É assim que inicia a marchinha carnavalesca, gravada em 1968, de autoria de H. Silva e Paulo Sete. E prossegue falando sobre as experiências não realizadas no ano que se foi:
“… A fantasia que comprei ficou guardada, a sua também ficou pendurada…”
Poderíamos traduzir “Eu não brinquei, você também não brincou…” em: eu não fiz nem deixei você fazer. Ou seja, quantos sonhos bons e fantasias não ficaram guardados, perdidos nos conflitos do dia a dia? Quantas ideias e aspirações ficaram pelo meio do caminho, enganchadas nos galhos ressequidos da intolerância ou pendurados nos cabides das individualidades, do medo, do temor, da preguiça, do “eu não posso”?
E aí, de repente, faltou espaço. O ano terminou e findou levando com ele a maioria de nossas possibilidades.
Cá pra nós, quantos projetos nós fizemos para aquele ano? E quantos e quais deles, de fato, realizamos? Estamos satisfeitos com o que construímos de bom no ano que passou? Cumprimos os nossos objetivos? Ou ainda fazemos parte do clube dos que têm muita iniciativa, porém muito pouca “acabativa”? Dos que prometem como sem falta e faltam como sem dúvida?
Bem, o que passou, passou. Foi e não volta mais. Nada do que fizermos poderá ressuscitar o tempo. Ele só anda para frente, não dá marchar em ré. O que de bom podemos tirar do que deixamos passar em in albis, quase sempre por nossa única e exclusiva culpa, são lições. Lições valiosas que poderão moldar de vez a nossa vida, transformando o perde-dor (quem perde para a dor), em ganha-dor (aquele que ganha da dor).
Ora, se estamos conscientes de que não podemos mudar o caminhar dos dias, pois eles não retroagem nunca, aproveitemos, pois, as lições e com elas mudemos.
Faço uso da reflexão promovida pela poesia cantada, citando trecho de uma música mais atual, que faz parte da novela Araguaia, exibida pela Rede Globo, interpretada pela competente cantora goiana Maria Eugênia que diz:
“…Vai, amigo, não há perigo que hoje possa assustar. Não se iluda que nada muda, se você não mudar…”
O tempo, no que pese só anda para frente, é mutável, e, em sua mutabilidade, traz a novidade e com ela a oportunidade de cometermos os mesmos erros e os mesmos acertos, ou, ao contrário, acertarmos mais do que erramos.
Somos nós, unicamente nós, os responsáveis. Outro ano inteiro está nascendo. Trazendo mil e uma possibilidades para todos. Vamos nos iludir? Não vamos mudar? A escolha é de cada um, isoladamente.
Atrevo-me a sugerir algumas mudanças, simples, todavia não tenho a pretensão de transformar ninguém, não tenho este poder, infelizmente.
Afirmo, portanto, com segurança que, com pequeno esforço, o novo ano poderá ser muito melhor. Tudo depende de determinadas e simples atitudes, repito. Já escrevi muito sobre isso. E muitos e valorosos escritores, filósofos, psicólogos, religiosos já escreveram também.
Não é por falta de material que mostre os bons efeitos dessas mudanças que ninguém vai deixar de melhorar a sua passagem nesta vida; sem esquecer, é claro, que esta passagem é única e que só transitamos essa vezinha neste mundo para nunca mais.
Portanto, tudo depende da boa vontade, do querer de cada um. Pois, como diz Dale Carnegie: só existe uma forma, sob a abóbada celeste, de fazer alguém fazer uma coisa: é fazer com que esta pessoa queira fazer essa coisa”.
Vamos a algumas atitudes que devem ser tomadas para melhorar esse nosso passeio por aqui:
1. Só faça com os outros aquilo que gostaria que os outros fizessem com você, repetindo, mais uma vez, Dale Carnegie, no seu magnífico livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas: “Minha popularidade, minha felicidade e meu senso de valor dependem, sobretudo, da minha habilidade no tratar as pessoas”.
2. Sorria: você já viu pessoas carrancudas e com mau humor atrair coisas boas? Sorria e você vai perceber que essa simples mudança trará para você e para todos com quem você se relaciona muito mais felicidade;
3. Evite a crítica, elogie: ninguém é de todo ruim em tudo que faz, que não mereça um reconhecimento naquilo que faz benfeito. Pois em vez de somente ver o que está errado e criticar, procure, naquela pessoa, o que ela faz de bom e elogie sincera e merecidamente;
4. Seja honesto para com você e, sobretudo, para com a natureza e com os outros. Se dever, pague, se prometer cumpra, se errar, assuma.
5. Seja ético. Sempre passe as suas ações pelo crivo corretamente aceito do: quero, devo, posso. Pois como diz o filósofo Mário Sérgio Cortella: “Tem coisa que eu quero, mas não devo. Tem coisa que eu devo, mas não posso. E tem coisas que eu posso, mas não quero.”. O que tudo isso quer dizer é que somente quando houver a harmônica conjugação do querer, do dever e do poder é que a ação torna-se lícita, e não vai interferir no direito alheio e, aí sim, deverá ser implementada.
6. Fazer mais e reclamar menos, nesse ano que se inicia, vamos deixar de lado a “vitimologia”, o medo de realizar, de progredir, de ser grande. Essa mudança poderá ser decisiva para as nossas vidas;
7. Sejamos, além de mais honestos, mais corteses e mais amigos, mais audaciosos também e tenhamos a coragem de, se possível, mostrar esse caminho para os que nos cercam, para que eles também possam progredir. Deste modo, teremos um novo ano em que eu não possa brincar nem você também e que sejamos, nós dois, obrigados a deixar sem uso e penduradas por aí ideias e fantasias tão sonhadas.Tudo depende de pequenas mudanças, de atitudes salutares e, sobretudo, de amor: amor à vida, à natureza, a nós mesmos e ao próximo.
Não nos esqueçamos da grande verdade que diz a música: “…Vai, amigo, não há perigo que hoje possa assustar. Não se iluda que nada muda, se você não mudar…”
Feliz 2011!