Diego Leonardo Santana Silva
Doutorando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ), com Bolsa Capes
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)
E-mail: diego@getempo.org
No último dia 20 de novembro, teve início a Copa do Mundo de Futebol no Catar. O evento esportivo mais assistido do planeta já chama atenção por si só. Porém, a edição atual do torneio vem, ao longo dos últimos meses, causando polêmica tanto em relação às condições que levaram o evento a ser sediado no Catar, quanto pelo tratamento dado pelo governo catariano aos imigrantes e às pessoas LGBTQIA+.
Sendo um dos países mais ricos do mundo, o Catar se apresenta como o oásis em meio ao deserto. Tendo um investimento bilionário em sua infraestrutura, essa região vem se esforçando para mostrar uma face do mundo árabe para o planeta que não seja aquela voltada para os estereótipos preconceituosos de que os árabes são essencialmente atrasados, intolerantes e violentos. Todavia, algumas questões relacionadas a esse país vem sendo fruto de protestos no Ocidente. Uma das manifestações mais notáveis foi a dos capitães de seleções como Inglaterra, Alemanha e Dinamarca prometerem utilizar as faixas de capitão em homenagem à comunidade LGBTQIA+.
Além disso, o futebol é, em muitos casos, algo que se estende para além das quatro linhas e isso também ocorrerá no mundial catariano. No dia 29 de novembro, às 16 horas, horário de Brasília, as seleções dos Estados Unidos e do Irã se enfrentarão pela terceira rodada do grupo B. As tensões geopolíticas entre esses países não são nenhuma novidade e o valor simbólico de qualquer confronto entre os dois países traz consigo a concepção de que algo além da questão esportiva está em cena quando o confronto acontece. Em 1998, as duas seleções se enfrentaram na Copa do Mundo FIFA realizada na França e os atletas de ambas as equipes na época posaram juntos para fotografias pela paz. O Irã venceu a partida por 2×1, mas a mensagem transmitida pelos atletas se estendia para além do campo de jogo.
Atualmente, o Irã vem passando por uma série de problemas sociais. A imprensa internacional noticiou a morte de 326 manifestantes em protestos nos últimos dias. Tais manifestações são fruto da insatisfação após a morte de uma mulher de 22 anos detida por não estar usando o hijab (véu) corretamente. O governo iraniano vem respondendo aos protestos com brutalidade e condenando manifestantes à morte. Afinal, as queixas apresentadas se estendem a uma onda de insatisfação contra o regime que é endossada por celebridades e atletas iranianos como Ali Daei, maior artilheiro da Seleção Iraniana de Futebol, que recusou o convite para participar da Copa do Mundo em apoio às manifestações.
Pelo lado norte-americano, as tensões com o Irã levaram a uma recente ofensiva contra figuras poderosas do país. Em 2020, o Pentágono confirmou que assassinou General Qasem Soleimani, chefe da Guarda Revolucionária iraniana e considerado um terrorista pelos EUA e por Israel. Recentemente, o governo Biden expressou apoio aos manifestantes chegando a prometer libertar o Irã da opressão. Esse é mais um evento da escala de conflitos entre os norte-americanos e o mundo árabe.
É em meio a esse cenário geopolítico que a partida entre Estados Unidos e Irã ocorrerá. O resultado e a repercussão nós só saberemos após o término da partida. Mas, o que sabemos hoje é que a relação entre esses dois países não é nada amistosa e essa partida se torna mais um elemento a ser observado na Copa do Catar.
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