Durante a semana que antecedeu a II Bienal do Livro Sergipano, ocorrida em Itabaiana no dia 29 de outubro de 2011, a competente jornalista do Portal Infonet, Kátia Susanna, enviou-me um questionário com seis perguntas a serem respondidas, para veiculação, naquela mesma data em matéria sobre aquele evento.
Uma das questões era:
Como as crianças e adultos podem redescobrir a paixão pela leitura?
A indagação é, sem dúvidas, um convite para uma discussão um pouco mais acurada. Numa simples resposta, poderíamos sintetizar dizendo: há somente uma forma de fazer uma pessoa gostar de algo: torná-lo algo agradável, ou seja, só nos apaixonamos por aquilo que nos anima, só nos cativamos por aquilo que também nos cativa, no dizer de Saint-Exupery, no famoso diálogo da raposa com o Pequeno Príncipe.
Porém, podemos ir um pouco além e explicar que para fazer uma criança ou, até mesmo um adulto, descobrir ou, se for o caso, redescobrir, a paixão pela leitura, faz-se necessário uma boa apresentação de tudo que está relacionado ao livro e, ao hábito de ler. Leitura é uma conquista a ser encetada. Passa, obrigatoriamente, pelo ato de cativar.
Isso porque, ler, infelizmente, não é da natureza e nem do instinto do homem, como o ato de andar, comer, sorrir, chorar… Essas ações vão acontecendo durante o desenvolvimento da vida sem muitas dificuldades de assimilação, fazem parte da estrutura do ser humano, elas vão surgindo com o tempo e a necessidade: a criança, logo que nasce, instintivamente procura o peito da mãe e se alimenta; sorrir e chora espontaneamente, e, com pouco tempo, anda… Ler, não. Ler não é natural, não há um impulso natural, não há uma tendência natural. A rigor, esta necessidade, este motivo sequer nascem com o ser humano. O ato de ler é um fenômeno histórico e cultural, vem depois da natureza ou do impulso instintivo, totalmente diferente, portanto, daquilo que já vem com a pessoa. Por isso tem que ser ensinado.
É exatamente aí onde mora a grande dificuldade: não somos, culturalmente, bons leitores e, no caso, alguém tem que ensinar e ainda fazer isso de tal forma que cative o aprendiz a gostar do que lhe é ensinado. Como sabemos, na atualidade, é quase impossível encontrarmos tempo e estímulo para cumprir, como pais comprometidos, esta tão nobre missão. Nós não somos bons educadores, até porque também não fomos bons “aprendedores”, ou melhor, nós também não fomos devidamente ensinados. Por quê? Porque este não é um hábito que faça parte da nossa cultura, pior ainda, nos dias atuais.
Ler deveria ser um costume cultivado e praticado em todos os lares como um ato sagrado, ter hora determinada para que todos juntos lessem, declamassem, contassem histórias, refletissem, enfim, sobre esta tão salutar e enriquecedora prática. Aí, sim, teríamos bom preparo, mesmo porque para termos bons “aprendentes” temos que ter bons “ensinantes”, pois somente se ensina aquilo que se aprende.
Além disso, e talvez, até mais importante do que ensinar a ler, os pais deveriam ter a faculdade de fazer com que os filhos gostem de ler e de aprender. Ensinar é, antes de tudo, submeter o “aprendente”, pelo amor e pela razão, na direção racional da vontade.
Com um pouco de boa vontade, esforço e, naturalmente, alguma renuncia, é possível sim desenvolvermos a paixão pela leitura. Depende do comprometimento da família com a cultura do ler e do aprender e, sobretudo, da inteligência e o amor com um futuro melhor para o seu descendente.
Que filho você quer deixar para este mundo? Ou, que mundo você quer deixar para seu filho? Não tenha dúvidas somente pela leitura ele viajará para o passado ou futuro com a mesma felicidade e desenvoltura do presente.
Pratique o saudável hábito de ler com seu filho ele um dia agradecerá.