Ao ver as sucessivas passeatas, carreatas e “motoratas”, Brasil afora e adentro, nas grandes cidades e suas simbólicas Avenidas, como a Paulista, na desvairada Paulicéia, a carioquíssima Oceânica do Rio Maravilha, na Grande Esplanada dos Ministérios em Brasília, em BH, em Maceió, em Belém e bem além…lá, lá, lá!
– E aqui, e no aquém também! – poderá acrescentar alguém.
– É verdade! – adiciono.
Mesmo aqui na Beira Mar, meio envergonhada, sem saber ainda o que fazer e a quem seguir, tentando talvez não ouvir e até refutar, quem o sabe?, os ecos longínquos dos distantes grotões desse nosso Brasilzão imenso, tão sonolento e modorrento, quão inercial e pachorrento, mulato fogoso, tesudo e gigante, bom de samba e cuíca, melhor de cama que de pandeiro!
Inzoneiro em amplo dissenso de um só brasileiro, que só entra em consenso, no gol fugaz do escrete, da canarinha seleção!
E que sem grito de gol e sem apupo adversário, o que se escutou nos ressonantes rincões sempre esquecidos, desde os remotos escaninhos onde o vento some e faz a curva, onde Judas se esconde e acoita, e Asmodeus perdeu os seus, só uma música me veio a cabeça, enquanto loucura!
Música que não tinha coisa com coisa, nem fora cantada assim, mas repetia, enquanto refrão, trazendo o que, nem eu o saberia dizer, me parecendo que: os alquimistas estavam chegando.
Por que assim, se a música por seus autores, fosse talvez, mal cabida e pior inserida, num movimento popular como esse acontecido, e que não deveria existir, jamais!, como assim afirmam os politicamente mais-que-corretos, nem por abstrusa hipótese?
Ter isso acontecido, em terras de bundas bem lavadas, com água morna, shampoo e perfume, e até em outras nem tanto assim, por falta de água e sabão, boa higiene e parca alfabetização, acrescento, desde os nossos benquistos lugares aos quintos dos infernos onde Judas sujou os fundilhos, e Asmodeus perdeu os seus, nós aqui, em terras civilizadas e eles lá nas glebas peçonhentas e garranchentas deste grande matagal sem fim, que ninguém daqui quer conhecer nem visitar, quanto mais viver?
Porque foi amplo assim o manifesto, embora a grande imprensa, por birra e capricho, não o tivesse noticiado, como gente bem letrada e melhor instruída, ora essa!
Por que divulgaria, se não houve sangue, morte ou quebra-quebra, todos voltando felizes sem refrega e sem um leve desconforto de laringe a exaltar?
Enfim! Foi assim que me veio a música de Jorge Ben Jor e Tony Garrido, poema que eu pensava ser de Raul Seixas, o “Maluco Beleza”, dada a mistura de humor, caráter satírico e insinuar um pouco de esoterismo.
Estariam mesmo os alquimistas chegando?
Se não houvera sátira, ao lembrar da música, percebo um pouco de ironia com o presente noticiário, o povo se erguendo nas ruas e gritando esbaforido: “Eu autorizo!” “Eu autorizo!” “Eu autorizo!”
Autoriza o que, cara pálida?
Daí bem caber a música desde o começo usando um mote prévio por mando e comando, um quase conselho, por acalmia necessária:
“Salve
Não não, senta
Senta, não não, senta, não não
Você é ilegal, senta
Então tem que dançar, dançando
Dançando
Porque o povo quando sai às ruas, não o faz por acaso: legal ou ilegalmente!
Daí ser bom sentar-se, se acalmar: baixar o facho, como diziam os antigos.
Estão cutucando o cão com a vara curta!
Se o povo ainda não está dizendo que os alquimistas estão se aproximando em ameaças, está demonstrando uma insatisfação crescente contra os poderes constituídos, em prévias trevosas, a requerer acalmia com o caminhar do andor.
Derrubar um Presidente da República é fácil!
Com o apoio das ruas já o fizemos com dois Presidentes: Collor, o caçador de marajás e Dilma, que ninguém respeitou como mulher nem guerrilheira!
Sem o apoio das ruas, já tentamos, desde a redemocratização, derribar todos os outros Presidentes em repetidas camarilhas congressuais.
Ninguém mais lembra, por mais distante, que dissoluções congressuais e até dos tribunais superiores, tidas hoje como supremas heresias da democracia, aconteceram embora não tão amiúde, e o povo não lhes acudiu, pois bem apoiou e aplaudiu, até com palmas de unha para não despertar sorriso, o caído sempre restando bem esquecido e muito pouco carpido.
Só para dizer que tudo tem limite.
Como diziam os de antanho: “quando a cabeça não pensa, o corpo é que paga!”
Da insatisfação popular nem os assassinos de Júlio Cesar pensavam tanto os que o apunhalaram no Senado.
De repente, a insatisfação popular, em Roma fez sua hora, e assumiu a vez que era só sua.
E assim, de lá para cá, há os que saem às ruas e os que dela fogem, e sordidamente conspiram!
Não há democracia sem o povo na rua. Repetem e não acreditam!
E eu, que nada autorizo, nem antecipo outro Cesar assassinado, transcrevo a música e o poema, vendo na carreata um dilema a ser auscultado pelos homens de bom senso, e que não são sórdidos, em temperamento!
Os alquimistas estão chegando
Estão chegando os alquimistas
Os alquimistas estão chegando
Estão chegando os alquimistas
Eles são discretos e silenciosos
Moram bem longe dos homens
Escolhem com carinho a hora e o tempo
Do seu precioso trabalho
São pacientes, assíduos e perseverantes
Executam segundo as regras herméticas
Desde a trituração, a fixação
A destilação e a coagulação
Trazem consigo cadinhos
Vasos de vidro, potes de louça
Todos bem e iluminados
Evitam qualquer relação com pessoas
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido