Informações sobre a Doença de Chagas – 112 anos de sua descoberta

“O raro momento não é o momento em que existe algo que vale a pena olhar, mas o momento em que somos capazes de ver.” (Joseph Wood Krutch)

Doença de Chagas é uma infecção causada por um protozoário (trypanossoma Cruzi) que é transmitido por um inseto, conhecido popularmente como  barbeiro.

Sintomas:

Variam de acordo com a instalação e evolução do processo infeccioso. Observamos que na sua fase inicial, ou seja, na fase aguda, os sintomas são geralmente ligeiros, não mais do que inchaço nos locais de infecção ( da picada do inseto), no entanto à medida que a doença progride, que pode durar até vinte anos, os sintomas irão tornando-se crônicos e graves, tais como doença cardíaca e do intestino. Se não tratada, a doença crônica pode ser muitas vezes fatal. Convém salientar de que os tratamentos medicamentosos atuais para o tratamento desta doença ainda são pouco satisfatórios e com significativos efeitos colaterais, além de altamente ineficazes, em especial na fase crônica da doença.

Infelizmente a fase aguda é geralmente assintomática e podendo ter uma incubação que pode variar de  uma semana a um mês após a picada do barbeiro. Convém chamar a atenção de que no local afetado pode-se desenvolver uma lesão volumosa, o chagoma, que apresenta um local eritematoso (vermelho) e edematoso (inchado). Devemos frisar de que se a picada for próxima do olho, ocorre com frequência uma conjuntivite com edema da pálpebra (sinal de Romaña). Outros sintomas que também podem ocorrer são febre, linfadenopatia, aumento do baço e fígado, miocardite( inflamação do miocárdio ), falta de apetite e mais raramente meningoencefalite. Curiosamente apesar de cerca de 20 a 64% dos casos agudos se transformarem, em 3 a 4 meses, em portadores com parasitas sanguíneos circulante, o restantes dos pacientes podem ter cura espontânea.

No entanto, em todos os casos os sintomas param após cerca de dois meses, além do que muitos, mas nem sempre todos os portadores do parasita, podem desenvolver os  sintomas decorrentes da doença crônica.

Na fase crônica o indivíduo pode ficar sem sintomas por 10 a 20 anos, porém durante esse período de aparente bem-estar, o parasita está se reproduzindo continuamente em baixos números, causando danos irreversíveis em órgãos como ao sistema nervoso e ao coração. O fígado também é afetado, mas como é capaz de regeneração os problemas em geral são raros. O resultado clinico é em geral silencioso durante uma ou duas décadas de progressão, podendo no entanto evoluir com o aparecimento gradual de demência (4% dos casos iniciais), cardiomiopatia (em 30% dos casos), ou dilatação do trato digestivo (megaesôfago ou megacólon (6%), devido à destruição da inervação e das células musculares destes órgãos, que são responsáveis pelo seu tônus muscular.

Infelizmente no cérebro ocorre frequentemente a formação de granulomas. É neste estágio da doença, que ela torna-se frequentemente fatal mesmo com tratamento, principalmente devido à cardiomiopatia (insuficiência cardíaca).  No entanto, o tratamento pode aumentar a esperança e  a qualidade de vida. Mais raramente podem ocorrer casos de morte súbita, quer nos casos agudos ou crônicos, decorrente da destruição pelo parasita do sistema condutor dos batimentos no coração ou pela ocorrência de danos cerebrais irreversíveis em áreas críticas.

Histórico:

A Doença foi descoberta em 1909 pelo médico brasileiro Carlos Chagas, e não foi considerada como uma Patologia Clinica  até a década de 60.

Foram minuciosos Estudos desenvolvidos pelo Instituto Oswaldo Cruz no município de Bambuí, Minas Gerais, que  possibilitaram dimensionar a moléstia como problema de saúde pública. Salientando, que muito honradamente o nome de Tripanossoma cruzi ao agente causador dessa Doença foi dado por Chagas em homenagem ao epidemiologista Oswaldo Cruz.

Na Argentina, a doença é chamada oficialmente Mal de Chagas – Mazza, em homenagem ao médico argentino Salvador Mazza, que em 1926 começou a estudar a enfermidade e com os anos transformou-se no principal estudioso da doença naquele país.

Epidemiologia:

Calcula-se que existam 18 milhões de indivíduos com doença de chagas, entre a população de risco (cerca de 120 milhões)distribuída por 18 países americanos. Ocorrem aproximadamente 20.000 mortes anualmente entre os infectados.

