Musiqualidade

R E S E N H A   1

Artista: RODRIGO LIMA
CD: “SAGA”
Selo: JSR

De fato, não é à toa que o primeiro álbum solo de Rodrigo Lima, um CD duplo, se intitula “Saga”. Reunião de sons com diversas participações especiais, esse trabalho inaugural realmente marca de forma definitiva o nome do artista no panteão dos grandes da atualidade no nosso cenário musical.
Rodrigo é compositor, cantor, ator, arranjador e múltiplo instrumentista (toca violão, guitarra, viola caipira, teclados, charango e percussão), e soube construir, capitaneado pelo experiente e competente produtor Arnaldo DeSouteiro, um projeto em que, antes de qualquer coisa, se consubstancia como uma celebração à música. Gravado para o selo JSR entre Los Angeles, Nova Iorque, Rio de Janeiro e Curitiba, mostra o artista se arriscando, sempre com resultados irretocáveis, por vários estilos musicais (ele, desde pequeno, influenciado pelo pai e pela mãe, ambos apaixonados por música, aprendeu a ouvir de tudo), os quais passeiam por ritmos genuinamente brasileiros (há o baião “Brasileirão”, o choro “Novos Cariocas” e a bossa-nova “Altinho”), além do jazz (“Palinha de Vinho”, tema inédito de Hermeto Pascoal, composto durante o jantar em que os dois se conheceram).
Composto por dezessete canções, quinze delas autorais (onze criadas solitariamente), o projeto se apresenta majoritariamente instrumental, mas em dois ótimos momentos Rodrigo solta a voz e o faz com desenvoltura: em “Samba da Mistura”, assinada com João Cavalcanti (integrante do grupo Casuarina e filho de Lenine) e em “Porta Aflora”, canção composta ao lado de Pedro Rocha. As outras parcerias apresentadas são com o já citado Hermeto (“Nosso Borogodó Coió”) e com Pedro Amaral (“Opa!”).
Gerado desde 2012, mas chegando ao mundo somente agora no final do ano, “Saga” vem recheado de “notáveis companheiros de viagem”. Entre eles, o famoso fotógrafo Pete Turner, responsável pela arte da capa, e o irrequieto poeta e escritor Geraldo Carneiro que escreveu, entusiasmado, o texto de apresentação constante do encarte.
Mas os convidados mais que especiais não param por aí: há desde um belo solo de trombone do insuperável Raul de Souza em “Canção Praieira” (uma homenagem a Dorival Caymmi) até um duo de baixos feitos por Jamil Joanes e Frank Herzberg no supramencionado “Brasileirão”. E por falar em duetos de um mesmo instrumento, o ouvinte mais atento poderá também se deleitar com isso em “Altinho”, faixa que conta com duas baterias (a cargo de Cesar Machado e João Palma) e dois Fender Rhodes (tocados por Hugo Fatturoso e Lulu Martin). E se “A La Vuelta”, um dos destaques, se fez inspirada por uma viagem pelos Andes, há que se ressaltar por justo a bela adaptação jazzística que resultou em “Brahms”, inspirada no terceiro movimento da Sinfonia nº 3 do compositor alemão Johannes Brahms. E, como auxílio luxuoso, também se fazem presentes a excepcional cantora Ithamara Koorax e o grande percussionista Laudir de Oliveira, entre outros ainda.
Eclético, Rodrigo encontra espaço tanto para brilhar com reflexivo número de violão-solo (“A Velha Sozinha”) quanto para ousar nas experimentais “Tango”, “Ânima 2” e “Pilotos”, mostrando ser um músico realmente acima da média e fazendo valer todos os merecidos aplausos à sua muito bem-vinda estreia no mercado fonoráfico. Corra, ouça e divulgue!

R E S E N H A   2

Cantora: ALICE CAYMMI
CD: “RAINHA DOS RAIOS”
Gravadora: JOIA MODERNA

É até comum o caso de cantoras que passam a ser comentadas nacionalmente assim que lançam seus primeiros CDs. Isso aconteceu com Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Ana Carolina, Maria Rita e Maria Gadú. Difícil é ver isso acontecer quando, após se lançar um disco de estreia pouco comentado, o segundo se torna o assunto da hora no mercado fonográfico. É isso o que está a ocorrer com Alice Caymmi, neta de Dorival Caymmi.
Filha de Danilo, o rebento mais novo daquele conhecido clã musical, ela começou de fato a causar geral no início deste ano quando apresentou o show “Dorivália” no qual revisitou, sob uma ótica carnavalizante, várias canções do vovô famoso. Adotando agora um visual caprichado, com cabelos loiros absurdamente desgrenhados e maquiagem bastante pesada, Alice parece ter encontrado a maneira mais apropriada de fazer marcar sua imagem.
Dona de bonita voz grave, o que, por si só, já a diferencia da maioria das cantantes que ora pululam por aí, talvez o grande mérito da artista seja o de quebrar paradigmas no tocante à escolha de repertório (composto por nove faixas, majoritariamente regravações muito bem concretizadas). No set list de seu novo CD, o aclamado “Rainha dos Raios”, um lançamento da gravadora Joia Moderna, ela não se faz de rogada ao reunir no mesmo caldeirão sonoro nomes de ponta da nossa MPB (caso de Caetano Veloso que aparece em três momentos: “Homem”, “Jasper”, feita com Arto Lindsay e Peter Sherer, e “Iansã”, esta uma parceria com Gilberto Gil) com outros voltados a um segmento mais popular do nosso cancioneiro (tipo Michael Sullivan com quem ela compôs a pseudobrega “Meu Recado”). Extremamente eclética, ela ainda põe lado a lado hit radiofônico propagado na década de setenta do século passado pela cantora Lilian (a balada “Sou Rebelde”, de Manuel Alejandro e Ana Magdalena em versão de Paulo Coelho) e bela canção da safra de compositores atuais (“Como Vês”, de Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, tema originalmente lançado pelo grupo Tono). Ou pérola sofrida criada por Maysa (“Meu Mundo Caiu”) e funk music assinado pelo MC Marcinho (“Princesa”). Completa o repertório a autoral, inédita e delicada valsa “Antes de Tudo”.
O álbum também possui outro enorme mérito que é o de jogar luzes sobre o talento do polivalente carioca Diogo Strausz, responsável não só pela produção e pelos arranjos, mas também pelas execuções de guitarra, baixo, synts e programações (sempre muito adequadas).
É, se você ainda não conhece o trabalho de Alice Caymmi, se jogue e faça-o antes deste ano acabar. Ainda dá tempo!
Em tempo: A artista registrou recentemente apresentações do homônimo show, as quais foram realizadas no Teatro Itália, em São Paulo (SP), e o resultado disso chegará às lojas no próximo ano.

N O V I D A D E S

* Em seu terceiro CD (intitulado “Canto”), recém-lançado em Portugal e que em breve estará chegando ao Brasil, a cantora Carminho conta com a presença de ilustre convidada: trata-se de Marisa Monte que se faz presente na inédita “Chuva no Mar”, parceria dela com Arnaldo Antunes. Já Caetano Veloso apresenta a sua primeira parceria com o filho Tom Veloso, a canção “O Sol, Eu e Tu”, também assinada por Cézar Mendes.

* A 3ª Temporada do programa global The Voice Brasil está chegando ao fim, mas já se faz perpetuada através de um CD que chegou recentemente ao mercado através da gravadora Som Livre. São vinte faixas (metade cantada em inglês, metade em português) que revelam ótimos talentos, a exemplo de Dudu Fileti, Gabriel Silva, Valerie, Isadora Morais, Kall Medrado, Paulo Soares, Rose Oliver e Twyla. E em breve, em dois volumes, serão lançadas também as batalhas.

* Mais de uma década após pôr no mercado seu derradeiro trabalho, Tibério Gaspar (famoso por ter dado luz a conhecidas canções como “Sá Marina” e “Teletema”) está lançando um novo CD. Trata-se de “Caminhada”, um produto que chega às lojas em edição independente com a produção a cargo de Alex Moreira e sob a direção musical de Júlio Brau. Projeto eminentemente autoral, o disco traz, no repertório, as canções “A Voz da América”, “Dono do Mundo”, “Vitória do Bem” e “Será que Eu Pus um Grilo na sua Cabeça?”, entre outras.

* “Vermelho” é o título do novo CD que reúne o piano de Luis Felipe Gama e a bela voz de Ana Luiza. O repertório é majoritariamente formado por canções criadas por ele ao lado de diversos parceiros, a exemplo de Heron Coelho, Consuelo de Paula, Tiago Torres da Silva e Delcio Carvalho. As exceções ficam por conta das regravações de “Sacramento” (de Nelson Ângelo e Milton Nascimento) e “Llora” (de Marta Valdés). Acompanhados pelo baixo acústico de Alberto Luccas e pela bateria de Everton Barba, os dois se mostram à vontade para mostrar os vários temas inéditos entre os quais merecem ser destacados “Por Trás das Janelas”, “Danos Morais” e “Canção do Nosso Amor”.

* O primeiro disco solo do Grupo Semente, especialista em samba e que acompanhou durante considerável período a cantora Teresa Cristina, acaba de chegar ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. O projeto conta com as participações especiais da já citada Teresa, de Diogo Nogueira e de Pedro Miranda.

* Dani Calazans é atriz e cantora graduada em Música Popular Brasileira pela UniRio. Além de ter feito a direção musical da aclamada peça “Muita Mulher pra Pouco Musical”, ela já conquistou prêmios em festivais de composição por todo o país, além de ter participado das peças “Folia no Matagal” (em Salvador – BA, fazendo backing vocal para Luis Salém), “Entre Quatro Paredes”, “Enlace” e do musical infantil “O Jardim das Borboletas”. Após ter integrado a Companhia Eclética de Garçons Cantores, atualmente canta com o grupo vocal Réus Confessos e acabou de lançar “Hard Bolero”, seu primeiro CD solo, uma produção independente capitaneada por ela própria ao lado de André Poyart. São onze faixas, dentre as quais duas autorais assinadas com o citado Poyart, as quais reúnem boas criações de compositores da cena atual, tais como Vinicius Castro (“Salto Agulha”, “A Sentença” e “Quebrupasso”, esta feita com Luiz Morais) e Matheus Von Kruger (“Penugem Arapuca”, parceria com Eduardo Brechó). Dani emprega sua voz de timbre característico com a propriedade que a experiência de atriz lhe confere, resgatando com grande perspicácia o conhecido tema francês “Non, Je Ne Negrette Rien” (de Charles Dumont e Michel Vaucaire).

* A cantora paulistana Rita Bastos, filha de Vânia Bastos com o cantor, compositor e violonista Passoca, está estreando no mercado fonográfico com o CD intitulado “Pode Ser”. São onze faixas inéditas e autorais (quatro criadas com parceiros), dentre as quais “Caminho do Rio” que traz a participação da mãe. O pai assina a coordenação geral do projeto.

* Ney Matogrosso está lançando, através de uma parceria entre o Canal Brasil e a gravadora Som Livre, o registro ao vivo do show “Atento aos Sinais”. Já disponível nos formatos CD e DVD (este com dois números adicionais aos dezessete contidos naquele), o projeto foi gravado em junho deste ano durante apresentação realizada no HSBC Tom Brasil, em São Paulo. Nei, como se pode facilmente constatar, continua com a voz em forma e hipnotizando a plateia com suas performances únicas. O repertório é calcado no de seu mais recente e homônimo CD de estúdio, mas se torna inquestionável como certas músicas crescem no palco, caso de “Freguês da Meia-Noite” (de Criolo), “Beijos de Ímã” (de Jerry Espíndola, Alzira E e arrudA) e “Não Consigo” (de Rafael Rocha). Antenado com as estratégias atuais de marketing, Ney incluiu outras canções no set list que servem de chamariz para os seus fãs: “Vida Louca Vida” (de Lobão e Bernardo Vilhena), “Two Naira Fifty Kobo” (de Caetano Veloso), “Astronauta Lírico” (de Vitor Ramil) e “Ex-Amor” (de Martinho da Vila).

* Este blog deseja a todos um Feliz 2015! Que o ano novo traga decência para os que têm nas mãos os destinos do nosso povo e que a harmonia da música possa inspirar a fraternidade necessária para fazer brilhar todos os corações e mentes!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o quadro "Musiqualidade" dentro do programa "Canta Brasil”, veiculado pela Aperipê FM todas as segundas-feiras, às 10 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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