A palavra digital influencer ganhou o mundo através das postagens na plataforma Instagram, em que o foco inicial da rede eram as imagens fotográficas, acompanhadas de textos curtos e diretos. O ápice no Brasil aconteceu no ano de 2018, com o grande número das ditas blogueiras ou influenciadoras digitais, que transformaram as suas opiniões em trabalho, contratos e alcances de algoritmos e seguidores impressionantes. Em Sergipe, a maioria das marcas e empresas preferem contratar os serviços das influenciadoras a investir em profissionais da comunicação, cujo trabalho de assessoria ainda é desvalorizado e pouco conhecido.
O público e as marcas pensam em números, seguidores, algoritmos, e são esses números que irão trazer retorno financeiro, ampliar as vendas e viralizar campanhas. Contratar influenciadoras é focar no imediato, que não funciona dessa maneira no campo dos estudos da comunicação, que requer análise do discurso, estudo da marca, do comportamento do público, compreensão das linhas editoriais existentes nos meios de comunicação, entre outros detalhes. Existem ônus e bônus em todas as profissões e escolhas, e o ônus em ser uma “celebridade” local é que o seu discurso tem alcance e visibilidade, portanto, ele não pode exercer papel discriminatório ou ofensivo.
Diante dessa breve introdução, destaco que Internet não é terra sem lei, sobretudo após a criação da Delegacia de crimes cibernéticos e leis mais severas para punição desses delitos. Além disso, como o nome já diz, uma influenciadora influencia, óbvio, não? E a sua influência tem a ver com discurso de ódio também. O “comentário sem maldade” de alguém que se intitula de bom coração pode reforçar um discurso discriminatório e violento. Trago aqui alguns dados para vocês. Em 2019, o Ministério Público Federal apresentou uma nota técnica alertando sobre o aumento do número de casos de violência, e, em paralelo, o crescimento da proliferação de discursos de ódio religioso, utilizando meios de comunicação para atacar religiões afro-brasileiras.
Basta exercer o poder da leitura e da escuta, que qualquer pessoa irá compreender melhor que um comentário associando as “macumbas” nas esquinas ao mal, pode levar a crianças serem apedrejadas, discriminadas nas escolas, a terreiros serem depredados, a comunidades serem boicotadas, entre outras formas de violência as quais tive acesso não somente em pesquisa de dados, através de livros publicados com pesquisas densas sobre a proibição do Candomblé, capoeira, samba e outras manifestações da resistência negra em nosso país, como em pesquisa empírica ao desenvolver junto a outras pesquisadoras e pesquisadores, o mapeamento dos terreiros da Grande Florianópolis, e pela minha circulação enquanto pesquisadora e filha de axé nos terreiros em Sergipe.
Portanto, é necessário repensar o papel e a responsabilidade que essas pessoas influentes têm e como elas podem fomentar discursos e formar opiniões que modifiquem ou reforcem padrões de violências que devemos extinguir. A política do cancelamento e destruição não é educativa, ela alimenta um ciclo que devemos repensar de maneira prática, estratégica e usando as leis a nosso favor, pois o povo de axé também ocupa cadeiras importantes nesses espaços. A nossa religião, e todos os cultos afro-brasileiros, não é desconhecida, ela é marginalizada por quem prefere fingir que ela não existe ou que não reconhece a força e o poder que ela tem. Já disse o finado Platão, é mais fácil permanecer na caverna, a reconhecer que existe uma realidade diferente da nossa, e que a liberdade do outro não pode ser minada com preconceitos e discriminação.
Axé!