Por Jailton Filho
Discurso proferido na sessão especial de abertura do ano acadêmico da Academia Dorense de Letras (ADL), no ato do recebimento da “Comenda 7 de maio”, como reconhecimento à minha contribuição à Arcádia ao longo dos últimos anos.
“É na arte da palavra que ocorre o exorcismo das angústias”.
É com essa frase do Professor João Victor Rodrigues Santos, eternizada nas páginas do posfácio que ele fez em contribuição ao meu primeiro livro solo, o romance Seis anos de ilusão (2021), que faço questão de iniciar este discurso, ou melhor, esta palavra. O ser que vive das letras é um privilegiado, pois a dádiva da escrita permite cravar no papel emoções que inundam o sentido de existir. Por meio da sintonia entre o pensamento e a justaposição das letras, aquele que escreve alcança a alforria perpétua, afinal, à parte a grafia, o ser humano se vê constantemente preso em sua liberdade. Neste sentido, a “arte da palavra” subsidia quem frequentemente procura ser ouvido, a fim de escoar seus sentimentos, em um contínuo paradoxo de expressões de reconhecimento de si a outrem, frente ao mundo no qual se está inserido. A Academia Dorense de Letras (ADL) foi fundada no dia 07 de maio de 2014, instalada em 11 de junho do mesmo ano, registrada como Pessoa Jurídica sob número 240, lavrada nas folhas 154 a 161 do Livro nº A-04 do Cartório de 2º Ofício da cidade de Nossa Senhora das Dores (SE).3 O nascimento dessa instituição se fez justo e necessário à semeadura das letras e artes, por meio da valorização cultural e resgate da memória de um povo que tem por essência o instinto de preservação das suas raízes. O despontar da ADL se deu concomitantemente ao meu ingresso na graduação plena em Física, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). A evolução desta Arcádia consolidou-se ao tempo em que eu me (re)descobria como profissional da educação, através dos meus estudos dos fenômenos da natureza. Desde a concepção dessa agremiação literária, sua energia passou a permear minha formação técnica e humana, de modo a contribuir substancialmente em grande parte dos meus diagramas e equações, bem como da minha aceitação e percepção como professor e escritor. Todos nós somos acadêmicos. No entanto, para viver verdadeiramente este sentimento de pertencimento institucional, precisamos (re)conhecer quão árduo é o trabalho de propagação educacional que se dá através da literatura. Nosso município tem uma história repleta de efemérides, as quais tiveram – e continuarão a ter -, sua importância exacerbada por meio da pesquisa incansável dos confrades e confreiras (com o sem pelerine). Parafraseando García Márquez, como é insaciável e abrasivo o ato de viver em prol da cultura do torrão em que se vive.4 A ADL é, e se faz existir, sobretudo pelo desejo de atuar na abrangência que a Arte 1 Professor, escritor, romancista, ficcionista. 2 C.f. FILHO, Jailton. Seis anos de ilusão. Aracaju: ArtNer Comunicação, 2021. 3 C.f. SANTOS, Jânio Vieira dos (Org.). CARVALHO, João Paulo Araújo de (Org.). JESUS, Luís Carlos de (Org.). 3ª Antologia Literária da Academia Dorense de Letras. Aracaju: Artner Comunicação, 2019. 4 C.f. GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. Doze contos peregrinos. Trad. Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 1995. proporciona, a fim de não deixar definhar o rico passado que se faz presente no futuro em construção diária. Receber esta “Comenda 7 de maio” é muito mais do que um gesto protocolar de premiação. Esse ato é de uma importância sem igual em consequências, pois feliz é o ser que saber reconhecer. A maior gratidão, portanto, é o reconhecimento. Por meio da difusão de um trabalho e do compartilhamento das conquistas é possível multiplicar as ideias. Assim, dentre as inúmeras bonanças que a ADL trouxe para a minha vida, a consciência e percepção de que tudo podemos por meio de nossos estudos e escritos, foi sem dúvida, a lição mais preciosa. Sou em quem sou grato à instituição que se faz viva e se renova dentro do meu âmago, se revelando pulsante em cada palavra documentada e/ou defendida onde quer que eu venha a estar. Finalizo este momento de gratidão pedindo vênia à comissão para entregar uma cópia deste discurso ao meu grande amigo e irmão, o Professor João Paulo Araújo de Carvalho, companheiro de senões e memórias. Também gostaria de fazer a entrega dos exemplares do meu livro “Seis anos de ilusão”, ao estimado Professor José Lima Santana e ao querido amigo Domingos Pascoal de Melo. Ressaltando a importância dessa obra, a qual me consolidou como escritor de fato e de direito e que, tal como a paternidade biológica, o sou de forma inalienável e imprescindível. Portanto, quando me perguntarem sobre o que faço para contribuir com a minha geração, com a minha cidade, terei orgulho de responder: profiro conferências, produzo textos e artigos, escrevo livros e eternizo a palavra, confiante de que ela sempre continuará a nos dar sentido. Nossa Senhora das Dores (SE), para sempre “Enforcados”, 18 de março de 2022.