Questão de oposição

Não interessa muito ao presidente Luis Inácio Lula da Silva, nem ao seu staff político, uma decretação de guerra a nenhum partido. Nem na área federal, nem nos Estados. O Planalto vive hoje em clima de assédio a novos parceiros, com o objetivo de aprovar todas as emendas apresentadas, principalmente as duas que parecem mais polêmicas, que são a da Previdência e a Tributária. Este é um momento que os partidos aliados ao presidente devem se colocar em clima de harmonia, sem abrir arestas e, principalmente, provocar adversários em seus Estados, porque isso pode criar um problema feio em Brasília. Qualquer “língua solta”, provoca constrangimento para o presidente, que tem fugido dos seus compromissos de campanha e de sua linha ideológica, para fazer valer o jogo da boa vizinhança e de um entendimento que favoreça a aprovação dos projetos de reformas. Apelar para a decretação de guerra absoluta, pode ser fatal para um bloqueio de parte da bancada vinculada ao Governo João Alves Filho, a qualquer possibilidade de apoio às reformas… Ontem à tarde, em Brasília, o senador Almeida Lima acompanhou o governador João Alves Filho em visita ao ministro José Dirceu, da Casa Civil e, na conversa sobre os projetos de reformas da Previdência e Tributária, o senador revelou que não integrava a base de sustentação do Governo no Senado Federal. Isso assustou o ministro. Almeida, entretanto, aliviou Dirceu: “mas também não sou de oposição”. O voto de José Almeida Lima, como ele deixou bem claro, “é para satisfazer aos interesses do meu Estado”. Acrescentou que não era fisiologista e não pedia nada, nem para ele e nem para seu partido, mas lutaria por Sergipe. Segundo Almeida Lima, se o Governo Federal construir o Canal de Xingo, revitalizar a citricultura e instalar a refinaria em Sergipe, com certeza votará favorável à Reforma Previdenciária, mesmo com a taxação dos inativos: “com todas essas obras, mesmo tendo seus salários taxados, será bom para os aposentados”, avaliou. Almeida considerou esse estilo de proposta comum, porque São Paulo negocia sempre com se fosse o Brasil. A posição de Almeida Lima é apenas uma demonstração de que, depende da boa convivência, com todos os segmentos políticos-partidários, a aprovação das reformas que estão sendo propostas pelo Governo Lula da Silva. O governador João Alves Filho, por exemplo, tem uma bancada federal de quatro deputados e dois senadores. Os seus adversários tem três deputados federais e dois senadores, porque o deputado federal João Fontes (PT) não conta favorável ao modelo do Planalto. Se o clima de insultos e desavenças continuar em Sergipe, passa a ser preocupante para o Palácio do Planalto, porque a bancada pode se irritar, abrir uma frente contra os projetos do Governo Federal e não há nenhuma vantagem para o presidente. Esse não é o momento ideal para se vomitar ódios ou demonstrar chiliques de coragem e arrogância. É um momento de muita cautela, muito cuidado, um tratamento sem afrontar e nem denegrir, para que haja uma somação de interesses no Planalto Central. O prefeito de Aracaju, Marcelo Deda, por exemplo, sabe que o Partido dos Trabalhadores está precisando unir todos os segmentos partidários, em Brasília, para que o seu compadre consiga colocar em prática projetos administrativos. E isso passa pela Câmara Federal, pelo Senado e, conseqüentemente, pelo crivo dos governadores, que têm influência sobre a bancada. É hora de reflexão e não de agressão. Já imaginou se o governador João Alves Filho solicitasse da bancada, que se colocasse em posição de oposição, só por causa do discurso do deputado federal Jackson Barreto? O Planalto, certamente, não iria gostar, porque entre o voto único de Jackson e os seis que ouvem João Alves Filho, com absoluta certeza o presidente Lula da Silva não iria pensar duas vezes. Mandaria o seu ministro José Dirceu fortalecer o diálogo com o Governo sergipano. Quem precisa, tem que recuar para atingir os seus objetivos, é assim que se faz política. Aliás, é isso que o PT está fazendo, quando deixou de lado a sua postura radical e abriu as portas para receber nomes como José Sarney, Paulo Maluf e Roberto Jefferson, que, todos se lembram, pertencia à tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor. É tempo prudência e paz. Deixa que a batalha recomece quando os palanques voltarem a se armar… BELIVALDO O deputado estadual Belivaldo Chagas (PSB) disse ontem que não se recusou a ser relator da Comissão Processante que analisou o caso Antônio Francisco. Quanto ter faltado à reunião de quarta-feira, Belivaldo disse que está doente, com licença e já tinha conhecimento do relatório e qual seria o resultado final. EXAMES “Ninguém tenha dúvida que votarei pela cassação de Antônio Francisco e irei à sessão plenária, para votação, nem que seja de cadeira de rodas”, disse. Belivaldo precisa ir a São Paulo para alguns exames, mas só o fará dia 3, exatamente para ficar em Sergipe e votar pela cassação de Antônio Francisco. ESPECIAL A sessão que vai votar a cassação de Antônio Francisco será secreta e ocorrerá na segunda-feira à tarde, com detector de metais para quem entrar na Assembléia, inclusive deputado. Toda esta precaução está sendo tomada pela Presidência da Casa, porque o deputado Antônio Francisco teria dito que se fosse cassado faria uma besteira. RECORRER O deputado Antônio Francisco (sem partido) caso seja cassado, não deve recorrer da sentença junto ao Tribunal de Justiça. É que o Judiciário não pode interferir em uma decisão interna de outro Poder, por se tratar de um processo por quebra de decoro parlamentar. SÓ DEPOIS Depois de cassado, Antônio Francisco poderá entrar com uma ação, caso a Justiça o considere inocente, no processo em que seu nome está envolvido. Se isso acontecer, Antônio Francisco pode entrar com uma ação indenizatória de perdas e danos contra o Estado. ASAPREV O Tribunal de Contas de União (TCU) deu prazo de 50 dias para o presidente da Asaprev, João Walmir de Sousa, devolver 40 mil reais ao Governo Federal. O dinheiro foi pago pela Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, no Governo FHC, para imprimir o Guia Brasileiro da Terceira Idade. PROCESSO Esse processo vem rolando há alguns meses, sem que houvesse qualquer manifestação do presidente da Asaprev. Agora o Governo quer o dinheiro de volta. Há informações que João Walmir de Sousa mandou imprimir os Guias, mas deteve 10 mil exemplares em uma das salas da Asaprev. HISTÓRICOS Os socialistas históricos não estão satisfeitos com o Governo João Alves Filho. Todos acham que falta um projeto político mais avançado, que diferencie das administrações anteriores. Os históricos apoiaram João Alves Filho para que houvesse uma renovação à frente, mas o governador terminou preferindo ficar com os conservadores do PPS. ALMEIDA O deputado federal Jackson Barreto (PTB) já pressentiu esse clima e começou a conversar com os históricos do PPS. Na próxima semana almoça com o grupo, liderado por Wellington Mangueira, para tentar conquista-los para o Partido Trabalhista Brasileiro. AUDIÊNCIA O governador João Alves Filho (PFL) e o senador José Almeida Lima (PDT) conversaram ontem com o ministro da Casa Civil, José Dirceu. O encontro foi considerado informal. João Alves expôs seu ponto de vista sobre as reformas e manteve sua posição quanto a questão da Tributária. O governador é contra a certos itens da reforma. BENEDITO O ex-vice-governador Benedito Figueiredo (PMDB) defende que o seu partido deve ter candidato a prefeito em todos os municípios, inclusive Aracaju. Disse, inclusive, que se não houver nomes disponíveis, ele está disposto a candidatar-se. Insiste que o PMDB não pode ficar fora das eleições. AUGUSTO O deputado estadual Augusto Bezerra (PMDB) disse, ontem, que vai permanecer ao lado do governador João Alves Filho e reconhece que a posição de Benedito é para não deixar o PMDB sem participar das eleições. Augusto acrescenta que, a partir de agora, o seu objetivo é trabalhar para que o governador João Alves Filho seja candidato à reeleição, contando com o PMDB. ÉTICA O deputado federal João Fontes (PT) será convocado