Prof.ª Dr.ª Andreza Maynard
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
Estamos nos aproximando do final do ano e já podemos ver vários estabelecimentos comerciais, prédios e moradias com enfeites que nos lembram que devemos nos preparar para o natal. Os pinheiros artificiais, as renas e luzes decorativas nas fachadas dos condomínios, bonecos de neve e mesmo papai Noel chegando ao shopping a bordo de um caminhão da Coca-Cola podem causar espanto em alguns aracajuanos. Tais características são decorrentes da influência cultual dos Estados Unidos sobre o Brasil, algo que remonta ao início do século XX. Mas afinal, quais são as nossas tradições natalinas?
Ao abordar este tema é impossível não mencionar o Carrossel do Tobias. A atração chegou a Aracaju em 1904 e funcionou até 1987 durante as festas de final de ano no Parque Teófilo Dantas, centro da cidade. Anunciado pelo jornal Gazeta de Sergipe em 28 de dezembro de 1904 como um “aparelho movido a vapor” e “iluminado à luz elétrica”, sabia-se que a novidade fora fabricada nos Estados Unidos e que as crianças passaram a contar com a sua montagem todos os anos.
Mesmo diante de grandes dificuldades, como a Segunda Guerra Mundial, os aracajuanos paravam tudo para celebrar o natal. Em 1943 faltou energia na cidade e no ano seguinte choveu muito. A edição de 27 de dezembro de 1944 do Correio de Aracaju destacou que a festa havia ocorrido com “simples e costumeiras distrações para crianças. Bares. Rua do Egito. Música e muita luz, mas nenhuma animação” e ainda “tudo mais caro: cerveja, guaraná, etc”. Para piorar choveu forte por volta das 22h do dia 24, com isso a multidão dispersou e as poucas pessoas que resistiram se depararam a Praça da Catedral (onde fica o Parque Teófilo Dantas, que recebia o Carrossel do Tobias) enlameada e sem música.
Em 1999 foi iniciada uma tradição natalina em Aracaju que chamou a atenção não apenas dos sergipanos, mas também do Guiness Book. A árvore da Energisa chegou a ter 127,99m de altura e foi considerada a árvore de natal mais alta do mundo. Em 2008 um acidente vitimou 4 pessoas (operários terceirizados) que trabalhavam em sua montagem. No ano seguinte ela chegou a ser erguida, mas o avanço das águas inviabilizou a continuidade da tradição que ficou na memória afetiva dos aracajuanos. Em substituição à árvore, a Energisa implantou o natal iluminado no Parque Augusto Franco (Parque da Sementeira).
A novidade em 2019 fica por conta das dicas dos digital influencers, que nos mostram como celebrar o natal. Eles nos dizem o que comprar e onde comprar tudo para a festa perfeita. Em tempos de uberização em vários setores, temos a indicação de lojas e prestadores de serviços que se disponibilizam a ir até as residências montar árvores decoradas por R$ 150,00 em Aracaju.
Essas promessas de um natal perfeito nos fazem esquecer que nós somos humanos e que as nossas experiências, emoções e sensações não são idênticas. É preciso refletir sobre o que é passageiro e o que deve permanecer. O sorriso das crianças, a união entre as famílias e o desejo de contribuir para o mundo se tornar um lugar melhor para se viver certamente fazem parte das nossas tradições natalinas. Torço para que essas tradições se prolonguem ao longo dos anos.