Clisman Mouzinho Sappi
Graduando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Texto produzido na disciplina História da América 3, ministrada pela Prof.ª Ma. Raquel Anne Lima de Assis
Ao longo dos séculos XX e XXI, a influência da imprensa e do cinema na sociedade pode ser observada em diversos contextos. Um deles consiste na Política de Boa Vizinhança iniciada na década de 1930, responsável por propagar, sobretudo, o modo de vida norte-americano em terras latino-americanas. Porém, um aspecto dessa política une de maneira mais intrínseca esse período com o momento vivido atualmente: a questão sanitária.
Em 1942, era criado o Serviço Especial de Saúde Pública no Brasil, o SESP. Fruto das relações entre Estados Unidos e Brasil em meio a essa política, o SESP tinha como objetivo levar a educação sanitária a várias regiões do país, focalizando nas que fossem menos desenvolvidas. Para isso, o programa tinha como cerne o entendimento de que essa educação não deveria se limitar aos pontos de saúde. Um dos primeiros passos para o início do programa foram as escolas primárias.
Os motivos dessa escolha são vários. Entre eles, a noção de que o problema sanitário estava atrelado a questão educacional. Isso se dava porque, nas regiões menos desenvolvidas, a participação de toda a família na produção do sustento era essencial. A escola, assim, se caracterizava como um empecilho para tal produção. Sem acesso à escola, a obtenção de hábitos de higiene era prejudicada.
Outro motivo consistia no fato de que as crianças podiam ser mais receptivas a novos aprendizados. Os adultos, muitas vezes munidos de crendices, apresentavam maior resistência ao novo. Buscava-se ainda com isso a formação de uma sociedade futura mais consciente. Isso significa que, ensinando a essas crianças hábitos de higiene, elas instruiriam seus filhos posteriormente. Com isso, esses conhecimentos seriam passados adiante, se caracterizando como algo normal na sociedade.
Cabe ressaltar que o contexto que envolve a criação do SESP se caracteriza, assim como hoje, pelo temor a enfermidades que não tinham uma cura imediata disponível. Essas doenças, por sua vez, já tinham feito grandes estragos ao redor do mundo, sendo uma das mais notáveis a malária. Estima-se que apenas 20% do globo terrestre não tinha casos relacionados a ela no início do século XX e, nesse mesmo período, o número de casos no Brasil passava dos 6 milhões, onde o valor investido na sua erradicação chegou a US$ 350 mil em uma verdadeira corrida contra o seu avanço no território nacional.
Assim como no século passado, o mundo atravessa um momento delicado relacionado a uma patologia que traz consigo mais dúvidas do que certezas para a população. O esforço médico dedicado na orientação da sociedade em como evitar a propagação de uma doença, como exposto no caso do SESP, se equipara a esse mesmo esforço na luta contra a covid-19 que ocorre desde 2019 e que, no Brasil, já fez mais de 600 mil vítimas fatais.
O SESP, como salientado anteriormente, acreditava que suas ações auxiliariam na formação de uma sociedade mais consciente de suas responsabilidades no futuro. Porém, em tempos de coronavírus, vemos que pouco colaboramos para a confirmação dessas expectativas. A Organização Mundial de Saúde aponta como melhores alternativas para o seu combate o isolamento social, o uso de máscaras, a higienização com álcool nas mãos e, sobretudo, a vacinação. Ainda assim, é possível ver ruas cheias, seja em São Paulo, no Rio de Janeiro ou Espírito Santo, por exemplo. Não é difícil também observar pessoas não usando a máscara ou usando de maneira errada. Essas atitudes, somadas aos problemas relacionados a vacinação como o ritmo ainda lento e atrasos na aplicação, colaboram para o prolongamento dessa pandemia.
A atual conjuntura é uma das piores crises sanitárias do último século. O avanço no âmbito tecnológico, o que implica maior facilidade no acesso à informação, é inegável. Ainda assim, os erros – absurdos – podem ser vistos com facilidade. Com isso, podemos nos questionar: será que de fato evoluímos e nos tornamos conscientes como imaginavam?
Para saber mais:
ATRASO na 2° dose abala confiança da população na vacinação, diz infectologista. CNN Brasil, 11 de Set. de 2021. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/atraso-na-2a-dose-abala-confianca-da-populacao-na-vacinacao-diz-infectologista/. Acesso em: 30 de Outubro de 2021.
CAMARGO, Erney Plessmann. Malária, Maleita, Paludismo. Scielo. Disponível em:
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252003000100021&script=sci_arttext&tlng=en. Acesso em: 11 de Agosto de 2020.
COM vacinação em ritmo lento e isolamento baixo, cientistas preveem terceira onda de Covid-19 no Brasil. O Globo, 18 de Mai. de 2021. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/saude/com-vacinacao-em-ritmo-lento-isolamento-baixo-cientistas-preveem-terceira-onda-de-covid-19-no-brasil-25022381. Acesso em: 30 de Outubro de 2021.
EM Olinda, várias pessoas são flagradas sem usar máscara ou usando a proteção de forma errada. G1 – Globo, 14 de Mai. de 2020. Disponível em:
FIM de semana tem ruas cheias em várias cidades do Brasil. Globoplay – Globo, 6 de Abr. de 2020. Disponível em:
https://globoplay.globo.com/v/8459722/
RENOVATO, Rogério Dias; BAGNATO, Maria Helena Salgado. O serviço especial de saúde pública e suas ações de educação sanitária nas escolas primárias (1942-1960), n. especial 2, Educar em Revista, Curitiba, Editora UFPR, 2010.
SERVIÇO ESPECIAL DE SAÚDE PÚBLICA (SESP) apud RENOVATO, Rogério Dias; BAGNATO, Maria Helena Salgado. O serviço especial de saúde pública e suas ações de educação sanitária nas escolas primárias (1942-1960), n. especial 2, Educar em Revista,Curitiba, Editora UFPR, 2010.
TOTA, Antônio Pedro. O Imperialismo Sedutor. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.41-92.