para depor na Comissão de Época do partido, no início de processo de expulsão. Ontem ele desabafou: “enquanto o PT afasta os autênticos, se une com Paulo Maluf, Roberto Jefferson e José Sarney”. CONVITE O deputado João Fontes foi convidado pelo deputado federal Alceu Colares (PDT-RS) a ingressar no partido. Brizolla é o único que resiste ‘as mudanças. Colares confidenciou que está indignado com a nova postura do Partido dos Trabalhadores, que mudou muito em pouco tempo. Notas EMENDA O senador José Almeida Lima (PDT) disse, ontem, que está há 15 dias sem vir a Sergipe, porque está preparando um emenda à Constituição, que considera “mais que surpreendente, arrojada, corajosa e consciente, porque pede a redução de vagas nos parlamentos brasileiros”. Não é simpática aos políticos. Almeida Lima acha que uma cidade com menos de 25 mil habitantes ter nove vereadores nas Câmeras Municipais é um excesso. Ele praticamente sugere uma reforma na estruturação parlamentar que será polêmica. SURREALISTA O vereador Antônio Samarone considerou “surrealista” a história de que ele tivesse levado dois empresários, um francês e outro alemão, para oferecer propina ao presidente do Sindicato dos Rodoviários, João Batista, para a colocação de catracas nos transportes coletivos de Aracaju, em 1995. Samarone não era vereador, o prefeito da época era José Almeida Lima e ele não tinha nada com a SMTT. Já contratou advogado para processar João Batista e pediu a Polícia Federal a abertura de inquérito, em razão da presença de estrangeiros. ENCONTRO O governador João Alves Filho teve, ontem, em Brasília, um encontro importante com a bancada do Nordeste no Câmara Federal, atendendo a convite do coordenador, deputado Roberto Pereira (PFL-CE). João falou sobre a Reforma Tributária e manteve a mesma posição de que ela é prejudicial ao Nordeste. O governador João Alves Filho mostrou uma série de medidas que beneficia os Estados industrializados, principalmente a cobrança do ICMS na origem. O secretário da Fazenda da Bahia também falou sobre a Reforma Tributária. É fogo O Partido dos Trabalhadores vem mantendo o seu perfil de correção com o dinheiro público e até o momento não houve qualquer fato que maculasse esse compromisso. O deputado federal José Carlos Machado (PFL) já reconheceu, inclusive, que o Governo de Lula da Silva também se registra “corrupção zero”. O governador João Alves Filho deu ao ministro José Dirceu, ontem, o livro sobre o Rio São Francisco, em que fala de revitalização, transposição e energia. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, vem a Aracaju no dia 27 próximo. Não terá mais convite do deputado federal João Fontes para gozar as delícias de praia do Saco. Em 2000, quando se discutia as eleições municipais, José Dirceu chegou a passar uma semana na praia do Saco, para convencer Marcelo Deda a disputar a Prefeitura. O livro “PT Saudações”, do ex-deputado Marcelo Ribeiro, lançado quarta-feira, foi considerado o desabafo de alguns ressentimentos. O deputado federal Cleonâncio Fonseca teria revelado que não deseja ser um dos vice-líderes do Governo Federal. O ex-governador Paulo Maluf (PP), quem diria, é contra a uma aliança com o Partido dos Trabalhadores: “o PT mudou muito e sou contra a taxação dos inativos”. O deputado federal João Fontes foi afastado de todas as funções de integrante da bancada do PT na Câmara Federal. O vereador Marcélio Bomfim (sem partido) acha que se trata de uma armação contra o colega Antônio Samarone e diz que é preciso apurar tudo. Quer que seja vista, inclusive, a denuncia do sindicalista, que teria oferecido 50 mil reais ao outro para por um fim à última greve dos rodoviários que aconteceu na capital sergipana. Marcélio sugere abertura de CPI, porque considera que no próximo ano haverá eleição e qualquer cidadão pode ir às rádios com denuncias infundadas contra vereadores. O deputado Venâncio Fonseca viajou ontem para participar de reunião da União das Assembléias Legislativas, em São Paulo. brayner@infonet.com.br

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