Terceira via: uma overdose por euforia,

Em tempos de Pandemia, e em face de raras visitas às livrarias, mandei buscar via amazon.fr, pela internet, os livros: “La Guerre des Idées” de Eugénie Bastié e “La fin d’um monde” de Patrick Buisson, cujas críticas eu lera no Le Figaro e despertara sobremodo, minha atenção.

Como já dito anteriormente, por ausência de independência editorial e por excessivo proselitismo partidário, num anti-bolsonarismo corrosivo e excludente, cancelei meus vadeios pelos grandes jornais sulistas, Folha, Globo e Estadão, e deixei de assistir os noticiários das TVs, preferindo até mesmo, em noites de Domingo, ser garoto de auditório do risonho besteirol do animador Sílvio Santos, agora passando cenas gravadas de vinte, trinta anos passados.

Desses jornais sulistas, bastam-me suas manchetes, chamativas e repelentes, para deles me afastar e não adentrar, apagando desde logo os seus portais, o que me faz procurar a oxigenação dos meus neurônios, fora daqui e longe do tosco debate paroquial e local, por botocudo.

Antropofagias à parte e tentando afastar-me da mediocridade que nos isola e contém, ouso iludir minha cabeça com a imprensa francesa, muito ideologizada também, de quem procuro garimpar o xibio da ganga, agora lendo Buisson e Bastié, que me parecem ainda, nas poucas páginas avançadas, menos corrompidos com o pensar estreito, ideológico que impera mudo afora.

Noves-fora-nada, meus companheiros nas noites de segunda a sexta, e até no sábado, têm sido a “Escolinha de Professor Raimundo”, do genial Chico Anísio, o “Toma lá dá cá” e o “Sai de baixo”, do Miguel Falabella e Adriana Esteves, em textos magníficos, passados e repassados no canal 43, do VIVA, na TV por assinatura.

Do conteúdo político só perlustro a Revista Oeste, a Gazeta do Povo, “Os Pingos nos Ís” no Youtube das 18 às 20 Horas, e o “Barbara Te Atualizei”, formidável!

Prefiro assim, porque a nossa grande imprensa resolveu se transformar em partido político, sem exceção, tentando fazer uma nova agremiação: qual seja a dos “Unidos e Desunidos Todos Contra Bolsonaro”, querendo amontoá-los como cisco, em ajuntamento unânime de descontentes.

E o descontentamento, enquanto bolha, é o que nunca falta: emburrecida e embrutecida, o que é pior, a denotar os parcos neurônios de muitos no seu pensar, sobretudo daquele leitor, que paga para ler e se desilustra.

Isso na minha opinião, de “alienado”, claro! Deixem-me sê-lo! Por favor!

Porque “alienado”, era assim que nos chamavam no antanho de 1968, em prévias de AI5, tão chorado ainda em sua vigência de quase duas décadas, estupidamente provocado, e bem desejado e requerido, por desafio ao chicote e à mão que tudo podia, e não o fez porque não quisera, hoje se sabe muito bem, preferindo a tolerância, o arrefecimento dos excessos, sem massacrar os vencidos.

“Alienados”, entre outras causas, éramos nós, porque não ousamos pegar metralhas para assaltar banco, virar guerrilheiro, sequestrar, ferir e até matar gente, por injusto merecimento, ou justiçamento histórico, o que é a mesma coisa, porque todos no fundo seríamos, “carne de canhão” apenas, na luta de classes: tudo aquilo em que não acreditávamos.

Todavia, como o pecado comum deve ser perdoado, não sete vezes, mas setenta vezes sete, enquanto tolerância divina, ao homem cabe sempre zanzar no erro, e se equivocar, tropeçando pelas estradas da vida.

No tempo em que éramos os “alienados”, aqueles que assim não eram, choram ainda em uremias sem galhardia, o cocorote recebido e os parcos puxavantes de orelhas merecidos por troco, se contemplando imortais nos anais da nossa História.

Uma gente que se avalia ainda, num heroísmo superlativo, chorando um sofrimento bem acima àqueles dos processos de Moscou denunciados por Nikita Khrushchov em 1956, dos Gulags gelados da Sibéria de que nos fala Alexander Soljenítsin, superando até mesmo a doce Guilhotina de Saint-Just, pouco amolada, enquanto ideal barbeador igualitário.

Porque nesse contexto amplo de ferimento e sofrimento, creem-se superando as fogueiras de Joana d’Arc, as chamas do monge Savonarola, os fumos do Bruno Giovani, e até as labaredas da mãe de Kepler, aquele das órbitas elípticas, entreatos de astros e planetas, todos churrasqueados em praça pública, por melhor “abençoados” e benzidos, diretos mandados aos céus, coisa que por aqui não sucedeu, embora haja controvérsias em contrário.

Virando para cá a caneta, e a luneta, nessa parca bureta e nesse raso cadinho, nunca tantos foram poupados da bala e do fuzil que portaram, rejeitando a premissa de que “tiro trocado não dói”, porque a dor sempre cabe para quem perde, e tem que contar a história, do que fizera e não devia, mas foi poupado.

O problema, entretanto, é que não existe erro, quando não há penitência e arrependimento.

Uma verdade tão verdadeira que “o grande pai dos povos”, Joseph Stalin, de sua dacha em Moscou, encomendou uma picareta para fender o crânio de seu rival, Trotsky, um Leão, fera que distante rugia, numa jaula fechado, na Capital do México.

Só para confirmar, que nem todos bem acariciam e cofiam, o bicho que lhes arranha a mão.

