O Complexo e o Desconexo.

Nós brasileiros temos a mania de pronunciar corretamente os nomes das personalidades estrangeiras.

Quando eu era criança, por exemplo, lembro ter corrigido um parente idoso que lera “duig eisenhover” numa notícia de jornal sobre a visita ao nosso país do Presidente Dwight “Ike” Eisenhower, isso no distante ano de 1960.

Agora, o Presidente americano se chama Joseph Robinette “Joe” Biden Jr, e nós nos esmeramos em pronunciar “bâidem”, com o â paroxítono, como se fôssemos bem letrados americanos do Norte.

Se “robinette” é galicismo inglês, e o mesmo que torneira, os franceses pronunciam Biden como “bidém”, sem lhe demonstrar desdém, muito menos com os seus irmãos no além da Mancha, e no pós-além do canal, no requevém.

Em desfazimento, no aquém porém por desprezo, ninguém por aqui se despertou para um Joe Torneira, preferindo chamá-lo de bidê mesmo, pensando naquele vaso sanitário hoje em desuso nos banheiros modernos.

O tema eu começo assim, porque a nossa imprensa, hoje dita “velha imprensa”, por “extrema imprensa”, cantou loas e broas, na perspectiva de um mal desempenho do Presidente Bolsonaro na reunião do clima promovida pelo Biden.

O comportamento, todavia, não é novo.

Vasto segmento da nossa intelligentsia, aí incluídos muitos intelectuais e estudantes, sindicalistas e jornalistas, entre tantos simpatizantes e outrora comunistas, muita gente sempre nutriu uma relação de amor e ódio com os Ianques.

Ao longo desse tempo visitaram o nosso país, salvo engano os seguintes presidentes: Herbert Hoover em 1928, Franklin Roosevelt em 1936, Harry Truman em 1947, Dwight Eisenhower em 1960, Jimmy Carter em 1977, Ronald Reagan em 1982, George Bush, BILL Clinton, George W Bush em 1990 e 1992, e por último, Barack Obama.

Só não chegaram por aqui os Presidentes John Kennedy, Lyndon Johnson, Richard Nixon, Gerald Ford e Donald Trump, que era amigo do Bolsonaro.

Quanto ao Biden, enquanto Vice Presidente. esteve aqui trocando sorrisos com a Presidente Dilma Rousseff.

Quando Ike Eisenhower visitou o Brasil, isso em 1960, enquanto o cartaz oficial exibia a foto do americano com o Presidente JK, ambos sorridentes, dizendo “We like Ike”, os estudantes refutavam no prédio da UNE: “UNE, UBES: we like Fidel Castro”.

Anti-americanismo de 1960.

Eu lembro essa visita, sobretudo, porque houve protesto na américa latina por onde Ike passara, e aqui também, por conta da execução do ladrão, raptor e violador, Caryl Chesmann, na câmara de gás no presídio de San Quentin, na Califórnia,

Caryl Chesmann fora acusado de ser “The Red Light Bandit”, ou o bandido da luz vermelha, e angariara na cadeia a simpatia mundial, pois se tornara um bom escritor de memórias enquanto presidiário, em seus muitos anos no corredor da morte daquele presídio, aguardando uma execução sempre adiada.

Entre os protestos da visita, procurava-se uma interferência do Presidente Eisenhower querendo que este comutasse a pena para prisão perpétua o que não aconteceu, mas talvez tenha virado roteiro de filme.

Se fosse feito uma película sobre as visitas dos presidentes americanos ao Brasil, seriam listados alguns sorrisos, que bem vale relembrar.

Muitos risos com a visita de Roosevelt se apertando num jipe com Getúlio Vargas.

Getulio Vargas e Roosevelt se apertando num carrinho.

 

 

 

 

 

 

 

Protesto dos estudantes contra a visita de Eisenhower, como já falado.  Houve também uma visita a Brasília, então em obras, tendo Juscelino dado um “chá de espera” no americano, porque o avião deste chegou primeiro à desértica Brasília, tendo que aguardar a aeronave do nosso “Presidente Peixe Vivo e Bossa-Nova”, como era conhecido.

Jimmy Carter e Rosalyn

 

A visita de Jimmy Carter ao Brasil merece maior destaque porque foi mais traumática.

 

O Presidente de plantão era o General Ernesto Geisel e a imprensa em geral vira na política de “Direitos Humanos de Carter”, uma oportunidade para Geisel tomar um “cocorote” do americano.

 

Rosalyn Carter “argui”Geisel com um caderninho.

