Às vezes o Bruce deita a cabeça no meu colo e adormece, ou vira-se de barriga pra cima para pedir carinho, não a suplicar, mas a pedir, e ao vê-lo assim, não deixo que ninguém diga que os animais não têm alma.
A vida é feita de coisas muito simples… Como por exemplo: vivênciar a alegria de poder afagar carinhosamente o meu cachorro e sentir o contentamento desse momento. Sem pressa.
Tenho pensado muito nessa história de simplificar; e vejo que passei grande parte da minha vida querendo ter as coisas, todas as coisas. E decidi que nessa segunda metade quero me desfazer das coisas e ficar apenas com o essêncial.
Nessa nova jornada do desapego, tenho me livrado de tudo o que me estressa e me é desconfortável.
Recentemente assisti à um filme, indicado por uma amiga, ganhador do Oscar de 2014, como melhor filme estrangeiro. O filme se chama: A grande belezza de Paolo Sorrentino. Trata-se da história de um boêmio escritor intelectual de 65 anos, que busca por um sentido de entendimento sobre a sua vida.
Com uma vida financeira de sucesso, ele passa a vida entre festas efusivas, restaurantes finos, rodeado por amigos que nunca saem do lugar comum, e adoram a zona de conforto que transitam. O filme é longo e muitas vezes difícil , mas tendo Roma como cenário e uma trilha sonora fantástica as cenas ficam um pouco mais leves, embora o protagonista esteja sempre beirando entre o cinismo e a melancolia. Isso me fez refletir muito sobre a beleza da vida, como o nome sugere. É um filme para nos fazer pensar.
Sair da zona de conforto nunca será algo fácil de se fazer, mesmo para pessoas como eu, que muitas vezes já ousou sair. Requer desprendimento, simplificação , sem deixar de ser essencialmente o que se é. Aliás, só saem da zona de conforto quem está totalmente seguro de quem é, e o quanto vale para si mesmo.
O valor por si só é algo que nos faz muito seguros e a vida por isso, passa a ser bem mais simples.
É libertador quando você decide que não vai mais ligar a sua felicidade à satisfação de desejos. Isso inclui pessoas e coisas. Afinal, nenhum desejo pode nos satisfazer plenamente.
A noção de felicidade da maioria das pessoas ,é ter segurança. A minha é ter uma vida interessante. Vou seguir sempre, sempre fazendo da minha vida uma aventura, e se possível sempre desafiando a minha zona de conforto. Pois, viver plenamente para mim , é poder se deparar na falta de algo, sentir as alegrias, mas também as dores da perda, o luto, as conquistas e os fracassos.
É preciso se arriscar, viver a complexidade das emoções e sentimentos que nos faz ricos em nossas experiências humanas. Só assim a vida vale a pena.
De agora em diante, decidi que não quero perder mais tempo pensando em como ser mais feliz, quero ter mais curiosidade pelas coisas da vida, viver mais colorido, e não me proteger demais das inevitáveis tristezas e decepções.
Simplificar- me, e saber o que de fato é belo para mim.
Nesses quase 11 anos de vida em comum entre o Bruce e eu, os seus olhos negros infinitamente bons e imensamente ternos , têm para mim toda a compreensão do mundo.
Isso é tão belo para mim….
Mas, o que é belo para uns, para outros, é monstruoso. E vice- versa. Afinal a beleza da vida não está nos olhos de quem vê?