Café Pequeno-A vida é bela…

Um dos exercícios acadêmicos prediletos é criticar Niemeyer e suas obras na cidade sem esquinas. As críticas são muitas: monumentalidade, iluminação, ventilação artificial, etc e tal…

 

Assim era no meu tempo, cansados que estávamos das amarras e cânones modernistas. Mas os descaminhos foram tantos, dentre eles o fachadismo e referências fakes, que Niemeyer ressurge como fênix a nos lembrar que arquitetura é antes de tudo forma e invenção.

        

Para retratar uma cidade nos reportamos à seus ícones arquitetônicos. De Sydney lembramos do Sydney Opera House, de São Francisco a Golden Gate, em New York o Chrasley Building, em Londres o Big Ben, o Convent Garden! E até o Rio de Janeiro, onde Deus não brincou em serviço, é lembrado pelo Cristo Redentor e pelo bondinho do Pão de açúcar.

        

Mas voltando a Niemayer precisamos, ainda, comer muito feijão com arroz… Quanto mais experientes ficamos, mais nos rendemos a espaços como a Catedral de Brasília. Confesso que jamais vi nada igual na vida. Pode até se dar ao luxo de ser quente, pois a invenção arquitetônica se sobrepuja a tudo.

        

E nisso ele é mestre, seu talento moldou o destino de várias cidades esculpindo formas ao ar livre. Recentemente resgatou Niterói do ostracismo com o Museu de Arte Moderna cravado na Baía de Guanabara.

        

Sua genialidade levou Curitiba, já tão famosa pelas mãos de Lerner, de volta ao estrelato com o  “Ôlho”. E o que é de espantar, tudo isso com a jovialidade de 103 anos de idade, enquanto todos a essa altura já se foram…

        

Mas para além da arquitetura o que nos encanta em Niemeyer é a sua dimensão humana. Materialista convicto costuma dizer: “ a arquitetura não importa, o que importa mesmo é a vida, as pessoas, os amigos”… doces palavras em tempos tão hostis.

 

Segundo ele precisamos fazer uma revolução nas pessoas, no indivíduo, e só então teremos alguma chance. Indagado se pessimista ou otimista, responde que pessimista com o homem, porém otimista com a vida.

 

E sobre os CIEPS, projeto de escola integral, encomendado a ele por Darcy Ribeiro, conta o entusiasmo de Brizola ao relembrar que quando garoto ficava a espiar atrás das grades das tradicionais escolas gaúchas que possuíam ginásios de esportes, biblioteca…

 

Seu desejo era, como governador, poder proporcionar o mesmo equipamento para todos. Ou seja, acabar com a prática de que para as crianças pobres a arquitetura deva ser pobre. Ele queria que todas as crianças usufruíssem espaços de qualidade.

        

Talvez seja este o choque de gestão que a educação no país precisa, afinal espaços feios, sujos e descuidados deseducam. O descaso com a arquitetura escolar pode estar na base do desinteresse em aprender e cuidar.

 

Não precisamos exagerar com obras “megalôs” mas rastelos, algumas latas de tinta, mutirões e criatividade já seriam um bom início. Exemplos não param de pipocar no voluntariado: Casa da Criança, Lar Doce Lar do Huck e outras experiências em áreas esquecidas.

 

Precisamos experimentar o conceito nas escolas públicas, afinal a gente não quer só comida!  

 

 

 

Escola pública em Estocolmo-Dá gosto pagar imposto!Foto Ana Libório

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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