Mônica Porto Apenburg Trindade
Graduada em História e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Orientador: Dilton Cândido Santos Maynard.
Pesquisa as relações entre Rock e Guerra Fria, com foco nos Estados Unidos e Inglaterra.
E-mail: apenburg@getempo.org
O vento da mudança
Sopra diretamente na face do tempo
Como um vento tempestuoso que tocará
O sino de liberdade para a paz de espírito
Deixe sua balalaica cantar
O que minha guitarra quer dizer.
(Wind of Change, Scorpions, 1990). (Tradução nossa).
Há 30 anos, em 09 de novembro de 1989, o mundo assistia através dos noticiários de TV, a queda do muro de Berlim, que representou durante mais de duas décadas, um símbolo de separação, não só da Alemanha em Oriental e Ocidental, mas também em relação à própria divisão do mundo entre socialistas e capitalistas no período da Guerra Fria (1947-1991).
A Guerra Fria foi inicialmente identificada pela historiografia em 1947 como um tipo de guerra não declarada entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S). Posteriormente, esse termo passou a ser aplicado para nomear um conflito mais abrangente, envolvendo os blocos soviético e ocidental. De forma geral, esta pode ser caracterizada ainda por uma fase que começou em 1947, finalizando em 1991, com a desagregação da U.R.S.S (MUNHOZ, 200, p. 218).
No que concerne à construção do muro de Berlim, este foi erguido em agosto de 1961, pela República Democrática Alemã (RDA), que abrigava os países socialistas sob a direção do regime soviético. A edificação do muro se constituiu como uma área fronteiriça material e simbólica que separava territorialmente Berlim. Sendo assim, os laços de fraternidade, bem como as relações culturais e aspectos ideológicos que já vinham sofrendo modificações ao longo da Guerra Fria, ficaram ainda mais evidentes e antagônicos após 1961.
Com o decorrer da guerra, já na década de 1980, Mikhail Gorbachev (1931 -) assumiu o poder da URSS em 1985, executando as políticas reformistas da Perestroika (política de reestruturação e abertura econômica) e da Glasnost (política de transparência). Tais iniciativas, dentro da conjuntura política e econômica da época, provocaram alterações significativas no andamento do conflito e sinalizaram para o mundo, um Novo Vento de Mudança que se aproximava.
A queda do muro de Berlim no final dos anos 1980, culminando com a desintegração da URSS – fato ocorrido em 1991 – representou a efetivação da finalização de um mundo claramente dividido em mais de 40 anos de Guerra Fria. Sua queda indicou o quanto aquele mundo precisava de integração, de olhar para o outro lado, de derrubar seus próprios muros. O objetivo era recomeçar, visando um futuro melhor.
Tal desejo certamente foi registrado através de vários meios de divulgação da época, inclusive, por intermédio da música, a exemplo da canção Wind of Change, da banda de rock alemã Scorpions, lançada em 1990. A canção ressaltou as mudanças que estariam por vir a partir de um mundo sem barreiras ideológicas ou muros que impedissem as pessoas de se aproximarem: O mundo está se aproximando / Você já chegou a pensar / Que poderíamos ser tão próximos, como irmãos? / O futuro está no ar / Eu posso sentir isso em todos os lugares / Soprando com o vento da mudança. (Wind of Change, Scorpions, 1990). (Tradução nossa).
Trinta anos após a queda do muro de Berlim, podemos afirmar que o Vento da Mudança realmente percorreu o mundo favorecendo finalizações, reinícios e transformações. No entanto, o evento ocorrido em 1989, ainda nos apresenta importantes lições e desafios para o século XXI. Mostra que alguns muros invisíveis precisam ser derrubados todos os dias, como, por exemplo, os muros dos mais variados tipos de intolerância, da xenofobia, da falta de compreensão do que vem a ser O Outro, do direito de ser O Outro. São muros que ainda nos afastam como seres humanos e que nos advertem sobre a urgência de clamarmos sempre por novos ventos de mudanças.
Referências
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
JUDT, Tony. De quem é esta história? A Guerra Fria em retrospecto. In: – Reflexões sobre o século esquecido (1901-2000). Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 409-425.
LOWE, Norman. História do Mundo Contemporâneo. Porto Alegre: Penso, 2011.
MUNHOZ, Sidnei. Guerra Fria: Um Debate Interpretativo. In: – O século Sombrio: Uma história geral do século XX. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 261-274.
Fonte
Canção Wind of Change, Scorpions, álbum Crazy Word, 1990, Gravadora: Mercury Records. Videoclipe disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=n4RjJKxsamQ.