Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: LAURA FINOCCHIARO
CD: “COPY PASTE – MÚSICA ORGÂNICA”
Gravadora: INDEPENDENTE

A cantora e compositora gaúcha Laura Finocchiaro está lançando um novo CD. Trata-se de “Copy Paste – Música Orgânica”, o sexto título de uma trajetória independente que vem sendo construída degrau por degrau.
Ela decidiu abraçar a música ainda na adolescência quando começou a estudar guitarra, harmonia, improvisação e canto. Aos dezenove anos, mudou-se para São Paulo e, a partir daí, deu realmente por investir na carreira musical compondo e produzindo trilhas para desfiles de moda, vídeos, peças teatrais e cinema. Em 1991, participou do Rock in Rio II, abrindo shows de nomes de peso e se credenciando, de acordo com o Jornal do Brasil, como a grande revelação do evento. Engajada, a cantora participou de várias edições da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, quebrando tabus, cantando no evento e até criando um hino especial.
Laura geralmente compõe solitariamente, mas possui algumas interessantes parcerias, inclusive com Tom Zé, Edson Cordeiro e Cazuza (com este, ela compôs o hit “Tudo É Amor”, gravado por Ney Matogrosso). Foi pioneira na mistura da música eletrônica com a música popular brasileira, já tendo também passeado pela música instrumental, rock, samba e até por mantras. Nada, contudo, que se aventurasse inteiro pelo terreno nordestino, por isso a (agradável) surpresa ao se ouvir o recém-lançado álbum.
Compacto (já que composto apenas por oito faixas), ele denota uma ruptura com o trabalho que Laura vinha desenvolvendo até então, o que comprova que se está a falar de uma artista de fato criativa e corajosa. Totalmente inédito e autoral (embora haja parcerias em três músicas), o CD, que foi gravado em Recife (PE) e traz a assinatura de Renato Bandeira nos arranjos e direção musical, apresenta forró, ciranda, coco e frevo e se mostra ousado já na primeira faixa, a deliciosa canção-título, na qual Laura atesta que tudo o que se faz hoje é cópia, reverenciando, em seguida, nomes que, estes sim, são originais para ela, tais como Luiz Gonzaga, Vitalino, Dominguinhos, Oscarito e Lampião.
E entre constatações de que o mundo está perdido (em “Todo Mundo pro Mundo”) e também de que, na impossibilidade de se estagnar o tempo, o melhor mesmo a fazer é brincar (em “O Mundo Gira sem Parar”), ela conclui acertadamente que a vida é como um jogo de dados que tem os seus pontos marcados (em “Conexão”) e que, sem dinheiro, resta sonhar, suar e trabalhar (em “Quatro por Quatro”).
Os grandes destaques do repertório, no entanto, ficam por conta de “Olinda”, “Pandeiro de Prata” e “Cirandar”, canções que merecem chegar ao conhecimento do grande público. Muito legal mesmo!

N O V I D A D E S

* O cantor, compositor e multi-instrumentista Luciano Salvador Bahia está lançando o CD “Abstraia, Baby”, o qual chega às lojas através da gravadora Dubas em colaboração com a Universal. Artista inspirado, ele, que já foi gravado por Celso Fonseca e Marcia Castro, vem ratificando ser bastante eclético e criativo. Dono de voz agradável, com timbre sincero que chega a lembrar, em algumas passagens, o de Léo Jaime, ele se utiliza de programações eletrônicas de forma salutar: sempre para adicionar elementos e criar atmosferas, jamais para esconder possíveis fragilidades de canções, o que – é necessário se frisar – aqui não ocorre. Entre o pop rock e batidas brasileiras, como no samba “Madame Gente Fina” (inicialmente, cria do famoso “Pra Que Discutir com Madame?”, de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, mas atualizada pela mudança de conduta da personagem causada pela inusitada paixão lésbica por uma mulata), ele desfia, nas onze faixas autorais e, em sua maioria, inéditas, sensações que resvalam na certeza de que não nasceu para o amor (em “Ruim”) ou que brincam com símbolos que caracterizam e diferenciam cariocas de paulistas (em “Voo das Onze”) ou que recorrem explicitamente a ídolos como Noel Rosa, Dorival Caymmi, Cartola, Jorge Ben Jor, Clementina de Jesus e João Gilberto (em “Nem Venha”, parceria com Cláudia Cunha). A sensualidade e o jogo da conquista, características da obra de Luciano, afloram em diversos momentos, seja na sua forma concreta (em “Aposto”), seja em abstrato (na ótima “A Noite de Ontem Nunca Aconteceu”). Há duas pertinentes e interessantes participações especiais: Eduardo Dussek e Ava Rocha em “Tango do Mal” e “Não Precisa”, respectivamente, dois momentos iluminados do repertório apresentado. Outros destaques ficam por conta da (quase) vinheta de abertura “Afobado”, do bolero "Vergonha” e do blues “Maciota” (composta ao lado de Fabiano Xavier). Um CD de fato delicioso que desce redondinho e dá vontade de ouvir e reouvir inúmeras vezes…

* O grupo pernambucano Nação Zumbi estará lançando em breve um CD recheado de canções inéditas. Produzido por Berna Ceppas e Kassin, o álbum já tem “Cicatriz” como a primeira música de trabalho.

