“As pessoas que reclamam da vida são aquelas que estão bem. As que estão mal cerram os dentes e, sem protestos, vão em frente”.
Gustavo Zerbino.
Somos, por natureza, “reclamões”. Reclamamos de tudo: do tempo que passa rápido e dos dias que se arrastam, do inverno, porque chove, ou do verão, porque é seco. Se solteiros, queremos casar, pois parece ser esta a solução definitiva. No entanto, se casados, reclamamos, pois viver a dois não é fácil. Se tivermos filhos, reclamamos pela dificuldade que temos de entendê-los. Porém, se não os temos, também estamos insatisfeitos, pois nos achamos incompletos.
Reclamamos da fila que não anda, do trabalho que dá trabalhar, do patrão que sempre remunera mal, do empregado que não produz, da seleção brasileira porque só foi vice-campeã, dos nossos times que não estão jogando bem, dos gestores públicos… Enfim, somos senhores em reclamações. Algumas com absoluta procedência, outras, no entanto, aliás, a maioria, sem o menor fundamento.
Acredito, até, que protestos procedentes, aqueles que, verdadeiramente se justificam, são válidos, posto que se prestam para despertar, no agente e em todos nós, uma consciência do que é certo e daquilo que é errado. Esses protestos objetivos, fundamentados são necessários para a elucidação constante das arestas que surgem na nossa trajetória de vida em sociedade.
No entanto, queixas bobas, desprovidas de nenhuma fundamentação e objetividade, deveriam ser evitadas. E, convenhamos, elas são muitas. Por exemplo, no trânsito que não flui, qual será o valor dos indelicados reclamos representados por buzinadas, sinais intermitentes de farol, tentativas desesperadas de ultrapassagem, nervosismo, xingamento? Para que servem estas atitudes de descortesia, de afobação, de ira, até?
Posso assegurar que elas não vão solucionar o problema. O nosso companheiro motorista que, por acaso, – pois temos certeza que ele não fez aquilo de propósito – provocou toda esta desorganização no nosso caminho, está lá na frente, podemos garantir, sofrendo, muito mais do que nós que cá estamos nesta fila, irritadiços e estressados, incomodando e sendo incomodados. Portanto, nessas horas o melhor que deveríamos fazer mesmo, era exatamente ao contrário deste açodamento desnecessário, deveríamos pensar no outro que lá na frente, causa todo este “transtorno”. Pôr-se no lugar do outro, em certas ocasiões, faz bem e é uma grande oportunidade de crescimento interior.
Poderíamos, também, refletir sobre o dano que estaremos provocando a nós mesmos, com todo este desnecessário e reprovável festival de grosserias e despropósitos. Pois, temos consciência clara do mal que nos faz toda essas agressões gratuitas. Quer ver? Experimente verificar o nível de desequilíbrio que gera, em você mesmo, uma simples buzinada. Seja quando você aperta a buzina e já está enfurecido ou, quando alguém, noutro veículo, buzina intermitentemente para você. Perceba que o seu nível de adrenalina aumenta e seu organismo se prepara para a defesa ou para o ataque, vêm os xingamento, a descompostura, a raiva e, pronto, se alguém não ceder, o barraco está formado e sobra para todo mundo: companheiro de cabine, outros motoristas e, até o papa, se acaso se intrometer, receberá impropérios, descortesias, agressão física e, lamentavelmente, em alguns casos, até bala.
Todo esse destempero, normalmente acontece, porque alguém se acha prejudicado, não admite perder um minuto, sequer. Ou seja, queremos sempre ganhar mais tempo. A pergunta é: ganhar tempo pra quê? Será que os minutos perdidos com um congestionamento valem tanto assim? Será que não parar numa faixa de pedestre, num sinal amarelo, aguardar um fluxo mais lento por causa de um acidente, não está nos planos do motorista moderno? Nós que dirigimos em cidades temos que estar conscientes de que imprevistos existem não temos, ainda, como controlá-los. Eles são acidentais.
O melhor que podemos fazer, ao assumir o guidão de um veículo, é sermos previdentes e usar a serenidade e o bom senso, para quando aquilo que não foi previsto acontecer estejamos preparados para cuidar do nosso comportamento e, até entendermos os outros – coitados, eles não sabem o mal que estão fazendo a eles próprios. – Sejamos nós, o motorista que está lá na frente, involuntariamente, atrapalhando o trânsito, ou aquele no final da fila que não anda. Não importa, o mais sensato, nestes instantes é que devemos refletir: ninguém está passando por isso voluntariamente, todos queremos nos safar dessa situação o quanto antes, vamos ter calma e colaborar e não piorar as coisas. – Paciência e um pouco de renuncia, nestes instantes, são muito úteis para todos.
Devemos ser agente de transformação, pois se atuarmos com prudência, diminuindo as arengas, as nossas e dos outros arengueiros, fazendo com que uma má ação não encontre uma reação, estaremos semeando a paz. Pois se do insulto advir uma resposta, também audaciosa, a tendência, normalmente, é o descontrole. Se, ao contrário, aquela mesma agressão não encontrar eco, a tendência é que ela enfraqueça e expire naturalmente.
Sejamos mais calmos, reclamemos menos, nos conscientizemos de que “só reclama quem está bem”, quem está mal, não tem tempo para isso, enfrentar é a sua única saída, conforme disse Zerbino.
Plantemos, pois, todo dia, a semente da paz, da concórdia e, do amor. Pois a nossa felicidade está sempre a um passo à frente, separada por algo ainda não acabado, por uma necessidade ainda não satisfeita. Pensamos as nossas realizações sempre dependentes de uma aspiração não concluída. Está ali, mas algo tem que acontecer para a realização plena da felicidade e a geração do prazer almejado do viver. Temos o direito à felicidade e, esta felicidade está logo ali, na harmonia e não no estresse, na paz e não no conflito, no amor e não na guerra.
PENSE NISSO E SEJA FELIZ