A doença de Chagas crônica é um problema epidemiológico apenas em alguns países da América Latina, mas a migração crescente de populações aumentou o risco de transmissão por transfusão de sangue, sendo encontrado até mesmo nos EUA, e têm surgido casos da doença em animais silvestres em todo o seu território, estando portanto distribuída pelas Américas desde os EUA até a Argentina, atingindo principalmente as populações rurais pobres.

As casas pobres, com reboco defeituoso (casas de taipa) e sem forro, são habitat para o barbeiro, que dorme de dia nas rachaduras das paredes e sai à noite para sugar o sangue das pessoas durante o sono, geralmente no rosto ou onde a pele é mais fina. Os casos nos EUA de origem endêmica (e não em imigrantes) são raríssimos, devido ao maior afastamento das casas dos animais e do menor número de locais dentro das casas onde os insetos possam se reproduzir.

A doença pode afetar muitos outros vertebrados além do ser humano: cães, gatos, roedores, tatus e gambás que podem ser infectados e com isso servir de reservatório do parasita.

Transmissão:

O barbeiro se infecta ao sugar o sangue de um organismo infectado, em seu intestino o tripanossoma se transforma em uma forma que se reproduz. No entanto o homem irá se contaminar com as fezes ou a urina contaminada do barbeiro, eliminadas enquanto suga o indivíduo (defecando no mesmo local da picada), essa infestação também pode ocorrer por transfusão de sangue contaminado, por transplante de órgãos ou então através da placenta, durante o trabalho de parto.

Atenção: Não há nenhuma comprovação científica de que possa ocorrer a transmissão da Doença de Chagas pelo coito.Salientando de que é uma doença  endêmica em Minas Gerais, sendo também encontrada em cerca de 30 a 40% dos gambás em Santa Catarina, além do que atualmente se pesquisa a sua presença no Pará, no preparo do açaí, que pode estar contaminado pelo barbeiro.

Diagnóstico:

Microscópio – fase aguda (15 dias após a picada) consegue quase sempre encontrar o parasita no sangue do paciente em 60% dos casos

Detecção do DNA do parasita através de reação em cadeia da polimerase

Xenodiagnóstico – usa-se um barbeiro não contaminado para picar o indivíduo, e 30 dias depois se examina o seu intestino em busca do parasita, ou então pela inoculação de sangue do doente em animais de laboratório e se verifica se eles desenvolvem a doença

Detecção de Anticorpos específicos contra o parasita no sangue, muito útil nos casos crônicos. Mas infelizmente a distinção com os casos curados muitas vezes é difícil de fazer.

Tratamento:

Fase aguda o uso de Nifurtinox, Alopurinol e Benzonidazol curam completamente ou reduzem a probabilidade de evoluir para a forma crônica em mais de 80% dos casos. Após instalada a fase crônica, pouco pode ser feito com o objetivo de curar, mas muito já se pode ser feito no sentido de amenizar os efeitos das lesões no coração e no sistema nervoso, que infelizmente geralmente são irreversíveis e inexoravelmente progressivas.

A doença de Chagas está enquadrada entre as doenças “extremamente negligenciadas”, pela extrema pobreza de seus portadores, o que faz com que passem ao largo do mercado milionário da indústria farmacêutica.

Como evitar:

Esse é vem sendo considerado como o ponto alto da profilaxia e prevenção dessa doença.

Não há vacina, mas certamente podemos centrar nossa prevenção no combate vigoroso ao barbeiro, por que sem ele certamente iremos cortar o ciclo da doença e estaremos evitando a sua propagação.

Medidas Preventivas e Sanitárias:

– Melhoria das moradias rurais

– Extinção das casas de “Taipa”

– Melhoria das condições de higiene na área rural ( principalmente )

– Limpeza frequente das palhas e roupas

– Afastamento dos animais das casas

– Uso do Inseticida DDI em zonas endêmicas que eliminam os barbeiros

Em resumo, o que se precisa fazer com bastante rigor, é a prevenção que sabemos se dá pela eliminação do vetor,o “ famigerado “ barbeiro, por meio de medidas que tornem menos propício o seu convívio próximo às pessoas, e principalmente a possibilidade de sua proliferação; além do que precisamos proporcionar a construção de melhores habitações, pois como estamos cansados de saber, este inseto vive nas frestas das casas de pau a pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos e sob pedras.

Enfim, medidas higiênico-sanitárias e adequadas políticas de Saúde Pública podem “curar” esse sério e letal problema das camadas mais pobres e esquecidas de nossa população mais carente.

Um boa Semana, com muita luz e muita paz.

MAKTUB

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais