PODEMOS COLABORAR COM O DESTINO

 

 

“Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca.”

William Jennings Bryan

 

Infelizmente existem pessoas que somente acreditam na fatalidade. Crêem tão cegamente que o destino de cada um está escrito e que nada poderá ser feito para mudá-lo, que, como tentando enganar a si mesmos e aos outros, justificam os insucessos, o comodismo, a falta de esforço e, eu acrescento, a preguiça. Realmente, ao que parece, o fatalismo se presta, quase sempre, apenas, para justificar o injustificável.

Lembro-me daquela historieta, por demais conhecida, que retrata muito bem a teimosia daqueles que se apegam com muito afinco a apenas aos ditames do destino, acreditado que pouco podem fazer para modificar estas situações que acreditam imutáveis: fazer o que, para que? Se tudo já está determinado e será resolvido de acordo com o destino.

Diz a historia: “que com a construção de uma determinada barragem, uma pequena cidade seria inundada pelas águas represadas daquele açude. Para isso houve, durante toda a construção, esclarecimentos por parte das autoridades, indenização do que não podia ser removido, bem como a construção de outra cidade em local seguro para substituir àquela que ficaria submersa quando da conclusão das obras e a ocorrência de chuvas.

Estes processos são longos, trabalhosos e, de certa forma, doloridos, enquanto existem aqueles que, de bom grado, aceitam tais mudanças, existem também os tradicionalistas que dificultam mais ainda e, sobretudo, existem os fatalistas que não dão nenhum crédito àquele processo, chegando a acreditar que Deus interferirá para a debacle daquele projeto, crendo piamente que aquilo nunca vai acontecer. Dificultam o máximo possível e, às vezes, como aconteceu com o Padre daquela Paróquia. Ele sempre acreditou e pregou que Deus não iria permitir um pecado daqueles, e nunca as águas cobrir o seu Templo Sagrado. Não adiantou muito os esforços das autoridades, dos assistentes sociais, da justiça e da polícia. Nada lhe demoveu daquela idéia bizarra “Deus não permitirá que isso aconteça.” Este era o seu mantra. Ficarei aqui como guardião das coisas de Deus. E, ficou.

Quando iniciou a inundação, as águas já chegando ao patamar da Igreja, veio uma comissão de amigos e parentes do Padre pedir para que ele retirasse tudo o que quisesse e saísse, enquanto havia condição. Nada. Ele não aceitou. A água prosseguiu com o seu curso normal, já tomando espaço entre os bancos, confessionário, altares e a Sacristias.

Então foi a vez da interferência do Senhor Bispo e auxiliares que se deslocaram da capital do Estado àquela pequena cidade e, de barco, foram até àquela Igreja para convencer ao Pároco que ele teria que deixar imediatamente aquele local pois estava atrapalhando e colocando em risco a sua própria vida. Nada.

A água subindo rápido e o Padre já trepado em cima do Altar-mor, orando, volta o bispo, desta feita numa embarcação maior, acompanhado pelo representante do Papa, exclusivamente nomeado para este fim. Nada. A negociação não prosperou, o Padre só repetia que seu destino estava nas mãos de Deus e que Ele não ia permitir que aquela tragédia acontecesse. A água agora já está cobrindo tudo, da Igreja somente o telhado está aparente e o Padre, na torre do sino, reza afirmando a Deus que não abandonará Seu Templo Sagrado.

Não teve jeito. A Igreja já coberta e o padre flutuava agora em algumas madeiras amarradas à torre do Templo. De helicóptero, vieram os bombeiros, jogaram uma escada de salvamento, como ultima tentativa e, nada.

Ele ainda acredita que Deus não vai permitir aquilo. Acredita que é o seu destino e, morre afogado.  

Chegou ao Céu reclamando:

– “É, eu fui o único que ficou para tomar conta das coisas Divinas, do Templo de Deus e morri, enquanto os outros, covardes, capitularam aos interesses mundanos, caíram fora, somente eu resisti e, agora, me dei mal, morri. Isso não é justo. Onde estava o Senhor, Meu Deus, que não me ajudou? Eu sempre acreditei nos desígnios Divinos, fui obediente, prestei um bom serviço para a nossa amada Santa Igreja, cumprindo a promessa de Seu filho Jesus Cristo, estava ali protegendo aquele Templo Sagrado contra a sanha capitalista daqueles que queriam destruir a Sua Casa, e Você nada fez para me salvar da morte?

– Como não Fiz, responde Deus, há três anos que venho avisando que isto ia acontecer, durante todo o processo de inundação Mandei seus amigos, parentes, assistentes sociais, o prefeito, o Bispo, o Governador, o representante do Meu representante na terra e, por fim os meus filhos muito amados que têm salvado muitas vidas, os Bombeiros. Eu mandei todo esse pessoal para lhe ajudar, foi você quem não quis.  Não me restou alternativa, porém saiba que lamentei muito antecipar a sua vinda para cá.

– Ah! Quer dizer que se eu tivesse abandonado a Sua Casa Sagrada e saído dali como fizeram todos aqueles covardes, eu ainda estaria na terra?

– Mas, é claro, respondeu Deus, você ainda ia demorar uns trinta anos para vir para a sua ultima morada.

– Ah, não, eu quero voltar, eu tinha tantos planos…

– Impossível.

É sempre assim, só há arrependimento quando, tardiamente, o cético descobre que poderia, ele mesmo, com um pouco de boa vontade, colaborar para a construção do seu destino.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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