Nada de verdades, por favor!

Tô na vida beijando a mão do carrasco que não entende do jogo, mas quer jogar. Todos nós queremos jogar, nem que seja o que achamos serem nossas verdades na cara do outro. Tem gente que leva uma busca incansável por passar vergonha como sendo um estilo de vida. O problema é que estamos condicionados a esse estilo de vida miserável de acharmos que o pouco já basta. Eu mesmo estou assim: beijando a mão do carrasco entre uma chicotada e outra. Por que no fundo eu e você já nos acostumamos com a brisa da dor.

Penso que o peso de cada pessoa não está na balança, mas naquilo que o silêncio se alimentou, e engoliu e nunca cuspiu de verdade. Na verdade o que cuspimos ou está imerso em mentiras ou ainda é superficial. Tudo porque nossas verdades são superficiais e mesmo achando que não, caro leitor, eu e você estamos vagando na margem dos sentimentos, pois na margem flutuam: os pensamentos sem tempo de raciocínio, os amores levianos, as dores nunca curadas e o despeito. Tudo junto flutuando igual a um pedaço de isopor que foi descartado em alto mar depois de ser usado para fazer uma maquete desengonçada, mal pintada e entregue como trabalho escolar. Tudo anda meio feio e sem graça e não adianta maquiagem. Só a verdade mais profunda é bonita e a catedral já é cinza subindo pra avisar que acabou.

Mas quem em sã consciência teria coragem de enfrentar e falar sobre suas verdades? Eu não tenho, na verdade reconheço picos de verdades presentes em mim, mas sei que as pessoas não estão preparadas para ouvir verdades reais sobre mim, sobre as coisas, sobre elas. Assim, vivemos de picos de verdades, onde às vezes falamos e somos repreendidos por tal, pois mais complicado do que falar uma verdade real é ouvi essa mesma verdade real. Nossos ouvidos estão acostumados ao comum, ao banal e, também, a mentira. Quando até um simples pico de verdade atravessa o ouvido, o cérebro reage como? rebatendo o outro em seu momento verdade. Preferimos morrer na mentira, pois nosso eu verdadeiro não tem espaço em lugar nenhum ultimamente, talvez nos poucos minutos de uma oração feita em silêncio dentro da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, mas que pela ambição alheia não chegou a ser oração, provavelmente, um resquício de verdade e só. Ah gente, não temos tempo pra verdades, precisamos admitir!

Mas não vou aqui provocar uma ode à mentira. Não falar a verdade pode ser também apenas um momento pra não falar nada. Ultimamente ando com vontade só de me calar e observar. Ter 40 anos deve ser assim mesmo: silenciar a voz, curar as otites e deixar os ouvidos mais afiados pra aproveitar a falta de verdade de nossos dias atualizando só o olhar e o silêncio. O problema é quando não entendem que nosso silêncio nada mais é que a falta de verdade, e querem atitudes e ações nossas enquanto nossas células só querem aquietar as coisas, como uma pedra descendo lá num rio distante, sem ninguém agitar suas águas. Queria escrever bilhetes para algumas pessoas pedindo que respeitassem meu silêncio, seria mais ou menos algo assim:

(nome da pessoa)!

Entenda apenas que suas verdades não me dizem respeito e vice-versa. Não temos mais intimidades para eu falar de verdades com você até porque você nunca se mostrou realmente como você é. Também não cobro você por isto. Te entendo. Então faça o seguinte: me deixe em silêncio. Te amo, te respeito e isso deve bastar, mas não queira que eu me desdobre pra aturar suas meias verdades e aplaudir algo que sei não ser você realmente. Não precisamos ser sinceros um com o outro, basta dar esse tempo de silêncio! Você consegue ver o quanto o silêncio é bonito? Ele (o silêncio) diz muito sobre tudo, inclusive sobre você não falar a verdade e eu sobre me calar diante de tanto tempo perdido sem construção de laços.

Peço que entenda que meu silêncio, minha recusa em sair de mim para com você nada mais é do que o meu cansaço em tentar ser verdadeiro e não conseguir. Só que o que nos torna tão diferentes é que eu cansei e falo sobre isso, enquanto você leva o mundo como um baile, ultrapassado, mas um baile. Então vamos fazer assim: eu silencio para não ouvir você tentando ser sincera e você me dá esse espaço que é meu de direito. Apenas isso! Sem dramas ou choros, sem raivinhas ou brigas pelo celular. No silêncio que deu vazão ao que deveria ter sido verdade eu quero estar. Sem você por perto, mas vamos nos respeitar!

Fim.

JN.

Assim seria o mesmo bilhete, só mudando artigos e nomes. Deixaria escrito meu pedido de silêncio e sairia de mansinho “como alguém que nunca esteve aqui”.

Para contar sobre suas verdades e pontuar seus silêncios me encontro no Instagram: @jaimenetoo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais