Shimbalaê: Obra prima do nada

A cada minuto que acesso a  TV aberta, especialmente no domingo, envergonho-me por ter teclado determinado número no menu. De maneira  ansiosa, espero para averiguar quando  esta TV aberta, gratuita , com qualidade de imagem, de som, de closed Caption vai começar a pôr na mesma uma qualidade na programação.

Em primeira instância, a você, meu leitor, reafirmo ficar preocupado com as pessoas que necessitam de uma informação qualificada para se ater aos fotos ocorridos no cotidiano; em segundo, após querer dar uma chance à TV aberta, clico no SBT e me vem Eliana, na Record, a que tagarela, Ana Hickamann, e na Globo , o Faustão, a apresentar a Maria Gadu como a grande responsável pela música Brasileira Contemporânea. Espantem-se: chamam-na para cantar, em seguida, escuta-se o comentário do crítico de música Nelson Mota , a afirmar ser a moça a grande descoberta do show business em 2009 e,  no final,   ao retornar ao palco, Faustão , em mais uma tentativa de entrevista frustrada, mas vendendo o cartão RED CARD ao fundo, indaga a Maria Gadu  quando  escreve as letras de música  e a que horas,  e a moça diz que não há hora exata. Até aí, tudo bem , já que a criação não é previsível. O Faustão continua  e questiona o significado da palavra “ Shimbalaê”, já que todos cantam e ela diz “ não sei” . Faz-me rir.

Diante disto, senhor leitor, o que  Maria Gadu traz de novo,  se nem a cantora sabe o significado do que  ela canta? Será  que vamos ter de aceitar a ideia  de que a música contemporânea basta ser sonoridade para dispensar o sentido? Temos de ignorar Sampa de Caetano, Mulheres de Atenas de Chico Buarque, Admirável Gado Novo de Zé Ramalho, Pais e Filhos, Monte Castelo ,de Renato Russo , e aceitar o isso que nos apresentam?  Neste ponto de vista, realmente , ela merece ganhar o disco de ouro, exatamente, disco de ouro. Premiação esta que Bethânia não ganha há tempo, porque não consegue vender mais de 250 mil cópias em uma população de 182 milhões de pessoas; no Brasil, somente,  menos de 0, 5 por cento escuta a boa música brasileira, sem colocar Bethânia ou outro qualquer como obrigatoriedade. Entretanto, como você oferece algo ao público , cujo sentido você ignora?

Assim, quando deixei de assistir à entrevista e de   sentir  vergonha por ter perdido meu tempo em escutar algo de uma pessoa que cria e não sabe o significado do quê criou, dirigi-me ao computador para me sentir menos “ shimbalaê” da ignorância do domingo, menos “ shimbalaê” do que o propiciado pela mídia aberta no Brasil, enquanto a Globo News, para os que podem pagar, anuncia  uma entrevista  há quinze dias com Lêdo Ivo, Imortal da Academia Brasileira de Letras,  sobre  grandes nomes da mesma, bombástica,  a aguçar a nossa capacidade de análise.

Diante disto, queridos sergipanos, é que fico triste , mesmo, quando percebo gente que entende de música pelos cantos do país, a ser ignorada, simplesmente, porque não teve  “ sorte” , como Patrícia Polayne, Antônia Amorosa e na literatura, o gênio Araripe Coutinho.  E , nesta sequência, em termos de construção semântica, de sentido, de interpretação, até Ivete Sangalo produz músicas ímpares, a partir do momento em que qualquer pessoa consegue entender “ comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor, comigo não tem disse me disse” … e assim, podem-se comparar algumas  obras primas em termos de musicalidade brasileira. Uma canta “ shimbalaê”, a outra “ levanta, sacode , balança, não pode parar “ , o outro completa com o  “ rebolachion” e nós ,  perdidos no ” arreia, arreia” indagamos: “ quem é você, quem é você, sem dúvida, o LOBO MAU da ignorância ……socorro!!!!27

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.

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