Café Pequeno-No Limite

“O brasileiro enfrenta com mais coragem uma ponta de faca do que um ponto de vista. Impávido defronte de um canhão, ele recua diante de uma simples ideia. Herdeiro de uma nação heroica, mas sem tradição democrática, tradicionalmente intolerante em face das ideias liberais, educado sob um regime monárquico despótico e, mais tarde, num sistema republicano presidencialista, sob certos aspectos tão autoritário quanto o anterior, não poderia, pois, o brasileiro viver, a não ser periódica e brevemente, no gozo de pleno e irrestrito direito de opinar, discutir, contestar, sem medo de ser censurado e perseguido”.

 

Assim inicia Abelardo Romero a esmiuçar a nossa gênese moral, de caráter flexível e passivo, ante os poderosos, em recém lançado livro, na Academia Sergipana de Letras, intitulado:”Limites Democráticos do Brasil”.

 

Escrito em 1975 na sua temporada lagartense, no sítio da Catita, é incrível a sua contemporaneidade e continua ele tecendo a meada da formação da pacífica alma política brasileira:

“Antes do seu descobrimento(e só o seria oficialmente por Portugal), já o Brasil era herdeiro virtual desse mal que, em 1845, se tornara crônico- o mal da incontestabilidade religiosa e política, o mal da aceitação passiva e indiscutível da verdade oficial, o mal, enfim, da negação do espírito livre.’…

“O pavor teológico e o medo do livre-pensamento comunicaram-se, por osmose, do português ao brasileiro, tornando-se este igualmente pouco apto para o pleno, ininterrupto e pacífico exercício da liberal democracia.

O mau político de que padecemos e do qual, aliás, não nos queixamos, tem uma etiologia multissecular e transatlântica.”…

 

Leitora de Abelardo desde os treze anos quando fui, por acaso, fisgada pela deliciosa biografia do criador dos Diários Associados: “Chatô- A Verdade como Anedota” , só agora, com “Limites Democráticos do Brasil” entendo a verdadeira adoração do meu pai pelo primo Abelardo Romero, que acredito ser a expressão da mais pura admiração intelectual.

 

O livro, verdadeira aula de história, foi editado graças a garra de seus filhos Júnior, Leonila, Ângelo e Patrícia guerreira, e deve ser leitura obrigatória dos inconformistas, daqueles que até hoje não conseguem entender o porquê de tanta tolerância com os abusos do poder.

 

 

Praias do Sauípe-Foto Ana Libório

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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