“ Ao contrário do que pensam muitos brasileiros ser um estrangeiro no Brasil não é tão fácil assim. É claro que ser brasileiro também não é fácil, especialmente se você for pobre ou negro, o que com freqüência significa a mesma coisa. Mas para nós estrangeiros pode ser desnorteante e exaustivo aprender, por meio de tentativa e erro, os códigos secretos que os brasileiros absorvem intuitivamente enquanto crescem em sua própria sociedade…Exatamente quando você pensa que finalmente compreendeu tudo, bum, é provável que você se depare com uma surpresa que lhe mostre exatamente o contrário…” Assim inicia Larry Rohter em “Deu no New York Times” um capítulo sobre a sociedade brasileira onde narra as desventuras por que passa um incauto estrangeiro ao tentar sobreviver numa sociedade, aparentemente cordial, que joga para baixo do tapete questões como o racismo, tem familiaridade com expressões como “ essa lei não pegou…” e pratica, sempre que possível, a lei de Gerson! Nessa campanha esse dúbio e contraditório perfil do nosso homem cordial ficou explícito na questão do aborto. Todos se dizem contra e a favor da vida. E quem não haveria de sê-lo? E até os mais ardentes defensores emudeceram, num país de prática intensa, onde morrem todos os anos milhares de jovens pobres. Sim, as ricas já o praticam há anos em ambientes chiques e seguros. A meu ver perdemos, no mínimo, em discussão! Pobres moças adolescentes obrigadas a passar pela triste experiência do aborto, num país onde a lei ainda se confunde com religião. Talvez por isso mesmo as pesquisas eleitorais continuem embananando os analistas políticos. Como trabalhar com estatística no país do “– Faça o que eu digo, não faça o que faço”… E aí me pergunto se não seria o atávico medo do subjugado. Bom mas aí a história já pede um outro café pequeno…
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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