Quanto Vale Capela?

A Vale é uma empresa que está no mundo todo, presente em mais de 30 países de todos os continentes. Para dar um chute em Capela é um nada. Ou não? Somente no Brasil, a Vale está presente nas áreas de mineração, logística, siderurgia e energia, é o maior produtor global de ferro e pelotas, e tem forte atuação na produção de níquel, cobre, manganês e ferro-liga, além de fertilizantes. Teria inadiável interesse na carnalita de Capela?

O sistema integrado de logística da Vale envolve ferrovias, portos, terminais marítimos e navios. Também investe em usinas hidrelétricas, gás natural e biocombustíveis, garantindo recursos energéticos renováveis para as próprias operações. No terceiro trimestre de 2013, o lucro líquido da companhia cresceu 140% em relação ao mesmo período de 2012, chegando a quase R$ 8 bilhões. Lucro de apenas três meses de operação.

Esse dinheiro equivale aos investimentos previstos para manter e ampliar a produção de cloreto de potássio, agora através da carnalita do subsolo de Japaratuba e Capela. Só que Capela detém 80% do minério e quer sediar a planta do novo projeto, desejo que esbarra nos planos da Vale. Estrategicamente, a gigante dos minérios já se decidiu por Japaratuba.
Hoje, a Vale tem na mina-usina de Taquari-Vassouras, localizada no município vizinho de Rosário do Catete, a única produtora de potássio no Brasil, por meio da exploração da silvinita. Só que esse projeto tem prazo para acabar: 2017.
A necessidade de instalação de uma nova planta decorre da diferença entre os projetos de extração do potássio, se através da carnalita ou da silvinita. Por isso que a planta de Taquari-Vassouras será desativada quando se esgotar a mina de silvinita.

A VALE PLANEJOU CONSTRUIR a nova usina de produção de cloreto de potássio em Japaratuba porque é um dos dois municípios que contêm a rocha carnalítica e por uma série de outros condicionantes estratégicos, como a localização de poços da Petrobras e o necessário abastecimento por gás.

Mas a Vale queria, também, evitar disputas para ela infrutíferas, como a encetada por Capela quando já a havia envolvido em uma pendenga jurídica ao questionar a redivisão do bolo do ICMS que hoje é pago em maior proporção a Rosário, na questão da exploração da silvinita.

Ao próprio governo do Estado, a Vale informou que não aceita imposições políticas e não se instala onde a comunidade não a aceita. O que fez o prefeito de Capela, Ezequiel Ferreira Leite Neto, ao não assinar a concessão para exploração do mineral no seu subsolo foi uma rejeição ao projeto, na apreciação da empresa.

Na sexta-feira, o prefeito distribuiu uma nota iniciada com a afirmação de que, "nos últimos dias, a população de Capela, através deste gestor, vem sendo pressionada pelo Governo do Estado a assinar, de todas as formas, o documento que concede à empresa Vale o uso do solo do município para exploração da carnalita".

O presidente da Federação das Indústrias, Álvaro Prado, e o governador Jackson Barreto negociavam com ele para que aceitasse as condições apresentadas pela Vale e se apressasse mesmo, porque, justamente na sexta-feira, haveria uma reunião preparatória do Conselho de Administração da empresa, que se reunirá em fevereiro. Se Capela dissesse sim, o projeto carnalita seria levado à aprovação do Conselho. Como a resposta foi negativa, não há o que se discutir.

PROSSEGUE O PREFEITO NA NOTA: "É incompreensível tal decisão defendida pelo Governo de Sergipe, uma vez que o local onde se pretende construir a usina fica a menos de 10 metros do limite entre Capela e Japaratuba, o que reforça a tese de que nosso município estaria sendo vítima de uma decisão unicamente política, sem nenhum critério técnico".
Se havia interesse do governo do Estado em beneficiar o município de um aliado político em detrimento de um adversário, então o município beneficiado deveria ser Capela, porque quando o governador Marcelo Déda, o político que conquistou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aprovação da direção da Vale para tal projeto histórico para Sergipe, quem administrava Capela era Manuel Messias Sukita, um aliado do PSB, e Japaratuba era administrado por Lara Moura, uma adversária do PSC.

E as tratativas para a concretização do projeto também passaram pelo deputado Zeca da Silva, que era secretário de Desenvolvimento Econômico na época e desde sempre é aliado dos Amorim, de André e Lara Moura, e do prefeito Ezequiel.
O prefeito diz que "não restaria outra opção para Capela a não ser assumir todo o passivo ambiental e social com a saída da fábrica para Japaratuba", encerra insistindo na culpa do governo e desejando que os ventos mudem na política estadual — "Se esta continuar sendo a decisão política do Governo, aguardaremos o futuro político de Sergipe, para que naturalmente, a justiça seja feita com todos os filhos e filhas do nosso município" —, não sem antes cometer o que pode ser o maior erro da sua apaixonada avaliação: "a decisão tomada pela população de Capela não terá qualquer efeito numa possível desistência da Vale nesse projeto. Nossa reserva é uma das três maiores da América Latina e altamente lucrativa para os projetos da empresa".

POIS NÃO SOMENTE CAPELA PERDERÁ, como todo o Sergipe e o Brasil, que tem no potássio um componente fundamental na produção do fertilizante e estratégico para a grandiosa produção agrícola nacional. O país importa hoje 90% do potássio de que necessita.

Quanto a Sergipe, perde imediatamente a possibilidade de gerar 4 mil empregos e de concretizar um investimento de 4 bilhões de dólares, metade dos quais a serem despendidos a partir do início do projeto. E quanto à Vale, pode ter que adiar um projeto que duplicaria a produção nacional de cloreto de potássio, hoje em menos de 700 mil toneladas/ano, mesmo depois de ter cedido à Petrobras a unidade de Araucária, operação para produção de nitrogenados, localizada no Paraná, em troca da exploração por 30 anos do solo onde se encontra a carnalita.
O projeto é tão importante para a Vale que foi apresentado pelo diretor-presidente da empresa, Murilo Ferreira, na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), durante o Vale Day 2013, no dia 2 de dezembro passado: "Na área de fertilizantes nossos esforços se concentram em Carnalita, Salitre, Bayóvar II e Kronau", disse, se referindo ao projeto sergipano e outros localizados fora do Brasil.
Mas o projeto carnalita não é tão importante que não possa ser novamente adiado. Afinal, o que representa Capela para uma gigante como a Vale?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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