Existem algumas máximas que, de tempos em tempos, volvem à moda tornando-se referenciais e, às vezes, instrumentos utilizados por pessoas ou instituições que, se aproveitando comercial, política ou culturalmente conseguem facilitar a implantação ou difusão de idéias, quase sempre em seu proveito. Uma das mais conhecidas é aquela que foi usada pelos romanos, sob o império da derrocada, quando vislumbraram a possibilidade da interferência do povo na administração. A chamada “política do pão e circo” ou “panis et circenses”. Por essa política, o Estado buscava promover os espetáculos como meio de neutralizar as forças do povo e manter os plebeus afastados da política e das questões sociais. Era uma forma de, manipulando a plebe, mantê-la distante das decisões governamentais. Era mais fácil alimentar o povo e distraí-lo, do que justificar o que faziam, por exemplo, com o dinheiro dos altos impostos que cobravam e com a absoluta falta de presença do governo onde deveria atuar. Para cumprir e encobrir estas maracutaias era distribuído pão diariamente e promovidos muitos espetáculos. A ideia era: “não deixem a plebe bocejar nem de fome nem de problemas”. Com isso mantinham o caminho livre daqueles indesejáveis podendo, portanto, manter, sem percalços, o absolutismo. Como disse no início, de vez em quando volvem, com formas mais modernas, adaptadas aos dias atuais, mas, voltam e fazem um estrago danado no desenvolvimento de um povo. No nosso caso, seria demasiado dizer que só acontece no governo atual. Não, infelizmente é uma prática que perpassa, por quase todos. Outra grande e pecaminosa afirmação ou máxima, popularmente divulgada e assimilada, sobretudo pela juventude, é o “Carpe Diem”. Uma belíssima frase latina extraída de um poema de Horácio, e traduzida por: aproveite o momento, colha o dia, curta o agora. Na interpretação que interessa, sobretudo ao consumismo e ao materialismo, ela deixa implícito que o amanhã é apenas uma interrogação, ninguém sabe nem se ele existirá. É, na verdade, uma contestação, bem trabalhada e divulgada, repito, explícita ou implicitamente, nas mídias da vida: propagandas, filmes, novelas, revistas, jornais, etc… O “Carpe Diem”, é sempre dirigido mais aos adolecentes, dos 12 aos 40, 50 ou 60…, é um instrumento largamente usado para vender aquilo que ninguém precisa, criar prazer, imagem, conteúdo e valor, onde, na verdade, não há. Alienar o fútil, o supérfulo e tudo aquilo que em nada engrandece. É o factual transformado através de uma bem urdida gestão em coisas e comportamentos de valor prático, transvestido de essencialidade, justificando o consumismo, a bebida, a droga e outras “drogas”. Aproveite o dia, não há expectativa de futuro, a idéia de que o momento deverá ser usufruído de imediato e de qualquer maneira leva a nós, seres humanos, ao esgotamento. Não é prudente que queiramos tudo ao mesmo tempo, que vivamos tudo, como se o amanhã não existisse. Usufruir a vida em gotas é muito mais saudável e também sustentável. A paciência e a prudência são as maiores virtudes do ser humano. A ideia de que tudo se esgota rapidamente deve ser afastada. Necessário se faz que demonstremos no dia-a-dia, sobretudo para os nossos filhos, alunos e amigos que devemos sorver cada momento, vivendo-o com intensidade um de cada vez. Fazendo a nossa parte, com inteligência, aproveitando as oportunidades e fazendo sempre mais do que é esperado. Contudo, sem o tropel ditado pelo deus mercado. Atenção! Todos temos que nos dar conta de que estas fórmulas “panis et circenses” e “Carpe Diem” foram sempre utilizadas pelos “impérios” do mundo exatamente quando eles estavam se esboroando. Elas foram causas concorrentes para a debacle ou usadas para incubrir tais derrocadas. Lembrem-se, no presente momento um “Império”, está a balançar. Com um pouco de seriedade e boa vontade, podemos, rapidamente, encontrar as causas: o “panis et circenses” moderno, ou seja, a usura, todos ganham sem, no entanto, produzir e muito entreterimento, para preencher o tempo vago e impedir o pensamento. E o “Carpe Diem” atual, o consumismo, ou seja, todos usufruindo tudo de uma só vez e ao mesmo tempo. PENSEMOS NISSO.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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