Houve inclusive uma “arguição” prévia da Senhora Rosalyn Carter, descrita por Geisel em suas memórias que bem valem as aspas:  “Com a dona Rosalyn era mais difícil, porque ela trazia um caderninho com as suas anotações. Ela tinha um professor que veio junto, o sr. Pastor, que a instruía. Ela sentava, abria o caderno e apresentava sucessivamente os itens da nossa conversa. Eram itens sobre direitos humanos, energia nuclear… Ela se envolvia em tudo. Uma vez eu disse a ela: “A senhora está abordando um problema baseado apenas em suposições”– referia-me a energia nuclear – “e, enquanto isso, os Estados Unidos continuam fazendo experiências nucleares”. Ela: “Ah, não! O Jimmy não faz isso!” Aí eu respondi: “perdoe, mas faz. Está aqui o jornal de ontem deu a notícia de uma experiência no deserto de Nevada”. E ela: “Não, não é verdade”. Depois ela me telefonou dizendo que tinha verificado e que a experiência nuclear tinha sido feita realmente, mas no mar. Eu disse: “Mas minha senhora, é experiência nuclear do mesmo jeito! Estão estourando bombas nucleares! Para quê? Para bombardear o mundo?”

Ainda por relatos de Geisel, vale repetir: “Uma ocasião o Carter, ela e o secretário de Estado que os acompanhava fizeram uma chantagem comigo. Eles diziam que poderiam fazer isso e aquilo pelo Brasil, mas que já estavam em negociações se encaminhando para fazer tais favores à Argentina. Respondi: “Muito bem, os senhores façam os favores para a Argentina. O brasil não tem nada com isso. Não temos incompatibilidades ou rivalidades com a Argentina. Se os senhores quiserem fazer, não há qualquer objeção”. Que mediocridade! Pensavam que eu fosse me impressionar e ceder às suas pressões. Eles não queriam que eu cumprisse o Acordo Nuclear com a Alemanha”.

Quem lembra aquela visita, sabe que a imprensa muito especulou almejando um cascudo Ianque, destacando sobremodo uma “carona” dada por Jimmy Carter ao então Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Arns, enquanto entrevista sem gravações e a gerar vivas especulações, nunca resultando em nada.

Restou igual e sem mudança a “abertura lenta, gradual e segura”, assim definida pelo General Geisel, desde a sua promessa de posse.

No seu retorno da visita, Carter teve que ouvir a contragosto o entendimento dos “Direitos Humanos” concebidos pelo Presidente Geisel e seu governo.

Como a História é inexorável com os fortes e os fracos, a política de “Direitos Humanos”  de Carter foi um fracasso mundo a fora, só semeando inimizades com os governos que sucederam àqueles, tidos e havidos como não democráticos.

De Ronald Reagan, fala-se de um protesto promovido pelo PT e PMDB, creditando-lhe influências com o malfadado FMI.

George Bush, o pai, com Collor na Rio92 do clima.

 

 

George Bush, o pai, veio para a Convenção de Biodiversidade e dela saiu execrado como seu “maior vilão”, por entender que a agenda climática ali discutida era “financeiramente inexequível”.

 

 

 

Clinton jogou bola com Pelé

 

Bill Clinton, aqui não tragou charuto, mas jogou bola com Pelé.

 

 

 

 

Muitos sorrisos de George W Bush, o filho, com Lula e esposas.

George W Bush, o filho, posou com muitos sorrisos com Lula, inclusive bancando bom peão da Petrobras.

 

 

 

 

 

 

Barack Obama, para quem Lula era “o cara”, sorriu até com Dilma Rousseff.

A parte tudo isso, retorno ao tema, porque a nossa imprensa sempre viu o Presidente Americano um bom motivo para externar um colonialismo entranhado.

Se esta imprensa, está muito pouco descolonizada, vem sendo destratada sobremodo agora.

Sem merecer dorida pena, nem saudade, tal desmerecimento deriva do real conflito entre o novo que ressurge e o velho que apodrece sem evoluir, sem choro nem lamento, consequência da inovação benvinda e necessária por destruição criativa, como bem explicitara o austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) na metade do século que passou.

Nesse contexto, vivemos um momento em que imprensa escrita, aí incluídos o rádio e a televisão, envelhecem e envilecem, jovens ainda, porque a serviço de seus donos, nunca perfeitamente identificados, sendo descurados e responsabilizados, a céu aberto, pelas mídias sociais.

Esta mídias, muito mais lépidas e acessáveis, enquanto novo xodó em pública preferência, são acusadas pela velha imprensa que sente no fígado o golpe delas recebido, ao qual atribui uma irresponsabilidade que lhe é malquista.

Malquerenças à parte e por perlustrar um variegado conteúdo opinativo, cuja confiabilidade requer aceitação previa do leitor e consumidor a todo instante, as redes sociais apresentam crescente popularidade, tudo aquilo que está faltando aos jornais.

