Os ecos ainda ressoam: o 11/09/2001 e o Afeganistão em 2021

Katty Cristina Lima Sá

Mestre em História Comparada pela UFRJ

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)

E-mail: katty@getempo.org

 

Garoto afegão e soldado americano. Fotógrafo: Kim Jae-Hwan/AFP/Getty Images. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2021/apr/14/damned-either-way-biden-opts-out-of-afghanistan-as-us-tires-of-forever-wars. Acesso em 16 de agosto de 2021.

 

Os ataques de 11 de setembro de 2001 certamente marcaram o século XXI. Lembremos que a midiacidade dos atentados foi instantânea; afinal, a cena dos aviões colidindo contra as torres do World Trade Center foram transmitidas ao vivo para todo o planeta – inclusive para o esconderijo de Osama Bin Laden (1957-2011), nas montanhas afegãs. Esse episódio também foi a maior agressão sofrida pelos EUA dentro de seu território, com o saldo de três mil mortos, e logo refletiu no cinema, na música e na política externa global.

Nos Estados Unidos, o governo de George W. Bush (2001-2009) passou a defender intervenções armadas no exterior caso fosse detectada alguma ameaça à segura norte-americana, visão que ficou conhecida como Doutrina Bush. Isso justificou as subsequentes invasões ao Afeganistão (2001) e ao Iraque (2003), sendo que, no primeiro caso, o objetivo era capturar Bin Laden e dissolver o núcleo da Al-Qaeda. O problema em realizar tal operação era que o líder jihadista estava sob a proteção do Talibã.

A rede Al-Qaeda foi fundada por Bin Laden e Abdullah Azzam (1941-1989) no ano de 1989; sua estruturação é descentralizada e suas ações ocorrem através da aliança com grupos locais, sendo esse o caso do Talibã, e da atividade de simpatizantes isolados. O Talibã, por sua vez, é uma insurgência islâmica criada em 1994 que, dois anos mais tarde, tomou o controle de Afeganistão. Diferente da rede jihadista de Bin Laden, seu interesse não era confrontar os EUA, mas criar um “emirado islâmico” afegão controlado por uma interpretação radical do islã. O primeiro momento de domínio dos extremistas foi marcado pela perseguição a tudo considerado “não islâmico”, como a realização de festas, ouvir e tocar música e a educação feminina. Contudo, a responsável pela invasão das tropas da OTAN em 07 de outubro de 2001, e pelo consequente fim do governo talibã, foi a aproximação do grupo com a Al-Qaeda.

Ao longo de duas décadas de guerra, tanto a Al-Qaeda como o Talibã tiveram perdas consideráveis, com destaque para o assassinato de Bin Laden, em maio de 2011. Ainda assim, nenhuma das organizações poderia ser considerada definitivamente enfraquecida. No caso da insurgência afegã, estimou-se que, em 2018, ela detinha o controle de cerca de 55% do território do Afeganistão e contava com 60 mil combatentes.

Ainda em 2018, os EUA e o Talibã iniciaram as negociações para o fim de guerra. Em fevereiro de 2020, o grupo se dispôs a romper com a Al-Qaeda, enquanto os americanos aceitaram retirar suas tropas, ação que teve início em maio de 2021. O prazo para o final da retirada era 11 de setembro de 2021, exatamente vinte anos após os eventos que foram o estopim da invasão. Entretanto, antes que a meta fosse cumprida, o Talibã reconquistou Cabul, capital do Afeganistão, em 16 de agosto de 2021.

Com isso, as rememorações dos 20 anos dos atentados de 11 de setembro de 2001 não devem apenas lembrar-nos das vítimas dessa tragédia ou revistar testemunhos; faz-se necessário compreender os impactos causados por aquele acontecimento e a forma a qual ele ainda influencia o mundo do século XXI. A “guerra contra o terror” foi bem traçada e obteve os efeitos desejados? As mortes de Bin Laden ou de Mulá Omar (1960-2013), fundador do Talibã, foram suficientes para proteger os EUA, dar estabilidade às nações muçulmanas e desestruturar definitivamente os grupos extremistas? Podemos já ser capazes de responder essas questões, mas propor novas ações para o futuro ainda é complicado. Enquanto isso, continuamos a ouvir os ecos de 11 de setembro de 2001 e sabemos que, provavelmente, eles continuarão entre nós.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais