Musiqualidade

R E S E N H A

Cantores: FITO PAEZ & MOSKA
CD: “LOCURA TOTAL”
Gravadora: SONY MUSIC

Moska (que já assinou artisticamente Paulinho Moska) é um carioca que começou a tocar violão aos treze anos. Sempre ligado às artes, formou-se em teatro e cinema pela CAL (Casa de Artes de Laranjeiras), no Rio de Janeiro. No meio musical, começou integrando o grupo vocal Garganta Profunda e, em seguida, formou a banda Inimigos do Rei. Cantor de ótimos recursos vocais e compositor geralmente inspirado, ele vem desenvolvendo com coerência sua carreira solo e, de uns anos para cá, está a demonstrar interesse em dividir experiências e palcos com artistas de outras nacionalidades, a exemplo do uruguaio Jorge Drexler e do argentino-americano Kevin Johansen.
De há muito admirador de Fito Paez, compositor, cantor e pianista que também se arrisca como cineasta e roteirista e é considerado pela crítica um dos mais importantes expoentes do rock argentino, Moska está lançando, através da gravadora Sony Music, o CD intitulado “Locura Total”, o qual, em muito boa hora, reúne os talentos desses dois inquietos artistas.
Produzido pelo experiente Liminha, o álbum se faz composto por uma dúzia de faixas inéditas e autorais, cinco delas criadas por ambos em parceria (há duas assinadas somente por Fito, três compostas solitariamente por Moska e duas músicas feitas por este ao lado de Carlos Rennó: a direta “Onde Você Passou a Noite”, dona de refrão simples e eficiente com grooves funkeados, e “Mais que Tudo que Existe”, que lembra – de leve – alguns temas pretéritos de Lulu Santos). Em suas primeiras oito faixas, o disco soa primoroso, perdendo um pouco o pique somente a partir da nona. Mesmo assim, já se destaca como um dos melhores lançamentos do ano muito por eternizar um encontro que tem como principal qualidade a de soar natural: as vozes de Moska e Fito combinam e se agregam e, no quesito composição, ambos igualmente se completam, tornando-se até difícil saber, em alguns momentos e não se verificando isso na ficha técnica, quem escreveu a letra e quem criou a melodia de determinada canção.
O CD se abre com a deliciosa “Hermanos”, música de contagiante pegada pop cujos versos ressaltam o espírito fraterno e segue com “Milagros Y Heridas”, única faixa do repertório que é cantada em espanhol, um inspirado rock em que a espirituosa letra ressalta as peripécias (hipotéticas ou não) vividas por Moska e Fito em seus encontros de música e de vida. Temas mais consistentes, elaborados a partir de observações banais, são abordados em “Impossível Escrever sobre Nada” e “Adiós a las Cosas”. Moska, que tem se mostrado um compositor cada vez mais eclético, apresenta três interessantes sambas, os quais são devidamente acompanhados por Fito. O melhor deles é “Filhos do Amor” que discorre inteligentemente sobre o mais comentado dos sentimentos. Mas há também uma bem-humorada história de paixão contada em “Garota Muchacha” e o fechamento do conceito do projeto com “Flores de Abraços”. E se a faixa-título, com seu andamento bastante característico, passeia entre ondas baianas e havaianas, homenageando Dorival Caymmi, “Nuestra História de Amor” se revela apropriada através de estrutura melódica que flerta com as canções de cunho mais popular. Já “O Sol Ainda Será Brilhante”, um outro rock, cumpre seu ciclo com citação a “Back in Bahia”, de Gilberto Gil.
Trata-se, de fato, de um CD muito legal que, por assim ser, merece ser conhecido e comentado. Corra e ouça!

N O V I D A D E S

* O cantor e compositor catarinense Carlos Careqa é fã confesso de Tom Waits (músico, instrumentista, compositor, cantor e ator norte-americano, famoso por sua voz grossa e rouca e suas letras por vezes esquisitas e intrigantes, embebidas em lirismo e amargura, que se adaptam a vários gêneros musicais, como rock, jazz, folk e blues), tanto que em 2007 já havia lançado um álbum (“À Espera de Tom”) cujo repertório era formado por quatorze canções deste vertidas para o português por aquele. Fato que se repete agora com o lançamento do CD intitulado “Por um Pouco de Veneno”, o qual chegou recentemente às lojas de maneira independente. Produzido a quatro mãos por Marcio Nigro e Mario Manga, dois talentosos e experientes multi-instrumentistas, o recém-lançado projeto se faz composto por treze faixas e mostra Careqa em momento inspirado. Acompanhado por músicos de ponta, a exemplo de Tiago Costa (ao piano), Claudio Tchernev (na bateria) e Luiz Serralheiro Popo (na tuba), além logicamente dos já citados Nigro e Manga, o artista eterniza o show realizado em junho de 2014, no Sesc Belenzinho, em São Paulo (SP), o qual contou com as bem-vindas participações especiais das cantoras Fabiana Cozza (em “Perdoa minha Cara”) e Bruna Caram (em “Bicicletas” e “Olha pro Céu”).

* Alaíde Costa se entregou ao violão precioso e solitário de Toninho Horta para pôr sua bela e delicada voz a serviço de músicas do repertório do Clube da Esquina. Intitulado “Alegria É Guardada em Cofres, Catedrais”, o álbum, embora gravado em 2012 sob a produção de Geraldo Rocha, somente está sendo lançado agora e de forma independente. O set list contempla verdadeiras pérolas do nosso cancioneiro, a exemplo de “Travessia” (de Milton Nascimento e Fernando Brant), “Nascente” (de Flávio Venturini e Murilo Antunes), “Sol de Primavera” (de Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e “Beijo Partido” (do próprio Toninho). E por falar em Alaíde, ela estará lançando em 2016, o primeiro DVD de sua carreira.

* Cantor de timbre extremamente grave e bonito, embora não seja possuidor de uma grande extensão vocal, o paulista Luiz Pié está lançando, através da gravadora Fina Flor, o seu primeiro CD. Intitulado “Memória Afetiva”, o álbum foi produzido por Roberto Menescal e a digital deste está lá, nítida e inconfundível. São doze faixas, todas elas regravações, nas quais Pié se faz acompanhado por uma banda-base formada pelo próprio Menescal (na guitarra) e mais Adriano Souza (ao piano), Adriano Giffoni (no baixo) e João Cortez (na bateria). O repertório prioriza temas que puderam ser transportados para o ambiente cool da Bossa Nova e estão presentes, entre outras belas canções, “O Bem e o Mal” (de Danilo Caymmi e Dudu Falcão), “Ciúmes” (de Carlos Lyra), “Fim de Caso” (de Dolores Duran), “Manhã de Carnaval” (de Luiz Bonfá e Antonio Maria) e “Último Desejo” (de Noel Rosa). O onipresente Milton Nascimento avaliza o lançamento, dividindo os vocais na releitura de “Pai Grande”, de sua autoria.

* Juntos em turnê pelo Brasil com o show “Dois Amigos, um Século de Música”, com o qual comemoram, cada um, cinquenta anos de carreira, os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil compuseram recentemente uma nova canção. Intitulada “As Camélias do Quilombo do Leblon”, trata-se na verdade de um samba, gênero que já se tornou uma especialidade dos dois artistas.

* A gravadora Warner está repondo em catálogo, devidamente remasterizados, os quatro primeiros discos do cantor e compositor Lulu Santos, o rei do pop nacional, os quais foram originalmente lançados na primeira metade da década de oitenta do século passado. No álbum homônimo de estreia, em 1982, o artista já engatava alguns sucessos como “Tempos Modernos”, “Tudo com Você”, “De Repente Califórnia” e “Areias Escaldantes”. Em “O Ritmo do Momento”, de 1983, Lulu frequentou as paradas da época com “Adivinha o Quê”, “Um Certo Alguém”, “Como uma Onda” e “Esse Brilho em teu Olhar”. Já em “Tudo Mais”, de 1984, os destaques ficaram por conta de “Tudo Azul”, “Certas Coisas”, “Lua de Mel” e “O Último Romântico”. Finalmente, no álbum homônimo de 1985, chegou para ficar a suingante música “Sincero”. É o retrato de um tempo em que as músicas se faziam eternas pela qualidade…

* O terceiro álbum solo da cantora Barbara Eugênia se intitula “Frou Frou” e está chegando este mês às lojas. Com a sonoridade voltada para a disco music, esse novo CD tem a produção assinada por ela ao lado de Clayton Martin.

* A cantora e compositora paulistana Klébi Nori está comemorando vinte anos do lançamento de seu primeiro disco e, para marcar essa data redonda, acabou de fazer chegar ao mercado, através da gravadora Dabliú Discos, o CD “Sambarás”. Trata-se, como o próprio título já entrega, de um projeto no qual mergulha integralmente no terreno do samba (ela que, até então, em seus seis discos anteriores, vinha flertando com o pop) e o faz com talento e versatilidade. Com a direção artística a cargo do experiente Eduardo Gudin e os arranjos sob a responsabilidade do violonista Gian Correa, o álbum não tenta reinventar a roda e percorre vários tipos do gênero mais famoso do Brasil de forma eficaz e com sonoridade simples, porém bem equilibrada. Especialmente neste trabalho, o lado compositora de Klébi se destaca com relação ao de intérprete, talvez porque cantar samba seja mesmo uma tarefa bastante complexa. Composto por doze faixas autorais e inéditas (sete delas criadas solitariamente pela artista), o repertório alcança os seus melhores momentos, além da canção-titulo, com “Não É Garoa”, “Vamos e Venhamos”, “Samba Mulher” e “Climática” (esta uma parceria com o já citado Gian). Vale a pena conhecer!

* ”Da Boca pra Dentro”, o segundo CD da cantora e compositor Julia Bosco (filha de João Bosco) será produzido pelo capixaba Juliano Rabujah. O repertório, em fase de seleção, já tem como certas as inclusões de “Domingo” (de César Lacerda e Fernando Temporão) e “It's Wherever You Go” (de Mombaça e Chiara Civello). A conferir!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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