excessos que permearam sua vida pessoal, se viu afastada da mídia e, consequentemente, seu nome passou um período injustamente relegado a um segundo plano. No entanto, justo se faz observar que, após o lançamento, em 2006, do CD “Compasso”, o qual trouxe uma baforada à sua carreira com uma boa leva de novas canções, RoRo vem recuperando o seu lugar de destaque com saudáveis doses de ousadia. O mais recente exemplo disso é o recém-lançado projeto “Feliz da Vida!”, disponível nos formatos CD e DVD, o qual aportou há pouco no mercado através da gravadora Biscoito Fino.
Em tese, trata-se do registro de show realizado em outubro do ano passado no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro, mas, diferentemente do que ocorre com a maioria dos artistas de sua geração, Ro Ro fugiu da obviedade dos produtos revisionistas e lançou um trabalho de dezessete faixas que traz treze músicas inéditas. Isso por si só já serviria para jogar luzes sobre tal iniciativa, mas o melhor de tudo é constatar que são canções bastante interessantes, o que denota que a verve criativa da artista continua em ebulição.
Com a direção musical a cargo do pianista Ricardo Mac Cord com quem Ro Ro vem trabalhando há alguns anos, o álbum se transforma em um dos pontos altos da discografia dessa carioca que, esperta e visando a arejar sua obra, se abriu a parcerias com novos colaboradores, como é o caso de Moska, co-autor da bela faixa-título, o qual surge, como convidado, em uma das duas versões apresentadas para a música. Outro parceiro que também se faz presente nos vocais é Jorge Vercillo que apresenta “Capital do Amor”, mais uma homenagem dentre as tantas já recebidas pela cidade do Rio de Janeiro. Já com Sandra de Sa, Ro Ro criou a esperta “Beijos na Boca” e a conterrânea intérprete se mostra inteiramente à vontade, abrindo seu vozeirão como de costume.
Ro Ro também assina canções com o já citado Mac Cord (“De Amor e Mar”), Antônio Adolfo (“Vou Por Aí”), Lana Braga (“Muitas Canções”), Carlota Marques (“Romance Espetacular”), Mário de Castro (“Tudo por um Triz”) e Ana Carolina (“Canto Livre”) e recebe Diogo Nogueira, o sambista do momento, na interessante “Salve Jorge!”. Os outros convidados são Maria Bethânia e Frejat nas regravações dos grandes sucessos “Fogueira” e “Amor, Meu Grande Amor”, respectivamente. Ro Ro ainda incluiu no set list um dos maiores hits da carreira de Cássia Eller, a canção“ Malandragem” que, para quem não sabe, foi composta por Cazuza para ela(Ro Ro) que, à época, não quis gravá-la.
Alguns dos melhores momentos do repertório apresentado ficam por conta de “Ela Sumiu”, “Pinto Velho” e “Opium”, as três assinadas somente por Ro Ro.
Na verdade, o novo projeto soa como uma espécie de retorno. Vem em muito boa hora e merece ser conhecido por todos os que apreciam o talento de uma artista que sempre se mostrou corajosa. Mergulhando de cabeça nos relacionamentos amorosos e suas implicações, seja na vida, seja através da maioria das letras de suas canções, Ângela Ro Ro ensina, ainda que não seja esse o seu objetivo principal, que a vida é feita de conquistas e perdas, mas que recomeçar e prosseguir são verbos que jamais devem ser esquecidos.

N O V I D A D E S

* Após dois CDs gravados em estúdio, a Orquestra Imperial está pondo nas lojas, através de uma parceria entre o Canal Brasil e o selo DaLapa Música (um braço da gravadora Biscoito Fino), o seu primeiro álbum ao vivo. Trata-se do registro de show realizado em 2008 no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Formado atualmente por vinte integrantes, dentre os quais estão Rubinho Jacobina, Marlon Sette, Thalma de Freitas, Wilson das Neves, Nina Becker, Kassin e Moreno Veloso, o coletivo carioca selecionou onze músicas, entre ótimas criações deles próprios (caso de “Dr. Sabe Tudo”, “Artista É o Caralho” e “Gomalina”) e azeitadas regravações de sucessos da nossa música popular (a exemplo de “Sem Compromisso”, de Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro, “Obsessão”, de Milton de Oliveira e Mirabeau, e “Tenha Pena de Mim”, de Cyro de Souza e Babalu). E o fato é que a galera manda muito bem tanto no quesito criatividade quanto no que diz respeito à alegria. O naipe de metais se revela um show à parte, conforme se pode constatar através da instrumental “Pop Corn”. Entre os melhores momentos estão as autorais “Não Foi em Vão” e “Rue Des MesSouvenirs”(ambas resgatadas do primeiro disco, o bom “Carnaval Só Ano que Vem”), a interessante “Matemática do Desejo” (de Jorge Mautner) e o delicioso samba “Conselho” (de Zé Roberto e Adilson Bispo).

