Nordeste, meu amor!

De quatro em quatro anos surge um cenário beligerante nas eleições presidenciais do Brasil. Sulistas e sudestinos unidos para atacar mais uma vez o povo nordestino, esse mesmo povo cuja terra é o início da colonização brasileira, ou seja, sem o Nordeste, não há Brasil. E por falar em Brasil, vocês sabiam que o Nordeste já foi a região mais próspera política e econômica do país no período açucareiro? Pois é, o Nordeste, mesmo sendo uma região que teve seus recursos naturais e povos originários bastante explorados e dizimados no período colonial, teve sua imagem construída como uma região carente pura e simplesmente por falta de estudo de História.

Voltando a ela, a maravilhosa História do Brasil, quando a indústria açucareira entrou em declínio e o café passou a gerar riqueza, o Nordeste perdeu espaço para as regiões Sul e Sudeste, que tinham o solo propício para o cultivo do café. Como o Nordeste já não era mais a opção de gerar riquezas, os grandes senhores e elite econômica abandonaram a região, deixando enorme desigualdade social após terem explorado de maneira voraz todos os estados. Estou resumindo o que consta de maneira mais profunda e detalhada nos livros de História, sugiro a pesquisa.

Mas, acredito que as pessoas já saibam disso, afinal, os buscadores da Internet também estão aí para ajudar a difundir a informação, então, o que justifica tamanho ódio e repulsa pela região que gerou o que é hoje o Brasil? A figura do nordestino foi construída a partir de uma elite também literária que criou personagens caricatos, o sertanejo que passa fome na seca e foge para São Paulo, a mulher preguiçosa praieira da costa, etc. Na década de 30, a nossa imagem em diversas obras era retratada dessa forma, uma região seca, miserável, as crianças buchudas com verminose pela falta de saneamento básico, um povo que vive na miséria a base de esmola.

A ideia de que existe um Brasil rico e poderoso fora dos limites dos 9 estados nordestinos fez com que a gente desenvolvesse um complexo de inferioridade a tal ponto, que até os mesmos cursos feito fora têm mais reconhecimento profissional do que os que são feitos aqui. Os médicos de São Paulo são os melhores, mesmo quando parte dos estudantes sergipanos fazem as suas residências lá e retornam ao seu estado. As universidades federais são melhores, mesmo quando mestrandas e doutorandas percebem que o nível de ensino e leitura é igual, mas o preconceito e falta de conhecimento sobre a nossa região são imensos e impedem com que a nossa produção econômica e cultural ultrapasse as fronteiras.

O que incomoda é saber que ocupamos cada vez mais espaços de destaque mesmo quando somos testados o tempo todo. Mesmo quando o nosso sotaque é motivo de piada e até de exclusão de determinadas vagas de emprego, mesmo quando a gente precisa explicar que letramento não é tudo e que política pública não é migalha. Mesmo quando o pobre é visto como miserável, sem direito a ter opinião, voz e sem direito, principalmente, a migrar dentro do próprio país. Queria saber desde quando o mundo tem dono, que a gente para transitar, precisa repudiar e inferiorizar o lugar que a gente nasceu?

Eu já morei no Sul, já morei fora do Brasil (graças às políticas públicas, obrigada Capes e CNPq), e isso não significa dizer que Aracaju é inferior a esses lugares. Comparar locais com fatores socioeconômicos, geográficos, históricos e culturais distintos é uma maneira equivocada e imatura de viver no mundo. Cada lugar tem seus aspectos positivos e negativos e se nós, nordestinas e nordestinos, quisermos sair daqui para viver em qualquer lugar, bem como outras pessoas de outros locais, é direito de qualquer um! Achar que cada um deve se limitar ao lugar que nasce ou cuja família tem descendência é viver limitado a uma caixinha rasa de conceitos ultrapassados sobre visão de mundo, afinal, ir e vir é um direito constitucional de qualquer cidadão.

Hoje é dia da nordestina e do nordestino e eu só queria reforçar o quanto eu amo ter nascido aqui, na capital do menor estado do Brasil. Eu amo carregar sangue indígena em minhas veias, eu amo nossas praias, nosso sotaque, nossa comida, eu amo poder viajar para onde eu quiser e poder voltar. Eu amo ter crescido num lugar que me ajudou a pensar sobre Nós e não só sobre o Eu. E é por isso que hoje eu não quero falar sobre defeitos daqui ou de qualquer outro lugar. Hoje eu quero celebrar Sergipe, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão e Ceará, porque resistir sempre foi o verbo que aprendemos a praticar.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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