Fatos contados ao vezo e em contramão denunciados, só para confirmar o desprezo e engano dos vivos, afinal o que interessa não é o que foi, porque “o que foi”, como dizia o poeta: “não é nada, e lembrar não é ver”.

Assim às tolices da juventude provocando o mangual, vale referir, embora nunca se queira dizer assim, ter vingado temperança e tolerância, naqueles anos ditos “de chumbo”, de que ou de quem, não interessa, porque mais vale caluniar e ofender, ao léu e aos céus, distribuindo injúrias ao desabrigo de quem lhes rejeita chapéus.

Se há parcas cicatrizes marcadas, em ausência de carcaças e cadaveres a carpir, sobram hoje os eternos “alienados”, ditos “terraplanistas”, palavra da moda, espécie ancestral ptolomaica, ou prosaica apenas, essa coisa “negacionista”, como tem sido denunciada amplamente, em caçadas novas de bruxas, uma inquisição moderna, no mesmo espírito demoníaco e piromaníaco, do medieval Santo Ofício, à moda Torquemada, nunca quedada de moda.

Porque o mundo tem sempre essas coisas: teima em banir, colocar no index, o que nunca deveria existir.

Não há sempre alguém que precisa ser banido do mundo, urgentemente, não para debaixo do piso, ou ao escabelo dos pés, mas direto mandado ao lixo, por fim comum da história?

História que teima em reincidir, em vir a luz, ressurgir, repetindo como tragédia ou farsa, em falsa Fênix, ou fígado recomposto de Prometeu, aquele que tudo fumou, e ainda hoje chora por isso, enquanto repasto de corvos e harpias?

Porque não nos faltam gralhas, farejando a carniça que produzimos.

Nesse contexto, Patrick Buisson chega até a descobrir o fim de um mundo.

Um mundo que não existe mais e restou pior, por legado da minha geração: os “baby boomer”, aqueles que nasceram no pós bomba atômica, e que está a despedir-se, com ou sem Covid.

Minhas próximas leituras, esperando afastar-me de terceiras vias.

Agora, nesse contexto de “Guerra das Idéias” e de detecção do “Fim de um Mundo”, em terras brasílicas estamos a discutir uma “Terceira Via”, que ninguém sabe o que é, nem o que deseja, afinal há um desconforto com o que se percebe em preferência numa futura eleição

Como por aqui são conhecidas as festas, só pelas vésperas, há pesquisas em excesso de reclamações, denunciando uma indesejável polarização, concentrada em duas figuras: o Ex-Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, e o atual Presidente, o Capitão Jair Messias Bolsonaro.

Os que me acompanham de longas datas nunca me flagraram vãos proselitismos políticos, mesmo porque já fui eleitor de Lula, duas vezes, e até da Dilma, duas vezes também, hoje em preferência ao “mais-que-execrável”, Presidente Bolsonaro.

Minhas escolhas se deram e continuam em rejeição aos seus contendores nos pleitos que passaram.

Digo assim, porque entendo que a dita esquerda de Lula, em sua “carta aos brasileiros”, foi uma bênção diante de tanta pregação furiosa que esboçava no palanque sua claque raivosa, em revérberos coléricos, a demonização da livre iniciativa e do capital cruel e espoliador.

Sempre entendi, que tal contumaz hidrofobia fora a razão de tantos descaminhos dos da minha geração, que queriam imitar em terra pátria a Cuba Libre de Fidel, os passeios de motocas do Guevara, e tantos outras aventuras e desventuras, com balas recebidas, para a indiferença plena de vasta população que tudo vira, e mais aplaudira que carpira.

Como da carpição sempre valeu o poema, o aporema de agora é querer encontrar no meio, “na terceira via”, um equilíbrio que fuzile o Lula e apunhale o Bolsonaro, sepultando-os na mesma cova, sem escorva e sem delito.

Porque o crime é o povo preferi-los, reconhecendo-os e festejando-os.

Eis então o fim-do-mundo, com o imundo invocando resmungo, reivindicando saudades do que foi e não devia ter sido, porque o que foi, restou pior, e assim o foi, e não merece por pior, ser repetido.

Digo assim, porque não me animam saudades de Dr Ulysses, Santo Tancredo, e tantos citados por via torta, ou entortada ao seu viés, nunca isento tanto, quanto pensam que enganam.

Dos partidos, em muito engano, existem trinta e três, salvo meu erro.

Nenhum deles é “terceira via”, ou todos o serão?

E o que representa a “terceira via”?

Seria, por modismo, “liberal na economia e conservador nos costumes”, ou seria o “bom e velho” socialismo, moléstia que assola todos os jovens e só resiste naqueles que envelhecem e assim apodrecem?

Porque não faltam saudosistas de comunistas, mesmo com os muros derribados de Berlin, os Gulags revisitados, os desembestos equivocados dos bisavôs relembrados, vingando para os avôs, e destes para os pais e netos, porque a esperança jamais será renhida, enquanto não ressuscitar a velha paulada, tão almejada.

E em tantos almejos, quem aos seus puxam, comum é dizer: não degeneram!

Nem nos equívocos!

Assim, em tantos saudosistas de histórias vãs, estamos todos querendo uma “terceira via”, uma confissão tardia de que a democracia que temos não é a que desejamos.

E que triste!, uma revelação de que nossos ídolos não só morreram de overdose como precisam ser alevantados da tumba onde tudo se esquece, ou então cantar como Cazuza, ele esquecido também.

 

“Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito ah
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora as festas do “Grand Monde”

Meus heróis morreram de overdose
Eh, meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver…”

 

E eu não quero nenhuma para viver.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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