* No dia 29 deste mês (próximo domingo, portanto), estarão se apresentando no Teatro Atheneu, a partir das 20 horas, os excelentes Zé da Velha e Silvério Pontes. Na oportunidade, eles estarão realizando o show oficial de lançamento do CD “Ouro e Prata” em uma apresentação única que contará com a participação especial do Grupo Brasileiríssimo. Realmente imperdível!

* Através da gravadora Som Livre, o quarto álbum solo do titã Sergio Britto está chegando ao mercado sob o título de “Purabossanova” e com a produção assinada por Emerson Villani e Guilherme Gê. O repertório é formado por quatorze músicas, doze delas inéditas e autorais. As duas regravações ficam por conta de “Canción para mi Muerte” (de Charly Garcia) e “Lento” (de Julieta Venegas). Além da cantora argentina Eugênia Brusa e do violonista uruguaio Toto Mendez, surgem em participações especiais Rita Lee, Alaíde Costa, Roberta Sá, Luiz Melodia e Marcela Mangabeira.

*Em projeto análogo ao feito, no ano passado, pelas bandas Ultraje a Rigor e Raimundos, os grupos pernambucanos Nação Zumbi e Mundo Livre S.A., ícones do Mangue Beat, trocam de repertório em CD recém-lançado pela gravadora Deck. São quatorze faixas, dentre as quais se destacam “Etnia”, “Samba Makossa”, “Musa da Ilha Grande” e “Bolo de Ameixa”.

*O segundo CD da cantora e compositora Daniela Procópio se intitulará “Gueixa Tropical” e estará chegando às lojas até o final do próximo mês sob a produção de Eugenio Dale. Entre canções autorais, a exemplo de “Moreré” (parceria com Vittor Santana) e “We Are in Love” (composta com Luciana Pestana), o repertório traz regravações de “Canção das Águas Claras” (de Villa-Lobos e Gilberto Amado) e ”Syracuse” (de Henri Salvador). A artista ganhou inéditas de Antonio Villeroy (“Gueixa do Xingu”), Marco André (“Iara do Leblon”) e Moraes Moreira (“Tadinho” e “Foi Tanto Carinho”).

* A gravadora Sony Music lançou recentemente uma caixa, acondicionando quatro CDs que têm por objetivo resumir a trajetória de mais de três décadas do grupo Roupa Nova. São ao todo cinquenta e quatro fonogramas, os quais, dispostos em ordem cronológica, apresentam alguns dos maiores sucessos colecionados ao longo da vitoriosa carreira.

*Na quinta-feira, dia 26, estará comemorando mais um aniversário a baiana Gal Costa, tida como uma das maiores vozes femininas já surgidas em solo tupiniquim. De fato, a cantora conquistou muitos hits durante sua trajetória (iniciada ao lado de Caetano Veloso em 1967 com o disco “Domingo”), a exemplo de “Baby”, “Vapor Barato”, “Folhetim”, “Força Estranha” e “Festa do Interior”, e lançou alguns discos memoráveis como “Água Viva”, “Gal Tropical” e “Fantasia”. Já Tim Maia, se vivo estivesse, estaria a completar setenta e um anos no sábado, dia 28. Com seu vozeirão tonitruante, o chamado Síndico embalou muitos romances com canções como “Azul da Cor do Mar”, “Gostava Tanto de Você” e “Me Dê Motivo” e fez várias gerações dançaram ao som de “Vale Tudo”, “Do Leme ao Pontal” e “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”. Em tempo: juntos, Gal e Tim gravaram, em 1985, o mega sucesso “Um Dia de Domingo” que toca à exaustão até hoje.

* Com o objetivo de comemorar meio século de carreira, o Quarteto em Cy lançará, no próximo ano, um CD produzido por Guto Graça Mello com direção musical a cargo de Dori Caymmi cujo repertório priorizará temas inéditos assinados, entre outros, por Carlos Lyra, Chico Buarque, Danilo Caymmi, Edu Lobo, João Donato, Marcos Valle, Roberto Menescal e Sueli Costa. Deve vir coisa muito boa aí!

* Uma nova versão do disco “A Arca de Noé”, projeto infantil originalmente creditado a Vinicius de Moraes, está sendo produzida por Adriana Calcanhotto que também dará voz a uma das faixas. Deverá chegar às lojas em outubro próximo (espera-se que a tempo de entrar no pacote de comemorações relativas ao Dia da Criança).

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as sextas-feiras, às 10 horas.

Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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