Propriá (SE), município localizado na região do Baixo São Francisco de Sergipe, fundado em 7 de fevereiro de 1802 (215 anos), foi uma das mais prósperas cidades do Estado, chegando a ser a 2ª cidade mais rica de Sergipe entre as décadas de 40 a 70. Esse período áureo e de pujante economia protagonizada por fábricas de beneficiamento do algodão e manufaturas de tecidos, do beneficiamento do arroz, além do transporte e comércio, pode ser apreciado através dos prédios que insistem em continuar documentando a história.
O Tô no Mundo percorreu as ruas da cidade ribeirinha e fotografou alguns deles, hoje completamente em ruínas. Do prédio do Banco Mercantil Sergipense aos cinemas Veneza e Fernandes, do edifício do primeiro hotel propriamente dito do interior de Sergipe, o hotel Florelisa, fundado em 1934, das fundações da antiga estação de trem que cortava o Nordeste Brasileiro, a cidade resiste ao tempo aéreo da economia pujante em fotos e tomba em ruínas na sua história.
Quem é propriaense ou a conhece, reconhece. A antiga Estação Ferroviária da Cidade, mais precisamente o prédio do Tiro de Guerra, faz parte do ideário público da cidade e da construção coletiva e econômica dos ribeirinhos. Muitos ali passaram de trem, outros ali se alistaram na Junta Militar e até mesmo, em um passado bem recente, realizaram aulas de educação física por estarem matriculados nos principais colégios da cidade. O patrimônio público está em ruínas e pede socorro.
Através do nº n 01504.001406/2009-48, publicado no site oficial do Iphan Sergipe, a antiga estação ferroviária velha de Propriá está na lista de bens nacionais de interesse cultural ferroviário.
Conta a história que estação foi inaugurada em 1920 e pertencia, inicialmente, a companhia francesa Chemins de Fer Federaux du L’Est Brésilien (1920-1935), logo depois a V. F. F. Leste Brasileiro (1935-1972). Veja o texto a seguir na íntegra escrito por Claudio Vitoriano Rocha, Sydney Correa, Flavio Cavalcanti para a revista REFESA.
“Inicialmente chamado de ramal de Timbó, a linha que ligaria a estação de São Francisco, em Alagoinhas, a Sergipe foi aberta em 1887 até a localidade de Timbó, atual Esplanada. Dali para a frente foi sendo prolongada aos poucos a partir de 1908, atingindo Aracaju em 1913, Cedron em 1915 e Propriá somente em 1920, às margens do rio São Francisco. Para se ligar com a linha vinda do Recife naquele ponto, então, somente em 1972, quando a ponte sobre o rio foi construída permitindo a interligação ferroviária direta com o Nordeste.
O IBGE aponta o ano de 1920, cinco anos depois de a linha ter chegado à estação anterior, Cedron. Em 1932, já existe a estação nos guias de horários. O Guia Geral de 1960 aponta o dia 6 de agosto de 1956, já na administração da VFFLB estatal. Esta última data está errada: pode ser a data de uma eventual mudança de local do prédio, ou da construção de um novo. Realmente, há duas estações em Propriá, mas se presume que a segunda, de linhas arquitetônicas típicas da RFFSA, tenha sido construída apenas na época da entrega da ponte sobre o rio São Francisco, que se deu em dezembro de 1972. Muitas dúvidas e nenhuma certeza. Antes disso, a primeira balsa havia iniciado as operações em 1963 e a segunda, mais robusta e já chamada de ferry-boat, veio em 1967. As fotos conseguidas mostram uma estação pequena e bastante em acordo com a arquitetura das outras estações construídas pela Chemins de Fer nos anos 1910 em Sergipe. De qualquer forma, a estação era originalmente o ponto final da linha Norte da V. F. F. Leste Brasileiro. Ali o rio São Francisco, sem ponte ferroviária até dezembro de 1972, obrigava a tomada de balsas pelos passageiros e cargas para continuar até o norte do País por via férrea.
Finalmente, no final de 1972, a ponte chegou (é uma ponte rodoferroviária, a BR-101) e os trens da RFFSA puderam fazer a ligação pela linha diretamente. O prédio da velha estação foi sede do Tiro de Guerra de Sergipe a partir de 1975, três anos depois de fechar, substituída pela estação Propriá-nova em 1972. O fato de a foto ser desse ano mostra que ela – a estação velha – sobreviveu até a entrega da ponte em dezembro. A estação ainda servia como sede do Tiro de Guerra em 2010. No final de 2012, estava abandonada, o Exército a deixara.”
Um outro ponto marcante da construção urbana da cidade e do interior de Sergipe é o Viaduto Central Professor Antônio Fernandes Campos, um marco para a construção e urbanismo de Sergipe nos anos 30, mais precisamente em meados de 1935, por apresentar uma construção arrojada para a época.
O viaduto ligava a região dos bairros mais afastados de Propriá (SE) antigamente, onde ficava a estação ferroviária, ao centro da cidade. Foi construído no governo de Serapião de Aguiar, sob os auspícios do ministro da Viação e Obras Públicas, Tavares de Lyra (governo federal de Venceslau Brás), e no governo provinciano denominado de revolucionário de Augusto Maynard Gomes, com orientação técnica de Oto Leite. Em 26 de setembro de 2002, na gestão do prefeito de Propriá Renato Brandão, o viaduto foi entregue reformado à população ribeirinha.
O hotel Floreslisa (1934), localizado estrategicamente entre as ruas Serapião de Aguiar e Capela, foi construído pela empresa Odebrecht e considerado um marco da hotelaria a época, por ser um dos primeiros do interior de Sergipe que nasceu com status de hotel e que já oferecia serviços considerados modernos, a exemplo de serviços de quarto e recepção e lojas no andar térreo. Hospedaram-se nomes da política e das artes, que visitavam a cidade ribeirinha, considerada uma das principais economias de Sergipe no período dos anos 40 a 70.
Para se ter uma ideia do empreendedorismo e vanguardismo das irmãs Flora e Elisa Freire, o hotel Rubina, em Aracaju, inaugurado em 1920, é considerado um hotel transitório entre as antigas pensões familiares para os hotéis domésticos. O hotel Marozzi, fundado em 1934, é considerado um empreendimento pré-moderno, e o hotel Palace, inaugurado em 1962, é considerado um hotel que marca a fase moderna. Ou seja, o hotel Florelisa de Propriá se configura também como representante entre a transição da hotelaria familiar para a hotelaria moderna.
Hoje o prédio encontra-se em total abandono, em ruínas. Além dos quartos, uma passagem interligava o hotel ao Lar Florelisa, um conjunto de pequenas casas, com uma bonita sacada. Vizinho ao hotel, do lado direito, ficava um dos três cinemas da cidade, o Cine Fernandes, também considerado de vanguarda por disponibilizar além de projeções de filmes, uma lanchonete que servia os cinéfilos em pequenas mesinhas, considerado um luxo para a época.
As construções resistem ao tempo, não se sabe até quando. Antes que tombem ao chão, o registro se configura como um documento do passado a ser conhecido e apreciado por todos no hoje e no amanhã.
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Fotos: Silvio Oliveira Insta: @tonomundosilvio
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