* Notabilizada pelo vídeo da canção “Oração” (de Leo Fressato) que se multiplicou na internet há alguns anos, A Banda Mais Bonita da Cidade lançou recentemente o segundo CD. Mostrando considerável amadurecimento, o álbum “O Mais Feliz da Vida” se faz composto por onze faixas, dez delas cantadas pela vocalista Yuara Torrente. A exceção é “A Balada da Contramão”, interpretada por Rodrigo Lemos, o seu autor, também integrante da banda (que se completa com Vinicius Nisi, Marano e Luís Bourscheidt). Além da canção-título (também criada por Rodrigo), merecem destaque “Potinhos” (de Luiz Felipe Leprevost e Thayana Barbosa) e “Uma Atriz” (de Vitor Paiva). Em “Reza para um Querubim”, surge Troy Rossilho como convidado especial (a música é uma parceria dele com o já citado Leprevost e Thiago Menegassi).

* Dudu Borges foi o produtor escolhido para formatar o próximo CD de Fábio Jr. que já se encontra em fase de gravação e deverá chegar às lojas ainda neste primeiro semestre trazendo um repertório prioritariamente composto por músicas inéditas.

* O cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa está lançando mais um CD. Trata-se de “A Vida Inteira”, um produto que chega ao mercado de forma independente, trazendo onze faixas autorais e inéditas. Com a produção assinada pelo guitarrista Leo Henkin, o álbum possui uma sonoridade leve, meio folk, meio pop, e ratifica o talento de um intérprete correto e de um autor atento ao seu tempo, o que se comprova através da exposição de inquietudes e observações sempre pertinentes. Entre os destaques do repertório estão as faixas “Publique-se a Versão”, “Bora de Borá” e “No Boleto ou no Cartão”.

* O primeiro DVD de Anna Ratto foi registrado ao vivo durante recente show realizado pela cantora no Teatro Rival (RJ), mas o projeto contará com uma faixa extra, a qual foi gravada em estúdio. Trata-se de “Nem Sequer Dormi” que conta com a participação especial de Roberta Sá.

* A voz grave e bonita de Augusto Martins se juntou ao violão arisco e preciso de Marcel Powell (filho de Baden Powell) e, juntos, os dois reverenciam a obra autoral de Zé Kéti no CD intitulado “Violão, Voz e Zé Kéti”, o qual chegou recentemente às lojas através da gravadora Kuarup. O homenageado é um sambista carioca que começou a atuar, na década de quarenta do século passado, na ala dos compositores da Portela, engatando, nos anos seguintes, vários sucessos, a exemplo de "Diz que Fui por Aí" (parceria com Hortêncio Rocha), "Nega Dina", "Leviana", "Máscara Negra" (feita ao lado de Pereira Mattos), "Malvadeza Durão" e "A Voz do Morro", todas elas presentes no repertório desse disco-tributo. O reconhecimento nacional de Zé Kéti, no entanto, só se deu em 1964 quando, levado por Nara Leão, participou do lendário espetáculo "Opinião" ao lado dela (depois substituída por Maria Bethânia) e de João do Vale. Completam o repertório do interessante álbum as menos conhecidas “Tamborim”, “A Flor do Lodo”, “Madrugada” e “Amor Passageiro”, além de uma bela versão instrumental de “Acender as Velas”.

* “Éolo” é o bonito e sugestivo título do segundo álbum de estúdio do grupo carioca Moinho, o qual estará chegando às lojas através da gravadora Coqueiro Verde Records no comecinho do próximo mês.

* Com o show “E que a Gente Não Despedace”, o cantor e compositor sergipano Minho San Liver estará de volta ao palco do Teatro Atheneu a partir das 20:30 horas do dia 02 de abril (próxima quarta-feira, portanto). Apresentando um repertório repleto de pérolas do pop nacional, entre temas autorais e alheios, o artista se fará acompanhado por uma enxuta e vigorosa banda. O evento musical contará com as participações especiais de Gutierre de La Peña e Érica Sá. Por sua vez, depois de algumas semanas em Sampa, a talentosa Patrícia Polayne, de novo de volta à terrinha, se apresentará no dia 03 de abril (quinta-feira), a partir das 20 horas, no Café do Museu da Gente Sergipana. A cantora Héloa será sua convidada. Eu, se fosse você, não perderia esses shows por nada deste mundo porque ambos os artistas fazem uma música inquieta e de inquestionável qualidade. Vambora, então?

* E chamando a atenção de todos para o fato de que, a partir desta semana, o nosso quadro “Musiqualidade” que vinha sendo veiculado todas as sextas-feiras às 10 horas através da Aperipê FM passará a ir ao ar às quintas-feiras no mesmo horário. Anote na agenda e não se esqueça de conferir, ok?

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as quintas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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