Acabei de receber um belíssimo texto escrito pelo genial Antonio Ermírio de Moraes e publicado na Revista Exame. E qual é a beleza desta matéria? A simplicidade com que é abordado um dos assuntos mais corriqueiros do nosso cotidiano. E qual é este assunto? A vocação do brasileiro em demonstrar que sabe. Depois que você ler o que escreveu Antonio Ermírio, vai descobrir que quase todos nós somos vendedores. Ou seja, temos uma resposta afirmativa para tudo e que resolvemos tudo. Desde que – aí vem o argumento – tenha uma oportunidade. Vejamos se não é assim, a qualquer pergunta, respondemos sempre como já absolutos conhecedores do assunto. “Se eu tivesse oportunidade, resolveria de uma vez por todas este problema, era só fazer isto ou aquilo e pronto.” Fácil assim. Nós, estejamos em qualquer lugar, reunidos em volta de uma mesa, num banco de praça, caminhando no calçadão, ou, ainda, na nova, moderna e chique onda da nossa Capital: um dos cafezinhos do Shopping, temos uma solução satisfatória e imediata para todos os problemas que afligem o nosso cotidiano. Ali, sentados, caminhado ou em volta da mesa, num bate-papo informal, encontramos soluções práticas e definitivas para tudo. Sim? Pergunta um “e a corrupção?”. “Ah! Esta é moleza!” Responde o outro. “Basta que…” E debulha solução para todo lado. Pronto, assunto resolvido; manda outro. Questões como: educação, segurança, saúde, saneamento, ou até mesmo, o problema da personalidade artística ou política da moda, têm suas soluções nessas assembléias, senados, câmaras e tribunais de botequim. Apenas uma única sessão de um destes órgãos colegiados transforma o Brasil numa Finlândia. Naquelas assentadas, ficam definitivamente resolvidos os problemas da justiça, das minorias, das maiorias, dos pobres, dos ricos, dos mandatários e do povo em geral. E, as receitas para tais deslindes, são as mais certeiras possíveis: “corta pela cabeça, começa pelos grandes, pune a todos, coloca atrás das grades, constrange o cara, não permita que ele se reeleja…”. Existem, ainda, aqueles mais radicais que dizem: “eu não acredito em nada disso, o nosso País não tem jeito mesmo. E arrematam: aqui só com a pena de morte…”. E, por que isto acontece? Porque nós sabemos de tudo. Temos uma resposta para tudo. Não medimos, sequer, as conseqüências de nossas afirmativas e nem das soluções que propomos. Nós sabemos, e pronto. Em volta daquelas mesas estão: vendedores, marqueteiros, contadores, engenheiros, economistas, advogados, juízes, e administradores, gestores decidindo a vida de todos os cidadãos. Ainda bem que tais idéias são digeridas ali mesmo, juntamente com o cafezinho o suor da caminhada ou o pão de queijo. Agora, leia o maravilhoso artigo deste que não sabe de nada, mas é um dos maiores empresários do Brasil e do mundo, descubra, afinal, qual é a sua vocação e, também, as dos seus amigos. TEXTO * Antônio Ermírio de Moraes publicado na Revista Exames. “Se você ainda não sabe qual é a sua verdadeira vocação, imagine a seguinte cena”: Você está olhando pela janela, não há nada de especial no céu, somente algumas nuvens aqui e ali. Aí chega alguém que também não tem nada para fazer e pergunta: – Será que vai chover hoje? Se você responder “com certeza”… a sua área é Vendas: O pessoal de Vendas é o único que sempre tem certeza de tudo. Se a resposta for “sei lá, estou pensando em outra coisa”… então a sua aérea é Marketing: O pessoal de Marketing está sempre pensando no que os outros não estão pensando. Se você responder “sim, há uma boa probabilidade”… você é da área de Engenharia: O pessoal da Engenharia está sempre disposto a transformar o universo em números. Se a resposta for “depende”… você nasceu para Recursos Humanos: Uma área em que qualquer fato sempre estará na dependência de outros fatos. Se você responder “ah, a meteorologia diz que não”… você é da área de Contabilidade: O pessoal da Contabilidade sempre confia mais nos dados do que nos próprios olhos. Se a resposta for “sei lá, mas por via das dúvidas eu trouxe um guarda-chuva”: Então seu lugar é na área Financeira que deve estar sempre bem preparada para qualquer virada de tempo. Agora, se você responder “não sei”… Há uma boa chance de que você tenha uma carreira de sucesso e acabe chegando à diretoria da empresa. De cada 100 pessoas, só uma tem a coragem de responder “não sei” quando não sabe. Os outros 99 sempre acham que precisam ter uma resposta pronta, seja ela qual for para qualquer situação. “Não sei” é sempre uma resposta que economiza o tempo de todo mundo, e pré-dispõe os envolvidos a conseguir dados mais concretos antes de tomar uma decisão. Parece simples, mas responder “não sei” é uma das coisas mais difíceis de aprender na vida corporativa. Por quê? Eu sinceramente “não sei”.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários