Boneca com defeito

“ENSAIOS” Reúne todos ensaios publicados por Capote em vários veículos 

“Ensaios”, lançado pela LeYa este ano, é o primeiro volume dedicado a todos os ensaios publicados pelo jornalista e escritor norte-americano Truman Capote (1924-1984). O livro reúne desde seus esboços de viagens ao Brooklyn, Nova Orleans e Hollywood às meditações sobre a fama e a arte de escrever.

Nascido em Nova Orleans (EUA), ele começou a trabalhar como office-boy na redação da revista “The New Yorker” no início da década de 1940, mas foi demitido por ofender o poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963).
Após publicar suas primeiras histórias na “Harper”s Bazaar”, Capote atingiu uma considerável reputação nos meios literários. À época, tinha um pouco mais de 20 anos.

Em 15 de novembro de 1959, o assassinato de uma família na cidade de Holcomb, no Kansas (EUA), chamou a atenção e a escrita de Capote para investigar o caso.
Truman Capote é um dos pais do “new journalism”, o novo jornalismo literário, movimento que surgiu nos anos 1960, nos EUA.

Na data, dois homens invadiram a fazenda River Valley de Bonnie e Herb Clutter em busca de uma fortuna escondida em um cofre, que não existia, e mataram o casal e seus filhos Nancy e Kenyon. Ao saber do crime, Capote deixou Nova York e partiu para o Kansas.
Após seis anos de pesquisas, visitas ao local e entrevistas com os assassinos Perry Smith e Dick Hickock, o jornalista lançou “A Sangue Frio” (1966), que firmou seu nome entre os experts do jornalismo literário.

Leia o primeiro capítulo de “Ensaios”.

NOVA ORLEANS (1946)

No pátio havia um anjo de pedra preta, e sua cabeça de anjo ficava bem acima de gigantescas folhagens; os olhos vítreos do anjo, brilhantes como o azul lavado dos olhos dos marinheiros, estavam voltados para o alto. Observava-se o anjo de um balcão verdejante – o meu, aliás, porque eu morava logo ali em um três cômodos completamente branco, cômodos com elaborados tetos de bolo de noiva, portas de correr, altas janelas francesas. Nas noites quentes, com aquelas janelas abertas, era agradável ficar ali conversando, e o vento soprava o interior como a brisa doce produzida por leques balançados por velhas senhoras. E nessas noites quentes a cidade era quieta. Eram só vozes: conversas familiares por trás da cortina de samambaias de uma varanda; uma mulher descalça cantarolando e balançando a cadeira, acalentando o bebê que amamenta em público; a queixa em língua estrangeira de uma mulher irritada que, sentada em seu balcão, depena um frango, as penas soltas pairando no ar e descendo preguiçosas até o chão.
Em uma manhã – era dezembro, acho, um domingo frio com um sol pálido e triste – subi pelo Quarter até o velho mercado, onde naquela época do ano havia exóticas frutas de inverno, satsumas doces por 20 centavos a dúzia, e flores de inverno, poinsétias de Natal e camélia japônica. As ruas de Nova Orleans têm perspectivas longas, solitárias; nas horas desertas, sua atmosfera é como a de Chirico e coisas inocentes, comuns (um rosto por trás de uma veneziana fechada, freiras caminhando ao longe, um braço gordo e negro balançando do lado de fora de uma janela, um menino negro e solitário acocorado em um beco, soprando bolinhas de sabão e observando triste enquanto elas sobem para a explosão final), adquirem qualidades de violência. Naquela manhã, eu parei de repente no meio de um quarteirão, porque havia notado pelo canto do olho uma passagem em túnel, um pátio cuja vegetação crescera demais. Um cão branco de aparência ensandecida estava parado na entrada do túnel de samambaias e eu me aproximei impelido por uma espécie de compulsão. Dentro do pátio havia uma fonte; a água jorrava delicadamente da boca da estátua de um macaco e produzia, ao cair sobre os pedregulhos do fundo, um som desolado que lembrava sinos. Ele pendia de um salgueiro, um homem com rosto de bandido e cabelos muito brancos; pendia flácido e encurvado, como o próprio salgueiro. Havia terror naquele jardim de silêncio sufocado. Janelas fechadas permaneciam cegas à cena; rastros de caracóis brilhavam prateados sobre as folhas maiores, nada se movia, exceto a sombra do homem. Ele balançava um pouco, para a frente e para trás, mas não havia vento. O anel de pedra em seu dedo cintilava ao sol, e em seu braço havia um nome tatuado: Francy. O cachorro levantou a cabeça para beber da fonte, e eu corri. Francy. Havia sido por ela que o homem se matara? Não sei. N. O. é um lugar de segredos.

Os olhos vítreos do meu anjo de pedra são como relógios de sol, porque revelam, pela quantidade de luz que os banha, que horas são: brancos ao meio-dia, eles vão escurecendo gradualmente, até ficarem escuros ao anoitecer, negros – olhos de anoitecer em uma cabeça de anoitecer.
Os lábios riscados de meninas de cabelos dourados insistem em sorrir na frente de casas desbotadas: Beba Dr. Nutt, Dr. Pepper, Nehi, Grapeade, 7-Up, Koke, Coca-Cola. N. O., como qualquer cidade sulista, é cheia de cartazes anunciando refrigerantes; as ruas de bairros desolados são pavimentadas por tampinhas de Coca-Cola e, depois da chuva, elas brilham ao entardecer como moedas perdidas. Cartazes se desprendem das paredes, balançando ao vento até uma tempestade soprá-los pela rua, como areia no deserto – e há os que pensam que eles são belos; há os que revestem suas paredes com beldades Dr. Nutt e Dr. Pepper, como garotas da Coca-Cola que, sorrindo sobre suas camas de aluguel, são anjos da noite e santas da manhã. Cartazes em todos os lugares, desenhados, pintados: Madame Ortega – Leituras, Poções do Amor, Literatura Mágica, Telefone para Mim; Se Você Não Tem o Que Fazer, Não Venha Fazer Aqui; Está Preparado Para Encontrar Seu Criador?; Cuidado, Cachorro Bravo; Tenha Compaixão dos Pobres Orfãozinhos; Sou Uma Viúva Surda & Tola Com 2 Bocas Para Alimentar; Atenção; Esta Noite em Nossa Igreja o Coral Blue Wing (assinado) O Reverendo.

Houve certa vez o seguinte anúncio em uma porta no bairro do Canal Irlandês: “Venha e Veja Onde Jesus Esteve”.
– Pois não? – perguntou a mulher que abriu a porta quando eu bati.
– Gostaria de ver onde Jesus esteve – respondi.
Por um momento ela ficou parada como se não me entendesse; seu rosto, cortado por linhas de expressão muito fi nas, era branco como marshmallow; ela não tinha sobrancelhas, nem cílios, e vestia um quimono de algodão grosso.
– Você é muito pequeno, meu bem – respondeu, os seios flácidos sacudidos por sua risada. – É novo demais para ver onde Jesus esteve.
No meu bairro havia um certo café que não devia ter nada de divertido, porque era o café mais vazio de toda N. O., um verdadeiro funeral. Porém, a proprietária, a sra. Morris Otto Kunze, não parecia se incomodar com isso; ela passava o dia todo sentada atrás do balcão refrescando-se com um leque e raramente se mexia, exceto para espantar as moscas. Colados sobre um velho espelho rachado no fundo do bar havia sete cartazes iguais: Não se Preocupe Com a Vida… Você Não Vai Sair Dela Vivo.

3 de julho. Na semana passada chegou um cartão da srta. Y., por isso decidi visitá-la hoje à tarde. Ela é encantadora à sua maneira arcaica e é divertida também, embora não seja essa a sua intenção. Quando nos conhecemos, eu pensei: Edna May Oliver; e há uma semelhança, certamente. A srta. Y. fala com tons premeditados, mas o que diz é aleatório e seus olhos cor de sherry estão sempre vasculhando o ambiente. Sua postura é militar e ela usa uma bengala Malacca masculina, pois tem uma perna mais curta que a outra, condição que dá ao seu caminhar um gingado que lembra o de um pinguim.

– Isso me fazia infeliz quando eu tinha a sua idade; sim, devo admitir que sim, porque papai tinha de acompanhar-me aos bailes e lá ficavamos sentados em delicadas cadeiras douradas, e continuávamos sentados. Nenhum dos cavalheiros jamais convidava a srta. Y. para dançar, ah, não, embora um rapaz de Baltimore, um certo sr. Jones, tenha estado aqui em um inverno e, por Deus, o pobre sr. Jones caiu de uma escada, quebrou o pescoço e morreu instantaneamente.
Meu interesse na srta. Y. é clínico e confesso constrangido que não sou exatamente o amigo que ela acredita que sou, porque não há como se sentir muito próximo da srta. Y.: ela é uma espécie de conto de fadas, alguém real – e improvável. É como o piano no salão de sua casa – elegante, mas um pouco desafinado. Sua casa, velha até mesmo para N. O., é guardada por uma velha e dilapidada cerca de ferro preto; ela mora em um bairro pobre, uma área coberta por cartazes de cômodos para alugar, postos de gasolina, cafés com jukebox. No entanto, nos tempos em que a família dela se mudara para ali – há muito tempo, é claro – não havia lugar melhor em toda N. O. A casa, cercada por árvores frondosas, tinha um exterior cinzento; mas, no interior, a fantasia da herança da srta. Y. ainda é visível em todos os lugares; as batidas de sua bengala quando ela desce a escada fazem tremer os cristais; seu rosto, um coração de seda amarrotada, reflete-se como névoa nos espelhos que vão do chão ao teto; ela se senta (noto, quando isso acontece, o cuidado com que preserva o conforto físico) na cadeira que foi do pai do pai do pai dela, um móvel austero com apoios para mãos no formato de cabeças de leão. Ela é bonita ali no interior fresco de sua casa, e ali está segura. Há as paredes, a cerca, a mobília de sua infância.

– Algumas pessoas nascem para ser velhas; eu, por exemplo, fui uma criança atroz sem nenhuma qualidade. Mas gosto de ser velha. A idade me faz sentir algo mais… – ela parou, indicando com um gesto o salão amplo – mais apropriado.
A srta. Y. não acredita no mundo além de N. O.; às vezes o isolamento resulta, como hoje, em comentários sem propósito. Eu havia mencionado uma viagem recente a Nova York e ela, erguendo uma sobrancelha, respondeu com tom gentil:
– Ah, sim? E como vão as coisas no campo?
1. Por que, eu me pergunto, todos os motoristas de táxi de N. O. soam como se fossem importados do Brooklyn?
2. Ouve-se falar tanto de comida ali, que deve ser verdade que restaurantes como o Arnaud”s e o Kolb”s são os melhores da América. Há uma atmosfera atraente, preguiçosa nesses restaurantes: os ventiladores girando devagar, as mesas enormes e a ausência de multidões, o silêncio, os garçons casuais, mas precisos, todos com aquele ar de filho do gerente. Um amigo meu discutia N. O. e Nova York certa vez, e apontou que refeições comparáveis no Leste, além de muito mais caras, eram servidas com os maneirismos do chef, com todo tipo de exagero elaborado e falsos acessórios. Como muitas coisas boas, a qualidade da culinária de N. O. derivava, ele acreditava, de sua simplicidade essencial.
3. Sou mais ou menos incomodado pela persistente expressão “velho charme”. Você vai encontrá-la, suponho, na arquitetura local e nas lojas de antiguidades, ou na mistura de dialetos que se ouve na região do Mercado Francês. Mas N. O. não é mais charmosa que qualquer outra cidade do Sul, senão, na verdade, por ser a maior. A principal porção dessa cidade é composta por solo espiritual, ruas e bairros alheios ao cinturão do turismo.
(De uma carta para R. R.) Há novos moradores no apartamento de baixo, os terceiros inquilinos no último ano; um lugar de transição, esse Quarteirão, olá e adeus. Um malandro inofensivo morava lá quando eu cheguei. Ele era inescrupuloso, sujo e torto, uma espécie de sátiro dissimulado. O sr. Buddy, a banda de um homem só. É bem provável que já o tenha visto – não aqui, é claro, mas em alguma outra cidade, porque ele está sempre se mudando, ele e o velho banjo, a bateria e a harmônica. Eu costumava encontrá-lo tocando em várias esquinas, sempre cercado por um bando de vagabundos. Como ele era meu vizinho, esses encontros sempre me incomodavam. Para dizer a verdade, ele não era um mau músico – era extraordinário, de fato, quando, no fi nal da tarde e por simples prazer pessoal, cantava embalado por seu violão, entoando baladas fantasmagóricas com sua voz chorosa e profunda; como era terrível para as pessoas apaixonadas.
– Ei, garoto, você! Você aí… – Eu era você, porque ele nunca soube meu nome e nunca demonstrou muito interesse em saber. – Desça aqui e me ajude a matar uma dupla.
Sua sacada, menor que a minha, era protegida por uma cortina natural de glicínias perfumadas; como não havia mobília, nós nos sentávamos no chão à sombra das plantas, bebendo uma marca de gim que era algo muito próximo de álcool puro, e ele tocava o violão, as notas agudas enfatizando o lamento profundo de sua voz.
– Estive em todos os lugares, entrei e saí, andei por aí; sessenta e cinco, e qualquer mulher que tenha estado comigo não serve para mais ninguém; sim, senhor, tive muitas mulheres e muitos filhos, mas não sei o que foi feito de nenhum deles – e nem estou interessado em saber -, exceto, talvez, por Rhonda Kay. Havia uma mulher, homem, doce como o mel silvestre, e ela ardia por mim! Em brasa o tempo todo, e era casada com um reverendo batista, mãe de quatro filhos – cinco, contando o meu. Sempre me perguntei o que nasceu, menino ou menina – menino, espero. Sempre dou meninos a elas… Mas isso tudo foi há muito tempo e aconteceu em Memphis, Tennessee. Sim, senhor, estive em todos os lugares, estive na penitenciária, estive em casas grandes e fi nas como as casas dos Rockefellers, entrando e saindo, andando por aí. E ele conseguia prosseguir dessa mesma maneira até a lua aparecer no céu, a voz se tornando mais pastosa, as palavras se encadeando e formando uma canção.
Seu rosto, manchado e enrugado, tinha uma certa bondade enganosa, um brilho infantil, mas os olhos eram puxados como os dos orientais e ele mantinha as unhas longas, afiadas e polidas como as de um chinês.
– São boas para coçar, e também são úteis numa briga.
Ele sempre vestia uma espécie de fantasia: calça preta, meias vermelhas, tênis com as pontas cortadas para dar espaço aos dedos, um casaco matinal, um colete de veludo cinza que, ele dizia, havia pertencido a seu ancestral Benjamin Franklin, e uma boina coberta por broches com a mensagem Vote em Roosevelt. E não havia como negar – ele realmente mantinha amizade com muitas mulheres – uma diferente a cada semana, com certeza, mas raramente havia um tempo em que não houvesse uma mulher preparando suas refeições; e nessas ocasiões, quando eu ia visitá-lo, ele invariavelmente dizia:
– Esta é a sra. Buddy.
Certa noite, acordei com a sensação de que não estava sozinho; com certeza havia alguém no quarto e eu podia vê-lo no meu espelho banhado pelo luar. Era ele, o sr. Buddy, abrindo e fechando furtivamente as gavetas da cômoda, e de repente minha caixa de moedas caiu no chão, abrindo-se e espalhando moedas em todas as direções. Era inútil continuar fingindo, por isso acendi o abajur, e o sr. Buddy me encarou inabalável, tranquilo, até sorriu ao dizer:
– Escute, preciso sair daqui depressa.
Eu nunca o vira tão sóbrio antes.
Não sabia o que dizer, e ele olhou para o chão com o rosto levemente corado.
– Vamos lá, seja um bom menino. Tem algum dinheiro?
Eu apontei as moedas espalhadas; sem dizer mais nada, ele se ajoelhou, recolheu todas as moedas, levantou-se e saiu pela porta de cabeça erguida.
Na manhã seguinte ele havia partido. Três mulheres apareceram procurando por ele, mas não tenho informações sobre seu paradeiro. Talvez ele esteja em Móbile. Se o vir por lá, R., pode me mandar um cartão, por favor?
Quero uma mulher grande e gorda, sim sim! Os dedos de Shotgun, longos como bananas, grossos como pepinos em conserva, martelavam as teclas, e o pé acompanhava batendo no chão, fazendo tremer o café. Shotgun! O maior espetáculo da cidade! Não canta nada, mas, puxa, como toca aquele piano – ouça: Ela é fresca no verão e quente no outono, uma mulher quatro estações, e isso não é tudo… Ele continua, a boca gorda se abrindo como a de um crocodilo, a língua vermelha provando o sabor da nota, amando-a, fazendo amor com ele; geleia, Shotgun, geleia-geleia-geleia. Olhe para ele rindo, aquele rosto negro e louco todo marcado por buracos de bala, todo brilhante de suor. Existe algum vício humano que ele não conheça? Uma pena, porém… Poucos homens brancos vão ver Shotgun, porque aquele é um café para negros. A decoração empoeirada do Natal do ano anterior ainda colore as paredes descascadas. Tiras verdes, roxas e cor de laranja de papel, pendendo de lâmpadas nuas, balançando ao vento produzido por um ventilador exausto; o proprietário, um homem de aparência atraente com olhos azuis e leitosos, está debruçado sobre o balcão.
– Escute aqui, o que pensa que tenho aqui, algum tipo de instituição de caridade? Pague a conta, negro, e depressa. E hoje é sábado. O salão está inundado pela fumaça de cigarro e pelo perfume do sábado à noite. Todas as engorduradas mesinhas de madeira têm círculos duplos de cadeiras e todo mundo conhece todo mundo, e por um momento o mundo está naquela sala, naquele ambiente escuro, terrível, jazzístico; nosso coração bate ao som do pé de Shotgun, todos os elementos alegres da vida de cada um ali estão focados no brilho de seus olhos maliciosos. Quero uma mulher grande e gorda, sim sim! Ele balança sobre o banquinho e ergue o rosto para olhar diretamente para nós, a voz soando como um grande uivo na noite: Quero uma mulher grande e gorda com a carne balançando, sim!

Escritora e poeta Hilda Hilst completou 80 anos

Poeta Hilda Hilst expôs o sentimento de estar no mundo e não pertencer a lugar algum

Ano passado,  a escritora e poeta Hilda Hilst (1930-2004) completaria 80 anos. A paulista estreou na literatura aos 20 anos, em 1950. A prosa e poesia da autora é alvo, até hoje, de estudos por conta de sua profundidade. Seus textos são considerados por alguns como depravados, já que expõem o sexo de forma reveladora.

Monte sua biblioteca com obras de Hilda Hilst

Dos relatos sexuais de uma garota em “O Caderno Rosa de Lori Lamby” aos existencialistas de Hillé, que, após a morte do seu amante, se recolhe para pensar em sua vida em “A Obscena Senhora D”, o leitor percebe que Hilda expunha o que lhe afligia –sentimento de estar no mundo e não pertencer a lugar algum. Seus personagens refletem essa angústia.

Organizado pelo crítico literário Alcir Pécora, “Por que Ler: Hilda Hilst” (Editora Globo, 2010) é um dos mais recentes lançados sobre a carreira pessoal e literária da poeta. O livro analisa a vida de Hilda e esmiúça passagens de seus escritos.

Crítico alinha vida e obra de Hilda para ressaltar sua herança escrita

O volume está dividido em seis partes, todas comentadas por especialistas em Hilda. São eles: “Nota do organizador” (Alcir Pécora), “Um retrato do artista” e “Cronologia” (Luisa Destri e Cristiano Diniz), “Ensaio de leitura” (Sonia Purceno), “Entre aspas” (Luisa Destri) e “Estante” (Sonia Purceno).
Em “Por que Ler: Hilda Hilst”, o público saberá o que levou a escritora a publicar textos mais picantes. Um dos motivos foi sua impopularidade. Hilda não conseguia se estabilizar financeiramente no mercado editorial. Decidiu então investir em textos tidos como “pornográficos” para conquistar o reconhecimento dos leitores e vender livros. Tornou-se uma das escritoras mais significativas de sua geração.
“Retrato” –que reproduz a biografia da autora– e “Entre aspas” –que analisa a quantidade e a qualidade dos fragmentos de sua obra, em suas várias linguagens– desvendam por que Hilda não cansa de ser lida, muito menos esquecida.

EU E HILDA

Eu e Hilda Hislt. Nem posso acreditar a vida sem ela. Mas foi. Ficaram os monstros. A minha saudade, a leveza do seu caminhar.  A sua forma de levar a taça à boca. Tudo. “Matamoros”, “Tadeu da Razão”, “Com os meus olhos de cão”. Morri ali, no dia em que ela partiu e eu fui avisado por uma coruja que pousou na janela do meu quarto as quetro da manhã.

DIA 28 LANÇAMENTO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA

Eu não deveria ter nascido. Quando vi, estava eu aqui, meio lama no imenso mundo retratado, cheio de quadrúpedes rondando a minha sala. Pedi para voltar. Gritei muito, antes de ouvir uma voz dizendo: desça e arrase!”. O livro de poesias Obra Poética Reunida, traz toda a produção do poeta Araripe Coutinho. A produção completou 20 anos em 2009, desde a publicação de ‘Amor Sem Rosto’, em 1989, premiado com o Santo Souza de Poesia pela Fundação Estadual de Cultura até ‘Nenhum Coração’, publicado em 2008. E traz ainda o inédito ‘O Sofrimento da Luz’, de 2009, um estudo sobre a loucura.

“Esse é o meu décimo livro e trata-se de uma coletânea dos 20 anos escrevendo, uma oportunidade para que as pessoas leiam poesias, já que não estão habituadas, principalmente agora com a velocidade das coisas, por conta da Internet. A poesia para que serve? Apenas para salvar o poeta dele mesmo”, ressalta Araripe Coutinho destacando que a poesia ficou cada vez mais restrita a um público.

Indagado quanto à linguagem das suas poesias, o poeta disse que “minha poesia eu considero uma linguagem jubilosa. As pessoas podem sentir isso. É sempre em torno de Deus, da morte e do amor”, explica Araripe Coutinho lembrando que a nova obra fará com que as pessoas tenham um aprendizado geral do que ele escreveu ao longo da vida, de tudo que está acontecendo.

Histórico

Araripe Coutinho estudou Letras e é jornalista profissional. Abandonou o curso e preferiu as redações. Apaixonado pelo jornalismo começou a escrever no jornal de Santo Amaro das Brotas, em Sergipe, incentivado pela professora e poeta Lígia Pina, de quem foi aluno no Colégio de Aplicação da UFS. Depois daí teve colunas assinadas no Jornal da Cidade, Gazeta de Sergipe, Correio de Sergipe e fundou com Ilma Fontes o jornal “O Capital.

Desencantado

“Eu pude fincar minha vida bem no meio da floresta escura de Dante. E aqui estou até hoje, – desencantado. Mas o que fazer de mim mesmo, pela graça ainda vivo? O que faço dopado de remédios que a indústria farmacêutica assassina insiste em me fazer tomar oito comprimidos, quando um só resolveria? Como posso com o fígado estéril sem nunca ter bebido uma gota de álcool continuar sorrindo sem minha bílis? Eu que sucumbo, dia após dia, diagramando meu féretro, sonhando com um epitáfio assim: ‘fui fluminense, o resto preferi  esquecer’ “. Dia 28, a partir das 19 horas, no hall da Assembléia Legislatitva lançamento do livro “Obra Poética Reuninda”. Vc apareça!

Bibliografia

•  Amor sem Rosto, 1989, Prêmio Santo Souza de Poesia, Secretaria de
Estado da Cultura..
•  Asas da Agonia, 1981, Ed. Scortecci/SP.
•  Sede no Escuro, 1994, Editora Scortecci/SP..
•  Passarador, 1997 – Ediçai Independente..
•  Sal das Tempestades, 1999, Editora J. Andrade..
•  O Demônio que é o Amor, Sercore, 2002..
•  Como Alguém que Nunca Esteve Aqui,2005, Sercore..
•   Do Abismo do Tempo, 2006, Sercore.
•   Nenhum Coração,Prêmio Santo Souza de Poesia, Secretaria de Estado da
Cultura, 2008 – Sercore..
•   O Sofrimento da Luz, 2009, J. Andrade.

NÓS MESMOS

A realidade disforme tremula no peito, invade as casas, as escolas, as repartições públicas e infiltra em nós um sensação de abandono monstro, fronstispício do nosso fin de siècle, caos e abandono do mito de que tudo podemos. Ainda que amarremos os cadarços da chuteira de Neymar, continuaremos achando que o imperador Adriano é um homem bom, exemplo jogado às turras para nossos jovens, na tv, no jornal, na mídia-demoníaca grafada pelo Fantástico aos domingos e pelo Esporte Espetacular nas manhãs.Paralelamente  a tudo isso – o deserto, o dente cariado, o céu que nos protege de Pawl Bawles ou a conta milionária do semi-analfabeto que sabe ganhar dinheiro e nós, gênios da conta de água e da luz que nem dá para pagar não sabemos.Boneca com defeito vai falar sempre de moda, mídia, política, cultura e savoir-vivre, se é que é possível depois da invasão em Realengo,  zona Oeste do Rio, de uma escola, matando 11 pessoas, por um rapaz de 23 anos, ex-aluno da Escola, Wellington Menezes de Oliveira. Bulling de um serial killer. E nós, estávamos todos ali na sala levando também os tiros.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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