Cuidemos melhor da nossa casa comum

“O mundo será outro e mais habitável se cada um procurar ser, desde agora, outro, diferente dos modelos consagrados de civilidade, e melhor”.

                                                                                                            Leonardo Boff


Passava por uma avenida da nossa capital quando percebi que havia um grande vazamento de água saindo de um hidrômetro. O precioso líquido já se espraiava pela rua indo cair num bueiro a uns trinta metros adiante.

Como era em frente a uma loja, fui até o balcão e falei com um senhor perguntando se ele já havia percebido o grande desperdício. Ele respondeu, demonstrando certo desconforto:

— O senhor é da companhia de água e esgoto?

Respondi-lhe apenas que não. Ele acrescentou:

— É. Antes do meu “relógio” (hidrômetro) não estou tendo nenhum prejuízo. A responsabilidade é da companhia de água e esgotos, e não minha, são seus funcionários que devem vir aqui e consertar, pois já vaza há três dias.

— O senhor já ligou? – Perguntei.

— Liguei não, eles costumam não atender aos chamados dos usuários, por isso eu acho perda de tempo ficar ligando!

— Mas o senhor há de convir que alguma coisa há de ser feita, imediatamente?

— Não é da minha conta. Eles que venham e resolvam. É problema deles, e não meu…

Eu não disse, mas tive vontade de falar bem alto:

— Não é problema somente deles não, meu amigo. É problema de todos nós: deles, meu e seu. O que está se desperdiçando é um dos bens mais preciosos do mundo: é água, a mesma água que existia desde o início dos tempos e que, a cada dia, se torna mais escassa, por causa da nossa desídia, e de atitudes como a sua. É água limpa, tratada com produtos químicos de custos elevadíssimos, que até aqui chega por meio de grandes esforços humanos e da engenharia. Água canalizada procedentes de longas distâncias, usando instalações de tubos, bombeada por grandes bombas que são impulsionadas por potentes motores, que consomem significantes  quantidades de energia elétrica. E você diz que não tem nenhuma responsabilidade, deixando que ela escorra pelo ralo?

Não disse nada, pois temi criar um problema ainda maior. Tive de calar e mais uma vez constatar a falta de cuidado com que é tratado o patrimônio público. Somos todos responsáveis, sim, e devemos estar cientes, sim, de que a Terra, como um todo, é a nossa morada comum; é nela onde habitamos e nos relacionamos, repartindo tudo o que há para nosso uso, conforto e utilidades. Temos, sim, responsabilidades e devemos estar atentos à política do zelo e do cuidado, para com essa nossa casa, com a natureza. É ela quem nos fornece tudo e é também para ela que remetemos todo o lixo, por nós produzido, e para onde deveríamos enviar também toda essa ignorância e má vontade que, infelizmente, teima em se pronunciar com tanta frequência.

Até quando, meu Deus? Até quando vamos ficar indiferentes a maior das realidades? Quando será que vamos descobrir que, como habitantes comuns desse mundo, temos de assumir a nossa cota de responsabilidade com tudo que repartimos: os mesmos bens, os mesmos espaços e as mesmas obrigações? Será que não enxergamos que o que vier a faltar, faltará para todos e, com certeza, todos nós seremos afetados?  Quando será que vamos descobrir que todos nós devemos ser cuidadores e guardiões dessa casa comum? É, sim, responsabilidade de todos velar pelo uso consciente dela e da totalidade do que nela existe. Necessitamos urgentemente repensar tais conceitos e tomarmos atitudes condizentes para não reclamarmos mais tarde quando, certamente, será tarde demais e aí não teremos mais a chance de interferir e, certamente, cairemos na incógnita do acaso e do remendo, da reforma, do retorno, da reconstrução; e isso, com toda a certeza, será muito mais difícil do que uma simples ligação para uma concessionária de um serviço público.

Temos de mudar. Para finalizar, cito mais uma vez o grande pensador brasileiro, Leonardo Boff, quando ele se refere à necessidade que temos de uma urgente mudança de paradigmas. Ele diz: “a soma dessas energias curvará a seta do tempo e fará com que aponte para frente e para cima na direção de uma humanidade mais sensível, cuidadosa, responsável, fraterna, espiritual e sábia.”

Ele também afirma que está ciente de que isso é uma utopia, porém, “… uma utopia necessária, sem a qual a vida perderia seu sentido e o longo caminho de 13,7 bilhões de anos de evolução seria um absurdo.” E continua: “… a utopia representa a antecipação do que vai ser: a esperança em plenitude.”  

PENSEMOS NISSO.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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