Não é à toa portanto, que veículos tradicionais como a Folha de São Paulo, o Estadão e o Globo, só para falar destes gigantes da mídia escrita, aí incluídos as Redes Globo e Bandeirantes de TV, perdem patrocínios, assinantes, e, sobretudo, a credibilidade, enquanto formadores de opinião.

Houve tempo, por exemplo, que em nível estadual, municipal e paroquial, as rádios e emissoras de TV, por serem concessões federais, eram distribuídas a políticos, todos bem agradados pela outrora bem amada “ditadura militar”,que hoje está mais malfadada que mulher mal amada e promíscua, e que a tantos agradou e orgasmou.

Orgasmos e turgescências perdidas, e já longinquamente esquecidas, o poder político fugiu destas rádios, seus jornais e até TVs, reprovando seus proprietários e sucessores a cada eleição, conferindo-lhes uma desimportância do que foi, e não mais é, em promessas de insolvência por obsolescência, um descalabro em perspectiva, enquanto empresas.

Não é, portanto, nenhuma novidade a campanha desenvolvida por essa “antiga imprensa” contra a “nova imprensa”, as redes sociais, acusando-as de promoverem “Fake News”.

Voltando ao Biden e a sua cúpula do clima, a “velha imprensa” despertou vivas esperanças de um fracasso do nosso Presidente Bolsonaro, torcendo com a perspectiva de uma forte reprovação da nossa política climática.

Quando o discurso curto do Presidente aconteceu, a mídia paulista entendeu que o Mito “adamou” a sua fala.

No meu entender, ao utilizar o desusado verbo “adamar”, o jornalista menosprezou o vocábulo “dama”, tão caro à cortesia e o respeito como deve ser tratada a maioria das mulheres, casadas ou não, bem nascidas ou não, educadas ou não, algo que só se desprestigia se for depreciada como mulher-dama, o que não vem ao caso.

Melhor seria, todavia, se o articulista dissesse abusadamente, que no seu discurso pequenino, o Presidente tivesse cantado de franga, ou se “afrangotado”, ou ainda se efeminado, o que não soaria em bom tom, pois geraria um possível conflito com minorias agressivas e estridentes.

O formador de opinião preferiu então, “adamar-lhe” o discurso, talvez porque as damas melhor enganem e pareçam indefesas.

Em verdade, o beletrista quis conferir ao discurso do Mito um falsete em damaísmo, ou em damaria, um excesso de damismo ou madamismo, tudo a lhe ensejar uma excedente covardia, algo que só seria comum, ó que terrível! Que comparação, meu Deus!: às indefesas mulheres!

Em seus misteres e miseres, talvez os articulistas paulistas bem quisessem e torcessem que o Presidente Bolsonarorelinchasse, empinasse e desse coice, agindo qual jumento azougado, lá no cenário cristalino da reunião do clima.

Esperavam inclusive e também, que o Mito, enquanto potro xucro, destabocado e mal-educado, fosse bem esporeado, jungido e domado, amarrado e apeado, até com brida e focinheira.

Não foi isso o quê aconteceu, conforme o Eclesiastes, a confirmar que o pior do homem é a sua vaidade.

E como há tempo para sorrir e chorar, e até para zurrar e escoicear, o discurso “adamado” do Presidente foi fartamente elogiado, só porque disse mais do mesmo, em promessas múltiplas e comuns de boas esperanças.

O aquecimento global, todo mundo o sabe, é meta a longo prazo em perdas de vistas e em amplo desafio de profetas e previsões.

 

Capa da Time mostrando que, geograficamente, o fogo não está no Brasil, nem só aqui.

Vale, a título de ilustração, apresentar a capa da revista Time para mostrar que o aquecimento global é fenômeno muito maior do que as queimadas da Amazônia, que por sinal não foi explicitada na figura.

Em realidade, o aquecimento ambiental tem sua origem no desenvolvimento humano em excedente despejo industrial nos nossos rios e mares, assazmente maltratados, veja-se à nossa frente o amado Rio Sergipe, e o violento acréscimo de monóxido e dióxido de carbono na nossa atmosfera, por crescentes veículos a combustão interna, a gasolina ou a diesel, ainda não desbancados pelos automóveis elétricos.

Se não podemos nem coibir o barulho insuportável das motos desembestadas que nos azucrinam os ouvidos, como dizer que é fácil impedir o fogo ilegal, travestido por legal?

Não seria melhor que todos pudéssemos, em desconexo de colônia, decifrar as Revelações do Apocalipse de São João?

Infelizmente, a única besta, desvendada e denunciada no pátrio apocalipse, chama-se Jair Messias Bolsonaro, aquele que não rouba: mas incomoda!

E como incomoda!

Sofrimento da Índia cremando os seus cadáveres.

 

Para terminar, exibo um crematório indiano em rito hindu, algo que se faz pior e chocante, em tantas mortes por COVID19.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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