“Viva Cuba”: a Revolução Cubana e a série “One Day At a Time”

Lorena Guimarães Leal dos Santos

E-mail: lorenagleals@gmail.com

Graduanda em História pela Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Orientadora: Prof.ª Msc. Raquel Anne Lima de Assis.

Pesquisa a relação de Cuba e Estados Unidos na série da Netflix “One Day At a Time” (2016-)

 

Em 1959, irrompe a Revolução Cubana (1953-1959). Os revolucionários, liderados por Fidel Castro (1926-2016), derrubaram o governo do militar Fulgencio Batista (1901-1973), ditador cubano favorecido pelos Estados Unidos. Assustada com os possíveis caminhos do socialismo na ilha, a elite de Cuba passa a elaborar maneiras a escapar. As políticas de imigração começam a ser preparadas. A primeira onda de imigrantes para os Estados Unidos é constituída pelos mais ricos.

Uma série de organizações foram pensadas a fim de promover a onda imigratória. Um exemplo efetivo destas é a “Operação Peter Pan” (1960-1962), que atuava levando crianças entre seis e dezoito anos de idade para Miami, desacompanhadas dos pais e com o apoio da Igreja Católica.

Décadas se passaram e esse assunto continua sendo abordado na produção original da Netflix, “One Day At a Time” (2016-). O enredo da série é constituído pela história de uma família cubano-americana que reside em Los Angeles. O grupo é formado por três gerações: a mais velha, Lydia, que imigrou para os Estados Unidos através da Operação Peter Pan, aos quatorze anos. A filha, Penélope, que cria dois adolescentes com a mãe, Elena e Alex. A ambientação do seriado remete aos traços culturais que, segundo os criadores, são oriundos de Cuba. As músicas, as comidas, a constituição familiar e a religião são exemplos do que pode ser representado pela ascendência dos personagens.

O curioso da trama é a visão que todos da família têm sobre a Revolução Cubana (1953-1959). Constantemente representada com um caráter caótico, a ação revolucionária de Castro significa, para os personagens, um momento doloroso da história. Fica a interpretação de que a revolução foi um ato de atrocidade, com os líderes sendo associados aos assassinatos em massa. A Operação Peter Pan (1960-1962), caracterizada como a grande oportunidade que os Estados Unidos ofereceram à Lydia, foi fundamental para a construção da personagem.

Fica explícita essa inclinação durante o nono episódio da primeira temporada, “Viva Cuba”. Na cena inicial, Schneider, um amigo canadense da família, os visita com uma camisa estampada com o rosto de Ernesto “Che” Guevara (1928-1967), argentino que atuou ao lado de Castro durante a revolução. Ao vestir a camiseta, o personagem instantaneamente ofende todos que estão a sua volta. Incrédulos, denunciam as atrocidades que, para eles, Guevara cometeu. Penélope afirma: “É como entrar em um lar judeu vestindo a camiseta de Hitler”.

Deve ser levado em consideração que o seriado tem como produtora a Netflix, empresa estadunidense que atua como plataforma de streaming. Isso dá sentido à representação da Revolução Cubana (1953-1959) como um evento exclusivamente catastrófico. Historicamente, os Estados Unidos não ficaram satisfeitos com os caminhos do governo de Castro. Houveram uma série de bloqueios econômicos e intervenções militares após 1959 que provam tal descontentamento.

A associação de Guevara como um líder tão cruel quanto Adolf Hitler (1889-1945), que exigiu a execução de uma grande parcela de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), é uma evidência do que a série retrata. Lydia deixou o país natal por causa das decisões dos líderes revolucionários. O grande acolhedor foram os Estados Unidos, cujos ideais liberais tornaram-se contrários aos da revolução (principalmente após a publicação do caráter socialista desta). Para o enredo, faz sentido que a personagem imigrante sinta-se tão descontente com a situação que a fez deixar tudo para trás. Somada à perspectiva estadunidense de negação sobre o rumo da revolução, pode-se afirmar que a série trabalha com um determinado ponto de vista: para Lydia, a revolução foi uma tragédia. No entanto, será que todos os cubanos compartilham essa mesma opinião?

Para saber mais:

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: a Revolução Cubana na América Latina. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

PEDRAZA, Silvia. Cuba’s Refugees: Manifold Migrations. Association for the Study of the Cuban Economy. [s.l]. Nov., 1995.

VIVA Cuba (Temporada 1, ep. 9). One Day At a Time [Seriado]. Direção: Jody Margolin Hahn. Produção: Gloria Calderón Kellett, Michael Garcia, Dan Hernandez. Estados Unidos: Netflix, 2016. 30 min, son., color.

WALSH, Bryan O. Cuban Refugee Children. Journal of Inter-American Studies and World Affairs, 197

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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