O prazer de fazer errado

Às vezes fico pensando na razão que move determinadas pessoas a agirem como miseravelmente agem. Que prazer mórbido será este que parece estimular a transgressão, que impulsiona uma pessoa a praticar exatamente aquilo que vem de encontro aos princípios norteadores da boa convivência, da moral e da ética?

Deve existir algum tipo de realização, de satisfação doentia naqueles que teimam em fazer exatamente aquilo que é, digamos, proibido, ou, mesmo não sendo proibido, vai afetar o direito do outro, pois vai de encontro ao normal, ao convencional e aos costumes, interferindo no espaço e, às vezes, na vida dos outros.

Dizem que “tudo que é proibido é mais gostoso”. Não sei se concordo com mais este axioma que prega um grande desserviço aos bons costumes e à convivência saudável. Prefiro acreditar que o ser humano se sente recompensado em fazer o bem. Este sim,  quero crer, seja o objetivo mais gratificante do ser humano. O que acontece em contrário é que deve ser motivo de estudo. Será que são distúrbios psicopalógicos? Semelhantes, por exemplo, à cleptomania? Que é o prazer em roubar coisas diversas, quase sempre sem nenhuma utilidade e valor? Só pode ser.

Imagine-se caminhando num estacionamento de um majestoso Shopping, rumo ao local onde foi deixado o seu veículo e, ao passar ao lado de um dos carros mais luxuosos e caros do Brasil, uma Hilux último modelo, você receba inesperadamente um chumaço de papel, recheado de vatapá, caruru, tomate, camarão e dendê, acintosamente lançado pelo “agroboy” que se encontrava atrás do volante se refestelando com acarajé e cerveja em companhia da namorada. Pobre namorada!.

Para completar o quadro, contabilize as infrações cometidas pelo citado casal: estacionado, com aquela caminhoneta, em local proibido, ocupava a metade da via por onde deveriam passar os outros automóveis em trânsito e as pessoas que, assim como você e eu, transitam apressados indo e voltando rumo ao seu veículo ou vice-versa, dele para as lojas daquele templo do consumo; tomando bebida alcoólica o que é também proibido para quem dirige; e, também, atirando fora o descarte como se a via pública fosse lixeira.

Imaginou? Pois, infelizmente, isso aconteceu comigo. É claro que fiquei chateado com a roupa suja, com cheiro do dendê, cebola, tomate e camarão… Mas, mais triste fiquei em constatar que aquilo estivesse acontecendo naquele ambiente e entre pessoas que, certamente, sabem ou, pelo menos deveriam saber, não ser aquela uma atitude civilizada.

Agora imagine o que fará uma pessoa dessas quando protegida por um cargo, com poderes de decisão, e acobertada pelos emaranhados labirintos do poder. Emergem preocupações, pois era um jovem e serão eles os nossos futuros empresários, gestores, governadores, deputados, juízes, delegados, prefeitos… Pessoas que hoje transgridem uma norma tão elementar, o que não fará mais tarde com “poder” e o dinheiro na mão? Não é à toa o que desgraçadamente somos obrigados a testemunhar em todas as atividades do gênero humano, mormente na política. Mas, também nas empresas, nos governos, nos legislativos e no judiciário…

Continuo com a indagação: o que será que move uma pessoa a tomar determinadas atitudes? Será que se sentem bem fazendo o errado? Será que sentem prazer em fazer o mal aos outros, à natureza e a si próprio?

Imagino o que deve passar pela cabeça de um individuo que, conhecendo os seus limites e direitos, as suas obrigações e seus deveres, desrespeitam, deliberadamente, as normas, sabendo que são essas normas o ponto de equilíbrio na manutenção da convivência e dos relacionamentos e que devem ser cumpridas e consideradas. Sim, porque aquele que não sabe é como quem não vê. Quer dizer se um ignorante transgride uma norma não merece punição, merece esclarecimento. O pior é que este universo de não-esclarecidos é diminuto, sobretudo nos dias atuais, considerando-se que a informação chega aos mais longínquos e inimagináveis rincões, grupos e pessoas. Não há mais como ignorar os direitos, deveres e obrigações que temos com o mundo que nos cerca, com a coletividade, com a lei e com a ordem.

Que prazer é este em fazer o errado quando o certo é tão mais fácil e útil? Ao que parece viver dentro de um padrão mais ético constitui um grande sacrifício. Não sabem, infelizmente, que a maior realização pessoal reside exatamente em viver e conviver dentro de uma harmonia onde os espaços e os direitos são respeitados.

PENSEMOS NISSO

 

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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