Conversar com os filhos sobre sexo e sexualidade ainda é um tabu para muitos pais. Inicialmente, é importante lembrar que os conceitos de sexo e sexualidade são diferentes: sexo se refere aos órgãos genitais, masculino ou feminino, ou também pode ser compreendido como uma relação sexual, enquanto que o conceito de sexualidade está ligado a tudo aquilo que somos capazes de sentir e expressar.
Criados sob uma educação rígida, na qual a sexualidade não fazia parte dos temas abordados em família, os adultos de hoje encontram dificuldade para abordar o assunto com os filhos. Muitos pensam que, ao falar sobre o tema, vão estimular os jovens a iniciar precocemente a vida sexual. O que ocorre é justamente o contrário: quando há conversa e informações de forma natural, o adolescente torna-se capaz de evitar situações desfavoráveis a ele e passa a ficar protegido. Vários pais “esperam” que o tema seja discutido na escola. Por outro lado, muitos professores também pensam que “discutir o assunto sexualidade na escola vai despertar para a primeira relação”. Como consequência, o jovem termina recebendo informações certas ou erradas sobre sexualidade por um amigo, alguma pessoa desconhecida ou outro jovem com maior experiência sexual. Já a internet é um meio que pode tanto ajudar quanto atrapalhar. Há sites com informações corretas e canais para que o jovem tire dúvidas com profissionais, porém, na prática, o que os muitos adolescentes mais procuram é pornografia.
Os pais que não conversam com os filhos sobre sexualidade, geralmente chegam atrasados: nem imaginam que seus filhos estão namorando e alguns deles já iniciaram a vida sexual e são surpreendidos com a notícia de uma gravidez inesperada. Jovens que iniciaram a atividade sexual às vezes apresentam algum sinal ou sintoma de uma DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis, como por exemplo, ardor ao urinar, corrimentos com pus, feridas e verrugas nos órgãos genitais e não sabem com quem conversar. Não procuram o médico, pelo plano de saúde dos pais, porque eles vão ficar sabendo. Terminam automedicando ou procurando diretamente uma farmácia. Alguns pedem ajuda ao professor que é seu confidente. Quando o jovem descobre ter sido infectado pelo HIV numa relação sexual, a situação se torna mais complexa.
Como falar sobre sexualidade com o seu filho
Pesquisas mundiais mostraram que quanto mais os pais conversam com os filhos sobre sexualidade, menos eles iniciam a vida sexual precocemente. A porcentagem de jovens que se relaciona com parceiros ocasionais também é maior entre os que não falam sobre sexualidade com os pais comparada com os que falam.
A postura e a opinião dos pais têm forte influência sobre a maneira como os filhos se relacionam sexualmente. Mostrar uma atitude natural perante a sexualidade ajuda a combater mitos e a corrigir informações e conceitos errados.
Os sexólogos recomendam que as conversas sobre sexualidade devam começar ainda na infância. Quando surgirem as primeiras dúvidas, responda de forma clara e sincera, de acordo com a faixa etária.
Na adolescência, é importante aproveitar alguma situação que envolva o tema sexualidade exibida num filme, num programa de televisão ou que tenha acontecido com alguém da família ou com algum conhecido. Trata-se de uma boa oportunidade para iniciar uma conversa. Simplesmente desligar a TV porque está exibindo algo relativo à sexualidade, nem sempre é uma atitude adequada.
Falar somente dos aspectos do sexo biológico não é tão útil aos jovens pois eles já receberam as principais informações nas aulas de ciências e de biologia. Quando a criança estiver para entrar na puberdade, o diálogo pode ser ampliado, preparando os jovens para as mudanças que eles vão começar a enfrentar. A primeira coisa é explicar o que vai acontecer com o corpo, como vai mudar, contar que vão nascer pelos, que a menina vai menstruar e que a partir daí ela poderá engravidar. Quando chega a adolescência e os jovens começam a demonstrar interesse por alguém e ter suas primeiras experiências – sejam as ficadas, os rolos ou os namoros –, os diálogos dentro de casa precisam ser constantes, mas nunca diretos ou invasivos.
As pressões sociais, em especial da adolescência, devem ser abordadas pelos pais, reforçando nos filhos a segurança de que ninguém deve transar se não tiver vontade: tanto as meninas, que não precisam fazer sexo como prova de amor, quanto os meninos, que não devem provar masculinidade. É importante falar de temas como homossexualidade, masturbação, gravidez, métodos anticoncepcionais, violência sexual, exploração sexual, pedofilia, doenças sexualmente transmissíveis. Não adianta uma conversa cheia de “sermões ou lições de moral”, colocando o jovem contra a parede. É muito importante que se coloquem limites, mas a proibição sem razão, o ‘porque eu não quero’, não funciona. Prazer, responsabilidade e sentimentos também fazem parte da educação sexual e devem ser tratados em casa.
O diálogo respeitoso ajuda a aproximar o pai do filho e a conquistar a confiança dele. Às vezes, o relato de uma experiência vivida pelo próprio pai ajuda ao adolescente e ao jovem a se abrir. Alguns jovens revelam que tem curiosidade de saber alguma coisa sobre sexo, mas acham que se fizerem perguntas aos pais, eles vão pensar que estão fazendo algo errado.