Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: MESTRINHO
CD: “OPINIÃO”
Gravadora: GUARUBA PRODUÇÕES

Erivaldo Junio Alves de Oliveira é o nome de batismo de Mestrinho, sanfoneiro natural de Itabaiana (SE) que vem se fazendo conhecer cada vez mais no meio musical nacional por conta de sua habilidade com o acordeão. Neto do tocador de oito baixos Manezinho de Carira e filho do sanfoneiro Erivaldo de Carira, ele possui também dois irmãos enfronhados na música (sua irmã Thaís Nogueira é cantora e seu irmão Erivaldinho também é sanfoneiro). Mestrinho começou a tocar sanfona aos seis anos e aos doze já se apresentava em turnês de bandas da região onde morava. Admirador confesso de Luiz Gonzaga, Sivuca e Hermeto Pascoal, teve em Dominguinhos, com quem chegou a tocar por três anos, a sua maior influência (e quando lhe dizem ser seu sucessor, ele, modesto, afirma ser apenas um seguidor). Quando completou dezessete anos, Mestrinho e a irmã se mudaram de Aracaju para São Paulo e criaram o Trio Juriti, chegando a gravar dois álbuns. Daí em diante, ele começou a ver seu nome disputado para acompanhar a nata do nosso cancioneiro, já tendo dividido o palco com Elba Ramalho, Zélia Duncan, Geraldo Azevedo, Margareth Menezes, Paula Toller, Elza Soares e Mariana Aydar, entre outros. E acompanhou Gilberto Gil em turnê por diversos países europeus, tendo participado ativamente de seu mais recente trabalho, o disco “Gilbertos Samba”.
Nada mais natural, então, que seja Gil o convidado especial do primeiro projeto solo de Mestrinho, o CD intitulado “Opinião”, o qual acaba de chegar às lojas (o baiano se faz presente na música “Superar”). Trata-se de um produto endossado pela Guaruba Produções, composto por quatorze faixas, doze delas inéditas e autorais (as exceções são “Arte de Quem se Ama”, de Elton Moraes, que traz a mana como convidada, e a regravação de “Treze de Dezembro”, de Luiz Gonzaga, Zé Dantas e Gil). Produzido pelo próprio artista ao lado de Sandro Haick, o álbum apresenta ao Brasil de forma definitiva um talento de fato pronto, capaz, inclusive, de realmente surpreender nos dois interessantes temas instrumentais (“Aperto de Mão” e “Arribacão”).
Mestrinho se mostra um músico virtuoso, um compositor inspirado e um cantor correto, dono de timbre macio e bastante agradável. E sua obra – é bom que se frise – não se restringe somente a baiões e xaxados. Há muito mais nela e um ouvinte atento vai encontrar células de jazz e de samba em várias passagens.
E se no xote-título, a primeira canção do disco, ele dá uma lição direta de otimismo, em “Que o Melhor É te Amar” segue no mesmo sentido, mas agora sob o viés amoroso. Ecos de Djavan surgem em “Melhor do Amor” e a saudade do ídolo maior que partiu precocemente se torna explícita em “Pra Sempre Dominguinhos”. Entre os melhores momentos do repertório estão as faixas “Entre Nós”, “Chamego Bom” e “Imprevisivelmente”.
Mestrinho estreia, assim, com o pé direito e certamente ainda tem muito a mostrar. E é Sergipe chegando lá, no lugar que há muito anseia e merece junto ao panteão da MPB. Um CD bem bacana que merece ser conhecido, valorizado e divulgado. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

* Falecido em 1996 com apenas cinquenta anos, o cantor e compositor Taiguara, um uruguaio de Montevidéu que veio para o Brasil com quatro anos de idade, iniciou sua carreira ao ingressar no Sambalanço Trio. Mas o período de maior reconhecimento e visibilidade se deu na década de sessenta do século passado quando viu seu nome atrelado aos festivais de música, deles participando tanto defendendo suas próprias composições como enquanto intérprete. Naquele período em que a ditadura dava as cartas explicitamente por aqui, ele teve problemas com a censura, chegando a creditar a autoria de algumas de suas músicas à sua mulher para conseguir, assim, a liberação das mesmas. Sabe-se agora que Taiguara deixou material inédito e parte dele, mais precisamente onze canções, foi resgatada de fitas cassete através de um moderno processo de digitalização, dando origem ao recém-lançado CD intitulado “Ele Vive”, o qual chega ao mercado através de uma iniciativa da gravadora Kuarup. O rigoroso tratamento sonoro envolveu gravação de novas bases, acompanhamentos, edição, separação e recuperação do áudio, trazendo a lume temas que sempre se mostraram presentes na trajetória do politizado artista. A canção-título, por exemplo, foi composta em homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes para quem Taiguara já havia criado “Cavaleiro da Esperança”. A política também é o pano de frente em “Guerra É Pra Defender” e “Manhã na Candelária”. Já a exploração da mulher se transforma em mote para “Moça da Noite”, “Conflito” e “Alba Esperanza”. E se “Te Quero” se revela como uma apaixonada declaração de amor, “Sou Negro” resgata o lado de defensor daqueles que sofrem preconceito. Há ainda quatro faixas bônus que foram aproveitadas de gravação ao vivo feita durante apresentação no Teatro João Caetano (RJ) e contemplam três dos maiores sucessos da carreira do artista (“Modinha”, de Sérgio Bittencourt, “Helena, Helena, Helena”, de Alberto Land e a autoral “Hoje”), além de uma versão bem particular para “Outubro” (de Milton Nascimento e Fernando Brant). Trata-se, pois de um interessante trabalho de resgate que merece ser aplaudido!

* Embora somente venha a estrear em setembro do próximo ano, o espetáculo de dança “Joana dos Barcos” que está sendo ensaiado pela Cia. de Ballet da Cidade de Niterói já conta com sua trilha sonora concluída, a qual foi composta por Ivan Lins ao lado dos parceiros Claudio Lins e Vitor Martins. Quem já ouviu, garante que vem coisa muito boa por aí!

* A cantora baiana Daniela Mercury anuncia que em breve entrará em estúdio para gravar as canções que integrarão mais um CD. O repertório, embora ainda não divulgado, já se encontra inteiramente selecionado.

* “Convoque seu Buda” é o curioso título do terceiro CD do cantor e compositor Criolo, o qual teve seu trabalho anterior (“Nó na Orelha”, de 2011) incensado pela crítica e elogiado por nomes como Caetano Veloso e Milton Nascimento. O álbum chegará às lojas ainda este mês através do selo independente Oloko Records e, produzido por Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman, trará o rap novamente como eixo central do repertório, mas se abrirá para momentos em que o artista pisará no reggae e no samba.

* A trilha sonora de “Alto Astral”, a nova telenovela global das 19 horas, já começa a ser formatada e brevemente estará disponível no mercado. Entre os fonogramas selecionados estão, além de “Alma” (o tema de abertura, na voz de Zélia Duncan), “Pensando Nela” (com Moska), “Diz Pra Mim” (com a banda Malta), “Verdade, uma Ilusão” (com Marisa Monte), “Sócio do Amor” (com Lulu Santos), “Entre Sem Bater” (com o Jota Quest), “Peço Só” (com Danilo de Moura), “Escândalo” (com Fafá de Belém) e “O que Tinha de Ser” (com Elis Regina).

* O cantor e compositor paulistano Pipo Pegoraro está lançando “Mergulhar Mergulhei”, seu terceiro CD. Produzido pelo próprio artista sob a direção artística de Romulo Fróes, o disco flerta com a MPB e com o jazz, trazendo dez faixas autorais e inéditas e contando com as participações especiais de Filipe Catto, Luz Marina e Xênia França.

* A cantora e compositora Patricia Mellodi está realizando, no Rio de Janeiro, um show dirigido por Márcio Trigo através do qual mergulha na obra musical do conterrâneo poeta piauiense Torquato Neto. Intitulado “Anjo Torto”, o espetáculo (que mistura música, poesia e teatro) joga merecidas luzes sobre o controvertido artista (que, se vivo estivesse, completaria setenta anos este mês) e resgata belas composições por ele criadas ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Luiz Melodia, Edu Lobo e Jards Macalé. Fazem parte do roteiro, entre outros emblemáticos temas do nosso cancioneiro, “Mamãe Coragem”, “Let´s Play That”, “Geleia Geral”, “Louvação” e “Pra Dizer Adeus”. Patricia se faz acompanhada por uma banda enxuta, porém coesa, formada pelos músicos Emerson Mardhine (baixo e direção musical), Pedro Costa (guitarra e violão) e Élcio Cafaro (bateria) e se mostra segura e inteiramente à vontade nesse projeto que se transformará em CD, o qual chegará às lojas no próximo ano. Na área externa do Teatro Cândido Mendes, o local das apresentações, o público se depara com duas exposições que trazem fotos e poesias do saudoso Torquato, um ativo participante do Tropicalismo.

* A Turma do Balão, grupo infantil criado pela gravadora CBS no início da década de oitenta do século passado, tem seus os três primeiros discos reeditados, em edição especial, pela Sony Music através de um projeto bem bacana que está sendo vendido em forma de livro com gravuras e colagens adicionais. Há as participações especiais de Djavan (no hit “Superfantástico”), Fábio Jr. (em “Amigos do Peito”), Roberto Carlos (em "É Tão Lindo”), Fofão (em “Dias de Festa”/”Atirei um Pau no Gato”) e Baby Consuelo (em “Juntos”). Em outro momento, Baby também aparece ao lado do então companheiro Pepeu Gomes (em “Mãe, Me Dá um Dinheirinho?”).

* A próxima homenageada do projeto Sambabook (que já contemplou João Nogueira, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho) será (merecidamente) Dona Ivone Lara que terá as principais músicas de seu cancioneiro autoral regravadas por artistas convidados para edição de CD duplo, DVD e blu-ray. O lançamento acontecerá no primeiro semestre do próximo ano.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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