Alter do Chão (PA), um destino chamado Amor

Uma ilha que se chama Amor e um centrinho que a noite o carimbo dá o tom da balada, desenhado por uma igreja, barraquinhas de comidas típicas e restaurantes charmosos. Durante o dia, passeios por florestas alagadas, igarapés, praias de água doce e lagoas. Sabe de onde estou falando? Alter do Chão (PA): um destino chamado Amor, destino estrelado do Oeste do Pará, localizado na margem direita do rio Tapajós e que fica a cerca de 35 km de Santarém.

Ilha do Amor Alter
Catraieros fazem a travessia para a Ilha do Amor

 

Alter do Chão
Um destino atraente

Sempre quis conhecer esse pedaço do Norte Amazônico desde que li em revistas especializadas que Alter é um dos mais atrativos destinos do país em que se refere a praias de águas doces do Pará, além de ser um destino premiado por publicações especializadas. Passei dois dias no vilarejo e a sensação é que foi pouco. Cheguei na cidade a partir de Santarém e logo “bati-perna” para reconhecer a área e verificar o que estava por vir. Não resisti. Pedi permissão ao Muiraquitã, um símbolo sagrado de origem ancestral do Pará, e esqueci do tempo passando a tarde entre a travessia para Ilha do Amor e o pôr do sol da praia do Cajueiro.

Logo me aproximei da vida cotidiana do vilarejo e percebi que há uma predominante descendência indígena entre os pouco mais de 6mil hab. A cor da pele, os cabelos lisos e pretos, os olhos amendoados e puxados denotam a Amazônia na veia de seus moradores, descentes da etnia Borari, o que torna o Alter ainda mais especial. A partir dali Alter se fez em vida para mim não somente por esses traços, mas por disponibilizar ao primeiro olhar o contato com a natureza da Ilha do Amor, bem à frente da orla.

Ilha do Amor
Um paraíso chamado Amor

Embarquei em uma catraia –  tipo de barcaça da cidade, principal modo de se chegar na ilha partindo de sede. Percebi que é uma travessia rápida, mas confesso que atravessar em uma delas completa a sensação de ir ao paraíso. A Ilha do Amor é o cartão-postal mais fotografado de Alter, até por sua localização privilegiada em frente da orla principal. Barracas de madeira e telhados de palha trançada, ao lado de poucas árvores encrustadas em um banco de arreia branquinha que destoa das águas escuras e transparentes do rio Tapajós.  É um chame, apensar de acreditar que há outras localidades mais aptas ao banho tranquilo. Mesmo assim, banhar-se em suas águas é um sonho de viagem realizado.

Praia do Cajueiro, o melhor pôr do sol de alter
Praia do Cajueiro, o melhor pôr do sol de alter

Novamente a catraia me aguardava depois de mais de uma hora. Do lado oposto da Ilha, no sentido esquerdo do vilarejo, fui até a Praia do Cajueiro. Digo que foi o meu primeiro contato com a alma da cidade ao gravar na memória um dos pores do sol mais bonitos que já assistir. O Astro Rei se depende na linha do horizonte do Tapajós. Relaxado com esse contato direito com a alma alterense, logo o dia se despede e a noite permite mais um sonho de viajante realizado: dançar o carimbo ao som do Mestre Chico Malta, do casal Sandra e Hinho (Sandrinho) e a dança frenética do Mestre Osmarino.

Alter do Chaão
Um pôr do sol espetacular na praia do Cajueiro, contato direito com a vida de Alter

Entre rodopios e cortejos, o bem-vindo ao carimbo

Alter do Chão carimbo
Entre rosopios e cortejos, o ritmo contagiante do carimbo na praça principal

Não tem como ficar parado com o compasso do ritmo paraense ao som do curimbó, banjo, maracás, ganzás… saias em rodopios enquanto o par parece cortejar a dama. E assim um dos ritmos mais contagiantes do país toma conta da Praça da Igreja desenhada por um coreto centenário, igreja devotada a Nossa Senhora da Saúde e muitas barraquinhas de comidas típicas.

Carimbo
Carimbo em Alter do Chão

São geralmente dois a três grupos que se reversam por noite nas temporadas de verão amazônico (final de julho a dezembro). Os grupos mostram as diferentes pegadas do carimbo divido em três estilos: o praieiro, o pastoril e o rural, variando do tradicional ou mais moderno. O que diferencia os três estilos são as rimas e a musicalidade que percorrem o som tradicional mais compassado ao estilo mais moderno denominado de “carimbo chamegado”, termo adotado pela cantora e compositora paraense Dona Onete.

Alter do Chão
Noite no centrinho do vilarejo: animada

Foi assim que me despedi do primeiro dia da vida de Alter com a certeza de que todo esse “chamego paraense” só estava começando. A varanda do hotel Mirante da Ilha me aguardava para desfrutar da brisa tapajônica neste pedacinho de paraíso

Jurucuí e Pindobal

Um café reforçado com vista para Ilha do Amor. Logo depois, fui um dos 600 turistas que todos os dias se embrenham em aventurar-se sobre as águas do Tapajós para conhecer as lagoas e praias de água doce.

Alter do Chão
Seu Moisés, condutor especializado em pesca esportiva

Embarquei em uma lancha da Associação de Turismo Fluvial (Atufa) e Seu Moisés Sardinha, um nativo de olhos estreitos e sorriso largo, explicou que mais de 80% dos moradores de Alter sobrevivem da economia do turismo e 10% deles da extração do bacuri e do açaí.  Moisés faz parte desta estatística e há 18 anos conduz embarcações de turistas, principalmente, que buscam a localidade pelo contato com a floresta ou mergulho para avistagem de peixes ornamentais. “Sou especialista em pesca esportiva, passeios de flutuação, avistagem de pássaros e peixes ornamentais, além de plantas medicinais das nossas avós”, informou uma gama de nichos do turismo da região.

A embarcação passa lentamente por margens que mostram florestas nativas à beira-rio, até chegar a Ponta do Muretá, um local de avistagem de boto. Desta vez, o boto não deu o ar da graça, mas foi o não aparecimento do mamífero que pude passar mais tempo na Ponta do Caxambu, uma reserva natural de tartarugas da Amazônia, considerada área de preservação ambiental. Cliquei a paisagem de águas claras e mornas, de um lado; do outro, a terra firme com areias claras e pouca intervenção humana. Um show da natureza. A parada foi providencial para sentir a energia do local.

Alter do Chao
Lago do Jurucuí

Depois de minutos no paraíso, Moíses Sardinha conduziu a embarcação até um braço estreito de córrego de agua entre vegetação que culminou no denominado Lago do Jurucuí, um dos locais mais bonitos da viagem.

Alter do Chão
Praia de Pindobal

O roteiro seguiu a poucos metros dali no destino da Praia de Pindobal, já no município vizinho de Belterra. A praia não é tão agradável para banho por ter águas bem agitadas e fortes, porém é lá que se tem a maior infraestrutura de bares e restaurantes. Espreguiçadeiras são expostas em toda a costa, a frente de rústicos loungs. A localidade é uma das mais procuradas por turistas que desejam o binômio “sombra e água fresca”. E assim passei o fim da tarde: ao som das águas, na cabana coberta com palha de palmeira.

Alter do Chão
Praia de Pindobal

Na Bagagem

Como chegar? Alter do Chão é um distrito de Santarém e fica a poucos 35km do centro da cidade e a cerca de 33km do aeroporto, que recebe voos diários de Brasília, Belém e Manaus. Há táxis a partir do aeroporto que custam cerca de R$ 150.

Alter do chão
Bucolismo e boa estrutura na Ilha do amor

Os passeios? Há dezessete principais roteiros disponíveis nas barracas da Associação de Turismo Fluvial, situadas na orla de Alter. Os principais são passeios fluviais que variam entre igarapés, florestas alagadas, conhecer o jardim de vitória-régia e degustar de comidinhas à base delas e outros destinos de praias e lagoas de águas doces, além da ida até a Casa de Saulo, um misto de beach club amazônico com boa infraestrutura, além da Comunidade de Coroca, super recomendada. Há também possibilidades de montar o roteiro que iniciam por volta das 9h e só retornam ao pôr do sol. Os roteiros podem custar de R$ 90 a R$ 260, por pessoa.

Alter do Chão
Canal que interliga ao lago do Jurucuí

Qual a melhor época para ir? O Pará é considerado o Estado brasileiro de maior concentração de praias fluviais do mundo. As temperaturas costumam ser altas durante todo o ano e faz calor. Quanto a melhor época, as ilhotas estão à vista no período de final de julho a dezembro, considerado o verão amazônico. Na baixa temporada, que acontece entre os meses de abril e julho, o Rio Tapajós pode subir até 7m. Na baixa temporada, que acontece entre os meses de abril e julho, o Rio Tapajós pode subir até 7m. Durante as cheias, não é possível chegar à Ilha do Amor.

Há possibilidade de se hospedar na localidade? Sim, há diversos tipos de hospedagem que vão desde hotéis e pousadas na orla da cidade, a casas e hostel mais afastados do burburinho urbano. O hotel Mirante da Ilha é bem localizado na orla. O Vila Arumã e a Pousada Boutique Vila de Alter também são recomendados, além de casas bem estruturas de famílias da região, como a Casa Muiraquitã Alter do Chão. Os valores variam entre R$ 180 casal, até R$ 820.

 

Gastroterapia

Alter
Maniçoba e arroz paraense

E foi em uma das barraquinhas da praça da Igreja, ao som do carimbo, que sentir o gostinho do Tacacá com goma, da Maniçoba e ainda pedi um sorvete de Bacuri com Taperebá. Apreciei do famoso Tucunaré grelhado. A rica culinária paraense é considerada uma das mais diversificada e saborosa do país. Em Alter conheci o Rei das Ostras e me delicie pela primeira vez com o molusco na sobremesa assada e flambada na champanhe e com redução de frutas regionais pelos chefs Carlos Malicheschi e Ivone de Oliveira, do restaurante Verde Mar, em Salinópolis.

Alter do Chão
Ostras gratinas na geleia de jaca

 

*Dúvidas do roteiro enviar mensagem, entra no Instagram @silviotonomundo

Fotos: Silvio Oliveira

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