Hoje, 15 de setembro, faz 10 anos da reinauguração dos Mercados Antônio Franco e Thales Ferraz. Quanto tempo se passou e, ainda assim, parece que foi ontem. Lembro que numa das primeiras vezes que apresentamos o projeto, na Câmara Municipal de Aracaju, um dos vereadores falou que o projeto era lindo, porém um sonho. E foi mesmo. Olhando para trás não acredito que aquilo tudo aconteceu. Era como se estivéssemos imbuídos de uma missão. E eu acreditava tanto na proposta que não tinha quem ou o quê me demovesse da ideia. Havia algo de messiânico… Para quem não conhece o Antônio Franco, o Thales Ferraz e o Leite Neto eram os prédios que compunham o antigo mercado central de Aracaju. Três prédios, três estilos arquitetônicos: um eclético (1926), um neocolonial (1947) e o mais novo brutalista (aproximadamente 1980- foi demolido na obra), emaranhados numa intricada rede de barracas de madeira e bancas de alvenaria conformando uma favela que obstruía ruas, praças e calçadas. A simbiose e continuidade espacial entre os três mercados e as barracas era tamanha que constituíam um só organismo. Por sua vez os prédios escuros, sem manutenção jogavam a feira na rua. Frutas e verduras eram vendidas no chão, sobre lonas no meio-fio enlameado, conhecido como feira da pedra. As barracas de camelôs instaladas nas vias públicas obstruíam o trânsito e fecharam o comércio formal na área por anos a fio. Para se ter uma ideia do caos urbano existiam prédios de dois andares construídos no canteiro central das avenidas, margens do Rio Sergipe e no miolo dos mercados. Pesquisas estimavam um universo de 9.000 pessoas por dia. Segundo amigos um verdadeiro “set de cinema”. E os dois prédios antigos, lindos, esquecidos, qual cinderela adormecidos e só vislumbrados, aqui e ali, por olhares sensíveis. Talvez por isso tenham sido preservados. A oportunidade de concretização da obra se deu com a transferência do porto de Aracaju para Santo Amaro que nos permitiu reorganizar a feira com a construção do mercado novo, edificado a partir do reaproveitamento de antigos galpões portuários abandonados que foram incorporados ao complexo. O desmonte da favela e a transferência dos feirantes para o novo prédio foi comparado à guerra de Kosovo(???). De nossa parte, proibidos de acompanhar o processo, acreditamos fazer um trabalho de arqueologia urbana redescobrindo um tesouro arquitetônico para a cidade que hoje se orgulha do seu patrimônio histórico. Do início do processo até a conclusão da obra foram mais dez de anos de estudo, então podem fazer as contas. Arquitetura leva tempo! Daquela época, além da certeza e entusiasmo, um temor da ideia não vigar, virar folclore. Mas como dizia o Raulzito: “- Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade.” Mercado Municipal de Aracaju visto do Rio Sergipe -1997-Fotos Lineu Lins
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