Walisson Victor Santos Souza
Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente
É comum ao cinema hollywoodiano retratar de diferentes maneiras o gênero chamado “velho oeste”, que, em sua maioria, retrata o estilo de vida do cowboy solitário e as formas difíceis de vida nos anos iniciais do desenvolvimento da sociedade norte-americana. No decorrer dessas produções, percebe-se a presença constante de símbolos que fizeram ou fazem parte da cultura estadunidense. Elementos como o cowboy, a águia, cultura bélica e a noção do que é civilizado e democrático são facilmente encontrados no american way of life.
Dentre os diversos atores que fizeram parte de produções desse gênero famoso, podemos destacar John Wayne (1907-1979). Com recordes de bilheteria, o ator se tornou a principal referência desse gênero cinematográfico, ganhado, inclusive, ainda mais relevância ao participar de grandes produções dirigidas por John Ford (1894-1973). John Wayne se tornou uma figura pública importante e conhecida, especialmente por representar diversas vezes um dos principais símbolos norte-americanos que é o cowboy, em meio ao momento em que os filmes hollywoodianos estavam passando por uma forte censura e perseguição do macarthismo. Dessa maneira, as produções que enaltecessem os valores locais e culturais eram bem vistas; já as com críticas sociais ou que fizessem apologia ao comunismo eram duramente perseguidas e censuradas.
Um dos famosos trabalhos de John Wayne é Rastros de Ódio (1956), em que ele atua como um veterano de guerra chamado Ethan Edwards e dá início a uma aventura no “velho oeste” norte-americano. Nesse filme, ele tenta recuperar as duas filhas do seu irmão, que foram sequestradas por comanches. Essa película é um bom exemplo de obra liberada ao grande público e que não foi censurada; um dos motivos é ressaltar valores e elementos tradicionais da cultura norte-americana. Com a tensão da Guerra Fria, a perseguição e censura a filmes, diretores, roteiristas e atores muito fortes se intensificaram. Portanto, filmes que traziam de forma positiva àquela sociedade eram amplamente divulgados e assistidos.
O clássico Rastros de Ódio, a todo momento, procura passar a ideia do cowboy como herói solitário lutando contra o mal, que, no caso, seria os indígenas comanches, e de como a forma que o personagem vive e enxerga o mundo é a correta. Ainda na trama, Ethan Edwards seria o responsável por recuperar as jovens dos bárbaros índios e devolvê-las ao seu lar. Mesmo após a queda do comitê do macarthismo, esse estilo de filme continuou sendo produzido e adaptado de acordo com seu contexto social e histórico.
Em 2011, surge mais uma produção cinematográfica também desse gênero “velho oeste”, em que Rango é o cowboy principal. Elementos como referências diretas a Clint Eastwood, Medo e delírio em Las Vegas (1998), a tradição belicista e a tradicional águia estadunidense aparecem na película. Dublado por Johnny Depp, o camaleão Rango acaba caindo por acaso em um deserto nos Estados Unidos, iniciando assim sua jornada de autoconhecimento e de sobrevivência nesse novo mundo.
Na narrativa Rango chega à cidade de Poeira, uma típica cidade de filmes de cowboy, com casas velhas de madeira no meio do nada, clima totalmente seco e foras da lei, na qual ele se adapta muito rápido ao estilo de vida e logo incorpora um típico cowboy durão, heroico e solitário. Graças aos seus dotes artísticos desenvolvidos dentro de um aquário, nos momentos de solidão e com seus amigos imaginários, o camaleão também se torna o xerife da cidade e defensor do povo que ali vivia.
Finalmente, Rango também carrega a ideia de salvador daquele povo, a última esperança para os desesperados daquela cidadezinha de Poeira, pois ela enfrentava vários problemas hídricos e de corrupção. Não obstante, a todo o momento, aparecem referências ao american way of life; desde a criação desse camaleão criativo e valente, até a grande águia que ele mata com uma única bala.
Para saber mais:
FORD, John. Rastros de ódio (The Searches) E.U.A, Colorido, 1966, 2h 00min.
FICHOU, Jean-Pierre. A civilização americana. Tradução Maria Carolina F. de Castilho Pires. Campinas, SP: Papirus, 1990.
FOHLEN, Claude. O faroeste, 1860-1890. 1922. Companhia das letras. São Paulo.
VALLIM, Alexandre Busko. O cinema vai à guerra. Organização: Francisco Carlos Teixeira da Silva, Karl Schurster Souza Leão, Igor Lapsky. Ed.- Rio de Janeiro. Elsevier, 2015.
VERBINSKI, Gore. Rango. E.U.A, Colorido, 2011. 1h 40min