Katty Cristina Lima Sá
Mestre em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
E-mail: Katty@getempo.org
A comparação não é estranha ao historiador, que, em suas pesquisas, observa as semelhanças e diferenças, e realiza analogias. Contudo, como disse Marc Bloch (1886-1944), a abordagem da História Comparada consiste em “escolher, em um ou vários meios sociais diferentes, dois ou vários fenômenos que parecem, à primeira vista, apresentar certas analogias, descrever as curvas de sua evolução, encontrar diferenças e semelhanças e, na medida do possível, explicar umas às outras”. Em outras palavras, não se trata do olhar comparativo para documentos, mas a comparação de fenômenos ocorridos em tempos e/ou espaços distintos.
Ao realizar a análise dentro de tal perspectiva, é possível abrir-se ao diálogo e escrever uma história que perpassa os limites do nacional e enxerga os problemas em maior complexidade. Em verdade, o objetivo da História Comparada expresso por Bloch na conferência “Pour une historie comparée des sociétés européennes” de 1928 era romper a historiografia circunscrita ao nacional e com os nacionalismos por ela alimentados, motivadores da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nas últimas décadas do século passado, novas abordagens surgiram com o intuito de ultrapassar os limites nacionais, e pediram por olhares que cruzassem, interconectassem, enxergassem os fenômenos históricos como globais Essas abordagens não anularam a comparação tradicional, mas somaram-se a ela para entender as demandas de um mundo cada vez mais globalizado.
Ao ultrapassar limites entre regiões, países e continentes, abre-se a possibilidade para o diálogo entre culturas e sociedades; e esse anseio por compreender a complexidade de fenômenos e por possibilitar conversas entre povos distintos motivou a elaboração do livro História Comparada e Tempo Presente (EDUPE,2021). Nele, estão reunidos textos resultantes de pesquisas dedicadas ao tempo presente, analisadas através da perspectiva comparada. Parte delas, realizadas por integrantes do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS) no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ (PPGHC/UFRJ).
O livro está divido em sete capítulos e tem início com os intercâmbios culturais realizados pelos escritores Graciliano Ramos e Érico Veríssimo a URSS e aos EUA, respectivamente, durante a Guerra Fria (1945-1991). Em seguida, voltamos à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) através das agências de espionagem britânica e americana, e dos filmes antinazistas que estrearam nos cinemas brasileiros, mais especificamente nas telas aracajuanas, recifenses e cariocas.
O tema dos extremismos também está presente nessa coletânea. Começamos com uma análise acerca dos usos de periódicos digitais para divulgar a causa da jihad; depois, passamos para um novo capítulo, em que se trata dos usos do ciberespaço por grupos fascistas brasileiros e argentinos. Os fascismos também são estudados pela formação e atuação dos grupos Blood & Honour e Creativity Movement. Já nos últimos dois capítulos, investigaremos o cenário da subcultura punk em Londres e Nova York, além das relações entre Brasil e Líbia durante os governos de Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2014).
Cinema, extremismo, guerra, relações internacionais. Todos esses temas foram estudados e puderam ser reunidos em uma única obra graças à união entre dois campos historiográficos nascidos das demandas de sociedades pós-guerra: a História Comparada e a História do Tempo Presente. O livro lançado representa o esforço dos pesquisadores do Grupo de Estudos do Tempo Presente em compreender o mundo em que vivemos e de fazer com que esse conhecimento ultrapasse os muros da Academia.
Desejamos uma boa leitura!
Para fazer o download do livro em PDF, visite o site do Grupo de Estudos do Tempo Presente (https://getempo.org/nossos-livros/).